LIVRO DE RESUMOS DA

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Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos

 

Coordenação:
José Pereira da Silva

 

Local da Realização:

Faculdade de Formação de Professores da UERJ

São Gonçalo (RJ), 4 de abril de 2008

 


 

A construção da irrealidade
em arengas judiciárias da latinidade clássica

Isabel Cristina de Oliveira Silva

 

A comunicação que apresentaremos tem por tema a construção da irrealidade em arengas judiciárias da latinidade clássica. Realizamos em um projeto de iniciação científica o levantamento do uso do subjuntivo em construções de orações subordinadas, e relacionamos o uso desses subjuntivos com o assunto da causa presente em cada um dos discursos relacionados no corpus de análise.

A escrita de memoriais de formação:
entrelaçando memórias, histórias
e narrativas docentes

Jacqueline de Fatima dos Santos Morais

 

A partir de fragmentos de escritas de memoriais de formação de professores do ensino fundamental e de alunos do curso de formação de professores da FFP, iremos discutir a importância da escrita da própria experiência como tempo-lugar de (auto)formação. Ao entrelaçar memórias e histórias (Benjamin), os textos autobiográficos produzidos vão dando pistas (Ginzburg) de que narrar o que se viveu provoca um movimento de reconhecimento e de autoconhecimento (Boaventura). Questões ligadas a identidade docente emergem destes textos memorialísticos dando sinais de que a formação da professora não se inicia no curso instituído, seja ele universitário ou de ensino médio, nem termina ao seu fim, quando do recebimento da certificação conferida.  As escritas de memoriais de formação são para nós objetos privilegiados de pesquisa pois permitem uma aproximação, através da narrativa da experiência (Larrosa), com a palavra do outro (Bakhtin).

A FORMAÇÃO  DE GENTÍLICOS COM O SUFIXO "-ISTA"

Nilsa Areán-García (USP)

 

Considerando que a característica semântica mais conhecida do sufixo -ista é a formação de nomes de agentes, o objetivo deste estudo é apresentar alguns aspectos da formação lexical no campo semântico de nomes gentílicos com o sufixo no português, com a finalidade de analisar de forma comparativa o seu estado atual de produtividade.

Para tanto, foi feito uma coletânea dos conceitos de gentílico e das classificações semânticas encontradas nas gramáticas da língua sobre o sufixo -ista. Posteriormente, foi feito um levantamento das palavras gentílicas formadas com o sufixo por meio de buscas em dicionários e corpora, das duas línguas. Ademais, foi feito um levantamento de ditas palavras em textos da "internet", para comparar e contrastar os seus usos, produções e relevância lexical em várias línguas e nas variedades da língua portuguesa encontradas em Angola, Brasil, Portugal e Moçambique.

Somente então, pôde-se inferir que a formação de nomes gentílicos com o sufixo -ista é uma característica tipicamente do português, ainda que tenha aparecido uma única ocorrência no castelhano e uma única no francês belga. Pôde-se inferir também que atualmente tal característica não é produtiva no português europeu como outrora já o foi, no entanto tem se mostrado produtiva no português brasileiro e no africano.


 

A linguagem escrita do pré-adolescente
uma avaliação técnico-lingüística
de redações de alunos de Volta Redonda-RJ

Joseph Ildefonso de Araujo

 

O objetivo do trabalho foi verificar o desempenho do pré-adolescente de 5ª série, já no segundo semestre do período letivo. Esse desempenho refere-se à grafia, apresentação física do trabalho de redação, ortografia e separação de sílaba. Pelo trabalho, vê-se como os alunos se comportam diante da palavra que estão escrevendo. O presente trabalho não faz uma  análise da estrutura frasal e das idéias dos alunos. Diante do que apresentaram, julgou-se impossível fazer uma análise da frase, por causa da desconexão da sua estrutura e do aparecimento de frases desconexas quanto às idéias. Regência, concordância e colocação são aspectos que foram relegados devido às incoerências e falta de recursos para interpretar o que os alunos escreviam. Mesmo a apresentação no papel do texto da redação, pode-se notar a falta de disciplina para escrever. No fim da linha, a palavra quase nunca recebe o hífen para a translineação, que, quando feita, não obedece a separação ortográfica da sílaba: um-a, min-ha, est-ava, etc. Há muito o que demonstrar no trabalho que foi realizado na década de 70 em escolas públicas da cidade de Volta Redonda, cidade metalúrgica de classe média com , na época, um bom poder aquisitivo mas empobrecida culturalmente. O trabalho incita a uma reflexão das raízes do problema da linguagem mal escrita dos jovens. Saber suas causas e buscar diretrizes no âmbito educacional do nosso país com o intuito de corrigir o problema.


 

A metáfora em questão:
uma análise semântico-estilística
das manchetes de revistas

Marcia de Oliveira Gomes

 

Processo de criação lexical e de estilo, a metáfora é um dos recursos
mais empregados na literatura, por vezes de forma expressiva, outras como mero ornamento. Tal fenômeno, entretanto, não é privilégio do meio literário, pois figura também na lingu> agem cotidiana.

Segundo Lakoff & Johnson (2002:45-6), "os conceitos que governam nosso pensamento não são meras questões do intelecto. Eles governam também a nossa atividade cotidiana até nos detalhes mais triviais. Eles estruturam o que percebemos, a maneira como > nos comportamos no mundo e o modo como nos relacionamos com outras pessoas. (...) então o modo como pensamos, o que experienciamos e o que fazemos todos os dias são uma questão de metáfora."

Um exemplo disso é o estilo jornalístico que embora não tenha um compromisso com a estética precisa chamar a atenção para a notícia valendo-se, assim, de mecanismos como a metáfora em suas manchetes. Desse modo, o presente trabalho visa a desenvolve> r uma análise semântico-estilística das construções metafóricas presentes nas manchetes de revistas.


 

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
– As Novidades

José Pereira da Silva (UERJ)

 

Desde 1990 que os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa assinaram o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, tendo havido um prolongamento extremamente inesperado para a sua implantação, previsto para 1994.

Hoje, depois da aprovação pelo Conselho de Ministros de Portugal, da publicação de dois dicionários já adaptados ao novo Acordo e com a compra dos livros didáticos e complementares pelo governo brasileiro em conformidade com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa para o ano letivo de 2010, faltava começarmos a atualização de nossos profissionais e estudantes para concretamente fazer valer esse Acordo que já está em vigor no Brasil desde o primeiro dia do ano passado.

Neste minicurso, será exposto principalmente o que mais nos interessa no momento, que são as novidades, aqueles itens em que a nova ortografia será diferente da que ainda utilizamos.

Para que o minicurso seja o mais produtivo possível, sugerimos que os interessados imprimam o texto do Acordo, que disponibilizamos na página http://www.filologia.org.br/acordo_ortografico.pdf.


 

Algumas considerações
sobre o uso estilístico dos sinais de pontuação

Jaqueline Nunes da Fonseca Cosendey

 

No que diz respeito à busca da expressividade, os usuários da língua contam com diversas ferramentas: variedade vocabular, múltiplas alternativas de ordenação de sentenças, inúmeras possibilidades de trabalho com os sons das palavras etc. Além disso, podem contar com um sistema de pontuação cujo uso pode resultar em expressividade.

Percorrer as possibilidades estilísticas do uso da pontuação é o objetivo deste trabalho. A partir de algumas passagens em que diversos autores da literatura brasileira usam a pontuação de forma expressiva, veremos como pode haver de fato potencial estilístico em seu uso.

Elementos prosódicos do poema 66 de Catulo

Maria Mendes Cantoni

 

Neste presente estudo, buscou-se analisar os aspectos prosódicos do poema 66 de Catulo. Caio Valério Catulo (57/54-87/84 a.C.) foi um célebre poeta latino que fez parte do círculo literário dos poetae noui (I a.C.). Esse movimento se caracterizou por uma ruptura formal e temática com a literatura romana tradicional, tendo sofrido enorme influência dos poetas gregos alexandrinistas, de quem herdou, em termos formais, o cultivo de uma poesia que primasse pelo labor limae: a intensa elaboração sintática e estilística, o vocabulário erudito, os metros sofisticados. O poema 66, um dos 116 poemas do escritor que chegaram até os dias de hoje, foi composto em dísticos elegíacos e pode ser classificado como poesia elegíaca de fundo mitológico. Construído a partir de um poema do grego Calímaco, enquadra-se muito bem dentro dos moldes da elegia alexandrinista. O tema central do poema 66 é a transformação dos cabelos da rainha egípcia Berenice II em uma constelação, a Coma Berenices. São apresentadas peculiaridades da escansão do texto latino, bem como da proposta de tradução para o português. Por fim, são tecidas algumas considerações a respeito da métrica do autor e dos recursos prosódicos empregados no poema, bem como das conseqüências do processo de tradução do latim para o português sobre o plano sonoro. Quanto à freqüência de uso dos pés (dátilos e espondeus) em cada posição do verso, observou-se uma distribuição equilibrada, não privilegiando um ritmo nem pronunciadamente mais ligeiro, nem mais grave, lento. Destaca-se a ampla utilização de recursos estilísticos, muitos deles relacionados ao plano sonoro, mas com reflexos no plano semântico: elisão, sinalefa, aférese, diérese, síncope, hiato, sinérese. São abordadas também algumas características do vocabulário do poema 66 com implicações na sonoridade, os arcaísmos e estrangeirismos.

ESCREVER E LER:
COMO SE APRENDE? COMO SE ENSINA?

Jacqueline de Fatima dos Santos Morais

 

Minha comunicação pretende trazer parte das investigações que tenho realizado no campo da alfabetização. A partir da análise de produções escritas de crianças na fase inicial da escrita, ou seja, crianças que freqüentam classes de alfabetização, iremos refletir sobre os limites e possibilidades do trabalho de pesquisa da argentina Emília Ferreiro, apontando os diferentes processos que aparentemente fogem das explicações da teoria da psicogênese da língua escrita. Em diálogo com autores como Geraldi, Smolka, Garcia e Morin, poderemos ampliar nosso olhar sobre esse processo, redimensionado a complexidade e singularidade de tornar-se leitor e escritos. Apesar de inúmeras pesquisas sobre os processos de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita terem sido produzidas especialmente ao longo desta última década, o grau de compreensão e domínio da leitura permanece baixo. Muitas parecem ser as causas deste que pode ser considerado um fracasso institucional. Uma dessas causas, e que aqui privilegiaremos durante a apresentação deste trabalho, se refere ao descompasso entre o que nós docentes sabemos sobre aquele que aprende e o que efetivamente acontece com o aprendiz em seu processo de apropriação do conhecimento. Em geral lidamos com o educando numa relação bancária, como há muito já havia denunciado Paulo Freire. As pesquisas mais recentes ligadas à alfabetização nos mostram que longe de se constituir como um sujeito passivo, as crianças pequenas se apropriam da leitura e da escrita em movimentos de ação e reflexão intensa, levantando hipóteses, checando-as, modificando-as ou confirmando-as.  Diferente do que temos acreditado, as crianças em início de alfabetização não seguem, em seu processo de apropriação da língua escrita, o modelo indicado pelas cartilhas. As crianças produzem significados muito próprios sobre como e o que se escreve. O trabalho de pesquisa de Ferreiro tem servido de base tanto para as discussões teóricas, quanto para a elaboração de pressupostos metodológicos do que ficou conhecido como alfabetização construtivista.


 

Escrita e reescrita de textos
por estudantes surdos

Luiz Cláudio da Costa Carvalho

 

Reflexões sobre o papel do texto literário (prosa, poema e drama), de outras maneiras de expressão artística (cinema, artes plásticas, artes cênicas...) e de formas escritas do cotidiano (cartas, postais, e-mails, notícias de periódicos...) como elementos facilitadores e motivadores para a escrita e reescrita de textos por alunos surdos.

Funcionalismo e Aquisição da Linguagem:
Uma relação possível

Dóris de Fátima Reis Mendes

 

O presente trabalho apresenta uma síntese do segundo capítulo da dissertação de mestrado intitulada A Aquisição dos Verbos Modais poder e dever no Português do Brasil  (Mendes, 2006), no qual  se propõe uma discussão sobre as possíveis relações entre as teorias de aquisição da linguagem e a teoria funcionalista e em que medida essas teorias se coadunam para a melhor compreensão do processo de aquisição da linguagem.O artigo faz um breve histórico das teorias de aquisição da linguagem e se concentra mais na teoria sociointeracionista de Vygostsky ( 2003) por considerar que é esta a que mais se concilia com os princípios funcionalistas de Halliday (1978), Dik(1989) e Hengeveld (2003) principalmente no que diz respeito a concepção de linguagem inerentes  a essas teorias. Ao final apresenta-se um quadro comparativo entre os teóricos e seus conceitos mais significativos em relação a aquisição da linguagem. A intenção é a de levantar uma discussão sobre uma possível contribuição da Teoria Funcional em estudos sobre a aquisição da linguagem e apontar as relações existentes entre as teorias apresentadas para um estudo desse processo.

INTERTEXTUALIDADE NO DISCURSO MIDIÁTICO

Mara Medeiros Cardoso

 

Este trabalho visa analisar, à luz dos estudos da lingüística textual, a intertextualidade nos textos da mídia. Acreditamos que o caráter dialógico da intertextualidade põe em relevo a concepção interacionista da língua e do texto. Além disso, a intertextualidade dá margem à multiplicidade de sentido, a uma série de implícitos dos mais variados tipos. Fato que instiga a atenção do interlocutor, promove a interação entre texto e leitor. E este último não é visto como um mero receptor, decodificador da mensagem, mas sim, um construtor de sentido. Além disso, acreditamos que a intertextualidade dá uma espécie de "status literário" aos textos.
O objetivo precípuo deste trabalho não é só apontar as marcas de intertextualidade, mas também mostrar como esse procedimento é utilizado para a construção do sentido do texto e para a concretização da proposta enunciativa do produtor e da orientação argumentativa do texto. Para isso, procuramos, por meio da leitura das diversas obras que versam sobre lingüística textual, construir um arcabouço teórico para fundamentar nossa análise, a fim de estreitar a tão desejada relação entre teoria e prática.


 

LINGUAGEM VULGAR: OFENSA OU BRINCADEIRA

Erika de Freitas Coachman

 

As convenções reguladoras da utilização de linguagem vulgar são entendidas como regras culturais que norteiam o comportamento dos indivíduos, de modo a viabilizar a convivência em grupo. Sendo assim, acredita-se que tais normas são indispensáveis para a organização social do comportamento daqueles envolvidos na interação, bem como para a interpretação daquilo que ocorre nesse mesmo encontro. Portanto, o emprego de vulgarismos, assim como quaisquer situações de fala, constituem atos socialmente organizados e regulados. Acredita-se que convenções de ordem sociocultural determinam a interpretação adequada para um dado uso lingüístico em um contexto específico. Ao teorizar acerca da brincadeira, Bateson (2002) mostra que um determinado gesto ou elocução pode ser entendido como brincadeira ou ofensa, motivando reações distintas dos demais interlocutores. Logo, os vulgarismos parecem não constituir um uso lingüístico engessado, podendo ser construídas interpretações diferentes a partir de sua utilização. A fim de verificar as normas reguladoras do uso de linguagem vulgar, foi realizado um estudo de caso com um aluno do curso de graduação em Letras. Os resultados obtidos apontam para a existência de convenções atreladas a temas como classe social e gênero.


 

O papel da repetição
no processamento do texto falada

Carmen Elena das Chagas (UFF)

 

Construir o texto falado é desenvolver-lhe o planejamento, na medida em que evolui o processo de reformulação. Com base nos pressupostos da Lingüística Textual e da Análise do Discurso, este trabalho objetiva investigar a estratégia de reformulação "Repetição" na construção do texto falado. O corpus para a pesquisa é proveniente de gravações face a face entre um documentador e falantes de faixa etária dos 14 aos 17 anos, de sexo diferenciado, de uma escola pública do município de Quissamã- RJ, visando, dessa forma, especificar como a Repetição estabelece uma fundamental estratégia no processamento do texto falado.

O Processo Discursivo da Restrição

Vanessa Barros de Lima

 

Apresenta-se, neste trabalho, um estudo sobre o processo da restrição, a partir de uma perspectiva discursiva. O estudo mostra-se importante, porque comprova não só a inserção de novas marcas lingüísticas com valor de restrição em textos jornalísticos como também o uso dessas marcas como estratégia argumentativa.
Pretende-se contribuir, a partir desta abordagem, para os estudos da Semântica da Enunciação a fim de compreender o uso das estratégias argumentativas pelo locutor por intermédio da restrição. Com essa finalidade, buscar-se-á estudar o assunto, mostrando que há inserção de novos conectores no quadro dos operadores restritivos.

Têm-se, como pressupostos teóricos, a Semiolingüística do Discurso, de Patrick Charaudeau (1992), e a Semântica Argumentativa, de Oswald Ducrot (1987).

Adotou-se, para esta pesquisa, o texto jornalístico, pois, representa o português padrão atual. Escolheram-se os gêneros editorial, artigo de opinião e crônica dos jornais O Globo e O Dia.

Além de representar o português padrão atual, a escolha pelos gêneros justifica-se, pois,  dentre os conectores restritivos, há aqueles que são considerados como usos típicos da língua oral, mas que estão se infiltrando em textos da língua escrita.

Constata-se que as novas marcas lingüísticas veiculam o valor de restrição tal como os operadores argumentativos, estudados por Ducrot, e apresentam o mesmo recurso discursivo. É pertinente, portanto, denominá-las de operadores restritivos não-canônicos.

Segundo a Semiolingüística do Discurso, de Charaudeau, constata-se que o contrato de comunicação e a variável classe social, a que o jornal se dirige, influenciam na ocorrência de operadores restritivos não-canônicos.

"O Segredo da Morta",
de António de Assis Júnior

Tereza Paula Alves Calzolari

 

Nossa exposição tem por objetivo discutir a relevância de se tomar por texto de base d' "O Segredo da Morta", do angolano António de Assis Júnior, sua primeira edição. Vindo à luz como folhetim no jornal A Vanguarda, em 1929, a obra ganha sua edição em livro através d' A Lusitânia, em 1935, e das Edições 70, em 1979.

A informação de que os periódicos constituíram desde cedo e por muito tempo uma das poucas fontes possíveis de publicação na África de Língua Portuguesa vem  reforçar a importância de se atentar para o veículo original, apesar do não acesso aos números d' A Vanguarda em que se veiculou a narrativa.

"O Segredo da Morta" constitui, o que confirmam os estudiosos das Literaturas Africanas, um marco no panorama literário desse país. Escrito num período de quase não literatura (1910 - 1940), o romance de Assis Júnior inaugura na ficção um olhar diverso do da literatura dita colonialista, que vigorava até então.

O Septenario Poetico
é mesmo de Laurindo Rabello?

Fábio Frohwein de Salles Moniz

 

A partir de 1867, o "Septenario Poetico", elegia à morte da Rainha Isabel, mãe da Imperatriz Teresa Cristina, passou a integrar a tradição de poemas atribuídos a Laurindo José da Silva Rabello (1826-1864). Eduardo de Sá Pereira de Castro incluiu o poema em sua compilação, a primeira editada após a morte do poeta, sem qualquer esclarecimento filológico.

Somente em 1880, detalhes da história textual do "Septenario" vieram pela primeira vez à tona. Lery Santos, no Pantheon Fluminense, informou que na época se publicou a elegia "como obra do célebre e famigerado poetaço Inácio José Ferreira Maranhense." Cerca de 100 anos depois, o problema reaparece em Antonio Candido, ao afirmar que o poema foi "feito de encomenda e publicado com nome de terceiro (...)."

Cristalizou-se, portanto, na tradição um dogma segundo o qual se julga Inácio Maranhense ter açambarcado a autoria do "Septenario Poetico", publicando-o indevidamente sob seu nome em 1849. Mas o exame acurado da técnica de versificação empregada no poema revela informações importantes, que podem inocentar o vilão da história.

O USO E A ORDEM DOS CLÍTICOS
EM REDAÇÕES ESCOLARES

Cristiane Jardim Fonseca (UERJ)

 

A colocação dos clíticos é uma questão geradora de muitas discussões no meio acadêmico, no tocante ao uso e à norma gramatical. Embora muitos estudos tenham sido realizados sobre o fenômeno lingüístico que ocorre com os pronomes átonos no Português do Brasil, ainda há muito a ser estudado, principalmente na modalidade escrita da língua.

Este trabalho objetiva demonstrar a ordem dos pronomes átonos nas produções textuais de estudantes da 4ª, 6ª e 8ª séries do ensino fundamental, a partir de uma amostra de 240 redações, recolhidas em escolas públicas e privadas do município de São Gonçalo, considerando um corpus de 265 ocorrências de clíticos em contextos com lexias verbais simples. Todas as análises foram fundamentadas nos pressupostos teóricos da Sociolingüística Variacionista promulgada por William Labov. Desta forma, o estudo pôde verificar os fatores lingüísticos e extralingüísticos que condicionam as variantes pré-verbal e pós-verbal, além da influência da escola no tocante ao ensino e aprendizado da colocação pronominal.

Procura-se, por meio deste estudo, contribuir para que as regras de colocação pronominal em nossas gramáticas escolares sejam reformuladas, atendendo a uma realidade mais coerente com o português do Brasil, assim permitindo uma convivência harmoniosa entre professor, norma e aprendiz.


 

Processamento de agrupamentos de advérbios

Mauro Simões de Santan

 

O presente estudo procura investigar em sentenças da língua portuguesa a existência de ordens fixas de advérbios através de experimento de leitura auto-monitorada. No experimento os sujeitos foram expostos a sentenças escritas em que ocorrem agrupamentos de advérbios. As duas ordens possíveis dos advérbios foram apresentadas a fim de se medir em miléssimos de segundos qual versão é lida mais rápida. Os dados revelaram preferência significativa dos leitores por uma determinada ordem. A conseqüência principal desse resultado é a possibilidade de se propôr uma nova análise sintática para os sintagmas adverbiais da língua portuguesa: como o adjunto não obedece, por princípio, à parâmentros de direcionalidade, caberia, portanto, aos sintagmas adverbiais a posição de especificador de projeção funcional, de acordo com as afirmações de Cinque (1999).

Propostas para edição e glossário
de um manuscrito militar do Século XVIII:
relações entre a Crítica Textual
e a Terminologia

Sandro Marcio Drumond Alves (UFMG)

 

A Crítica Textual tem como objetivo principal, segundo Cambraia (2005), a restituição da forma genuína dos textos. Um texto ao ser reproduzido, por muitas vezes, não condiz com o original. Isto quer dizer que a cópia, geralmente, contém traços que podem ter sido proporcionados de acordo com a visão de quem o copiou ou, até mesmo, por adaptações que lhe pareceram necessárias. Isso pode ocorrer, por exemplo, para tornar a mensagem mais clara ou para a correção de um suposto erro. As edições realizadas no âmbito da Crítica Textual tornam o texto acessível ao público leitor. Ainda que haja diversas formas de edição, já que nosso objeto de estudo é um manuscrito monotestemunhal, o objetivo deste trabalho é a realização de uma edição paleográfica de um Manual de Tática para militares de Infantaria do século XVIII e propostas metodológicas para a formulação do glossário relativo a essa fonte documental. O suporte teórico básico para a confecção da nossa proposta está centrado em Cambraia (2005) e Krieger & Finatto (2004).

SINTAXE ORACIONAL E CORRELAÇÃO

Ivo da Costa do Rosário (UERJ e UFF)

 

A tradição gramatical brasileira aponta a existência de apenas dois processos de estruturação sintática do período composto, a saber: coordenação e subordinação. A pesquisa teórica encetada em gramáticas anteriores à publicação da Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) e em gramáticas do espanhol corrobora a existência de um terceiro processo relativamente autônomo denominado correlação. Com o apoio em dados sincrônicos da língua portuguesa, nosso trabalho visa a apresentar argumentos que sustentem a possibilidade de postularmos a existência da correlação como um processo distinto dos demais já consagrados por nossos vernaculistas.


 

Sobre o Significado Lexical

Zinda Vasconcellos

 

A palestra proposta, destinada a alunos de graduação mas que pode interessar também a um público mais amplo, apresentará uma breve história de algumas visões teóricas a respeito do significado lingüístico e algumas questões recorrentes nessa história, focalizando especialmente a do caráter arbitrário ou (parcialmente) motivado da relação da linguagem com as situações do mundo, ou seja, a da existência ou não de alguma base "fundacional" para a representação lingüística. Tratará também do jogo dialético entre permanência e fluidez da significação das palavras, discutindo os vários tipos de fatores (sociais, psicológicos, intralingüísticos, discursivos, ou devidos à natureza das situações representadas) envolvidos nesse jogo, que se manifesta especialmente nas questões do porquê e como novos significados se criam, e de como é possível que os falantes entendam novos sentidos ainda não convencionalizados. Também serão apresentados alguns conceitos da Lingüística Cognitivista que sugerem respostas para essas questões, entre eles os de estruturas pré-conceituais (esquemas de imagem, categorias de nível básico e transformações de esquemas de imagem), de categorias radiais e de princípios cognitivos de motivação. Depois, a palestra passará a discutir o que os resultados de uma análise lexical detalhada efetuada pela autora revelam sobre as questões em pauta, mostrando, por um lado, a justeza das idéias da Lingüística Cognitivista, mas também apontando para outros tipos de fatores que deveriam complementá-las. Em particular a palestra aponta para a importância do papel representado pelo conhecimento de mundo, o dito conhecimento "extralingüístico", na constituição do significado lexical, e para a existência de um processo histórico de construção de significações que ocorre paulatinamente no intercurso social dentro de uma sociedade e de uma dadas, o qual, ao invés de refletir um sistema conceitual prévio, cria na verdade o sistema conceitual, sempre ultrapassando o já conceituado e criando novos conceitos.

Transformações da ecdótica
com o advento da edição eletrônica

Raquel Cardoso de Castro

 

Esse trabalho tem por objetivo apresentar algumas considerações acerca do que se modificou na arte ecdótica, a arte e técnica de corrigir um documento escrito, com advento de equipamentos computacionais e programas especializados em edição de textos. Isto é, o quanto esta nova forma de edição eletrônica transformou o habitus (na acepção de Pierre Bourdieu) do editor? Para tanto, neste texto, discuto o estado atual da ecdótica, tentando mapear alguns dos programas livres (freesoftwares) empregados em tal atividade, como: openoffice (para editar o texto), gimp (para editar as imagens), inkspace (para criação de ilustrações), scribus (para diagramação), pdfcreator (para fechamento do arquivo) e, com isso, os novos processos envolvidos, as estratégias e dificuldades encontrados.

 

Usos e abusos de uma categoria científica

Gustavo Saldanha (BNRJ)

 

A chamada Ciência da Informação atualmente designa um conjunto de experiências, práticas e teorias em torno da organização, da representação e da gestão da informação. Institucionalizada a partir de meados do século XX, esta área de pesquisa se aproximou de diferentes campos dentro da árvore do conhecimento. Por isso, pode ocorrer, conforme o centro de pesquisa ou universidade, mais próxima ao ramo das ciências exatas, das ciências da administração, das ciências sociais ou, ainda, das ciências humanas. Diante dessa presença ampla e, por vezes, contraditória, dentro da ciência contemporânea, os significados do neologismo "ciência da informação", criado entre as décadas de 1950 e 1960, podem ultrapassar as possibilidades de compreensão coerente, dentro do âmbito epistemológico e social. Os usos deste termo têm, em determinados momentos, causado grandes dificuldades teóricas e práticas, como também, conduzido a uma outra proliferação de neologismos para justificar uma nova área, a partir de novos termos. Propomos, neste trabalho, uma revisão crítica dos usos e repercussões semânticas do termo dentro da árvore do conhecimento atual, observando, através de uma filosofia da linguagem, as limitações e incongruências da noção de "ciência da informação".

Visualidade e montagem
nas escrituras de Sérgio Sant´Anna
e João Gilberto NolL

Maria Isaura Rodrigues Pinto (UERJ)

 

A presente pesquisa tem o propósito de examinar e caracterizar as escrituras de Sérgio Sant'Anna e João Gilberto Noll  em relação às projeções da cultura de massa na contemporaneidade. A partir de procedimentos intertextuais de leitura, observam-se as estratégias utilizadas pelas escrituras na transformação da linguagem romanesca em expediente visual híbrido, cujo princípio constitutivo é a técnica de colagem/ montagem de diferentes ordens discursivas que, ao se imbricarem, relativizam as diferenças entre texto literário e artes audiovisuais.

Observação: Gostaria de fazer a apresentação da pesquisa no turno da manhã, não muito cedo. Muito obrigada, Professor José Pereira. Abraços