TRANSITIVIDADE E OS PLANOS DISCURSIVOS
FIGURA E FUNDO
NAS ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS MODAIS

Anderson Godinho Silva (UFRJ)

 

Introdução

Apresenta-se, neste trabalho, uma descrição das orações subordinadas adverbiais modais reduzidas de gerúndio e reduzidas de infinitivo. Tal descrição justifica-se pelo fato de alguns autores como Hopper e Thompson (1980) e Silveira (1990) considerarem que as formas nominais citadas e a circunstância de modo conferem às cláusulas em que se encontram um grau de transitividade baixo e um papel discursivo de fundo.

A fim de detectar i) se as modais apresentam diversos graus de transitividade; ii) se há um tipo de reduzida que apresenta um grau maior de transitividade; iii) se há a possibilidade de se propor diferentes níveis de fundidade para as modais; iv) se os tipos semânticos dos verbos das orações em questão influenciam na transitividade e v) se há um parâmetro específico da transitividade que é mais responsável pelas diferenças de comportamento entre os tipos de orações reduzidas, estabeleceu-se um corpus constituído por anúncios, editoriais e notícias dos séculos XIX e XX retirados do corpus VARPORT (Projeto de Variação Contrastiva do Português) referentes ao Português do Brasil. Adota-se, neste trabalho, uma visão funcionalista, em que a língua é observada no seu uso real.

 

Revisão bibliográfica

Transitividade por Hopper e Thompson (1980)

Hopper e Thompson (1980) discutem a noção de transitividade, que é tão presente nas gramáticas tradicionais. A visão adotada pelos autores difere significativamente da tradicional. Esta associa o termo apenas a verbos enquanto que aquela considera não só o verbo presente em uma sentença, mas também todos os outros termos que a compõem. Tradicionalmente, têm-se verbos transitivos, os que são complementados com objeto, e verbos intransitivos, os que não precisam de complementação. Dessa forma, os verbos que são agrupados em transitivos são tratados como se fossem iguais, isto é, da mesma natureza, o que não é verificado no uso real da língua. De acordo com Hopper e Thompson (1980), a transitividade envolve a efetividade com a qual uma ação se dá. Quanto mais efetiva a ação, mais transitiva é a sentença. Para esses autores, a transitividade envolve um número de componentes, em que apenas um deles é a presença de um objeto do verbo. Os objetivos desses autores são i) mostrar que a transitividade é uma relação crucial na língua, tendo um número de conseqüências previsíveis universalmente na gramática e ii) mostrar que as propriedades que definem a transitividade são determinadas discursivamente. O termo “transitividade” é utilizado porque trata de uma ação que “transita” do agente para o paciente e, por isso, quanto mais trânsito, mais transitiva será a sentença. Os componentes considerados por Hopper e Thompson (1980) são os apresentados na tabela 1.

 

Quadro 1:
Componentes considerados em relação à Transitividade por Hopper e Thompson

COMPONENTES

ALTA TRANSITIVIDADE

BAIXA TRANSITIVIDADE

Participantes

2 ou mais (Agente e Objeto)

Um

Cinese

Ação

Não-ação (estado)

Aspecto

télico

Atélico

Punctualidade

pontual

Não-pontual

Volitividade

proposital

Não-proposital

Polaridade

Afirmativa

Negativa

Modalidade

Realis

Irrealis

Agentividade

Mais agente

Menos agente

Afetamento do Objeto

Objeto totalmente afetado

Objeto parcialmente afetado

Individualização do Objeto

Objeto muito individualizado

Objeto não-individualizado

Para os autores, em relação aos participantes, só se pode ter a transferência de uma ação se houver pelo menos dois participantes. Em relação à cinese, ações podem ser transferidas de um participante para outro, enquanto que estados não. Em relação ao aspecto, uma ação é mais efetivamente transferida quando é vista como completa do que quando está em progresso. Em relação à punctualidade, ações que se dão sem uma fase de transição são mais efetivas que as que envolvem uma duração maior. Dessa maneira, um verbo como “chutar” é punctual e um verbo como “carregar” não é punctual. Em relação à volitividade, quando o agente tem o propósito de fazer algo, a ação se dá mais efetivamente do que quando não há uma intenção definida. Em relação à polaridade, sentenças afirmativas indicam que as ações de fato ocorreram, enquanto que sentenças negativas indicam que as ações não se efetivaram. Em relação à modalidade, uma ação que não ocorreu ou que é possível de ocorrer é menos efetiva que uma que ocorreu ou que corresponde a um evento real. Em relação à agentividade, um participante que é mais ativo pode transferir uma ação mais efetivamente que um participante não tão ativo assim. Em relação ao afetamento do objeto, uma ação é transferida num grau maior se o objeto é afetado completamente do que se ele é parcialmente afetado. Em relação à individualização do objeto, Hopper e Thompson (1980) consideram os fatores presentes na tabela 2.

 

Quadro 2:
Fatores considerados na Individualização do Objeto por Hopper e Thompson.

Individualizado

Não-individualizado

Próprio

Comum

Humano, animado

Inanimado

Concreto

Abstrato

Singular

Plural

Contável

Incontável

Determinado, específico

Não-determinado

Os autores relacionam a transitividade com as partes do discurso figura e fundo e comentam que estas devem ser analisadas a partir de um conjunto de propriedades, e não de uma só. Os autores afirmam que essas propriedades são as mesmas que caracterizam alta e baixa transitividade. Uma cláusula recebe uma interpretação como figura ou como fundo proporcionalmente à escala que recebe de transitividade. Num estudo feito pelos autores, cláusulas-figura apresentaram uma média 8 de transitividade, enquanto que cláusulas-fundo apresentaram uma média 4.1 de transitividade, numa escala de 0 a 10.


 

Transitividade por Silveira (1990)

Silveira (1990) redefine o conceito de transitividade proposto por Hopper e Thompson (1980) considerando-a “como uma propriedade discursiva relacionada à efetividade de realização de uma situação” (Silveira,1990:113). Além disso, a autora reestrutura a pontuação dada por Hopper e Thompson (1980) a cada parâmetro. Enquanto estes atribuem apenas as pontuações zero e um, aquela considera as dimensões eneárias, e não binárias, e determina escalas com amplitude de zero a cinco. Isto foi feito principalmente pela necessidade sentida pela autora diante do corpus analisado por ela, que é constituído de narrativas orais. Os parâmetros Punctualidade e Modalidade foram desmembrados em três níveis (0, 2.5 e 5) e o parâmetro Aspecto continuou com marcação binária (0 e 5).

A autora eliminou o parâmetro polaridade e, para isso, baseou-se em Martelotta (1986), que afirmou que “a negação de uma situação corresponde, equivalentemente, à afirmação de uma outra” (Silveira,1990:124). Além disso, Silveira (1990) optou por unir os parâmetros Agentividade e Individualização do Objeto em um único parâmetro: Individualização do Agente/ Individualização do Objeto por considerar difícil identificar o que é baixa e o que é alta atividade do sujeito. A autora, então, afirma que o agente e o objeto têm participação igual e que a relação entre eles explicita melhor a efetividade da realização de uma situação.

Com essa redefinição dos parâmetros da transitividade, Silveira (1990) aplica a nova pontuação a cláusulas de narrativas orais e compara com a pontuação atribuída por Hopper e Thompson (1980).

 

Análise do corpus

Descrição do corpus

No corpus analisado, composto por três gêneros textuais diferentes, foram consideradas 36 orações modais, sendo 18 reduzidas de gerúndio e 18 reduzidas de infinitivo. Um número equivalente entre esses dois tipos de oração permite uma melhor comparação e um resultado mais coerente. Foram lidos 11 editoriais, 12 anúncios e 13 notícias. Essa comparação parece ser importante, pois permite uma melhor visualização do comportamento das orações em estudo de acordo com a forma em que se apresentam.

 

Distribuição das modais pela transitividade

Pôde-se perceber que essas orações apresentaram diversos graus de transitividade, o que é possível de se relacionar com os conceitos de figura e fundo. Foi possível observar que houve desde modais com grau de transitividade 0 até um caso com transitividade 7, o que é considerado alto. Na tabela 1, podem-se encontrar os diferentes graus de transitividade distribuídos pelas 36 orações analisadas.

 

Tabela 1: Distribuição das modais pelos graus de transitividade.

Transitividade

Número de Orações

0

2 (5,6%)

1

4 (11,1%)

2

6 (16,6%)

3

8 (22,2%)

4

10 (27,8%)

5

2 (5,6%)

6

3 (8,3%)

7

1 (2,8%)

Total

36 (100%)

 

Um exemplo de modal com grau 7 é o seguinte:

a. No silencio da prisão, diz a Gazeta dos Tribunaes, Clementina ouvia de continuo os ultimos gritos de sua desditosa mãi, e quando chegava a noite, seu cadaver ensanguentado se lhe apresentava diante dos olhos, [accusando-a da sua morte]. (E-B-81-JN-022)

Apesar de se tratar de um cadáver, o agente, aqui, foi visto como capaz de exercer uma ação, já que representa o que Clementina realmente sentiu. Feita essa consideração, os parâmetros foram analisados da seguinte maneira: Participantes (1), pois há dois participantes-o cadáver e Clementina; Cinese (1), pois o verbo “acusar” é um verbo de ação; Aspecto (0), pois a forma verbal é o gerúndio e não se refere a uma ação completa; Punctualidade (0), pois o ato de acusar não é punctual, mas sim um processo que tem uma certa duração; Volitividade (1), pois, apesar de se tratar de um cadáver, pensa-se que ele acusou por vontade própria; Polaridade (1), pois a cláusula é afirmativa; Modalidade (0), pois o verbo não se encontra no modo Indicativo; Agentividade (1), pois o agente é humano, apesar de ser cadáver, e tem um potencial forte para exercer a ação de acusar; Individualização do Objeto (1), pois “Clementina”, representada pelo pronome pessoal oblíquo “a” possui os traços i)próprio, ii)humano, iii) concreto, iv) singular e v) referencial/definido e Afetamento do Objeto (1), pois Clementina foi totalmente afetada pela acusação do cadáver.

Um exemplo de modal com grau 0 é o seguinte:

b. Finalmente que tem por muito reccomendado que não consintam nos pulpitos discursos que não tenham o caracter exclusivamente evangelico e circunscriptos aos assumptos de que os oradores sagrados podem occupar-se, e que procedam de forma que sempre tenham bem presente o estado melindroso a que chegou a igreja, pelos erros daquelle que melhores catholicos se dizem, os quaes a cada passo, provocam novos conflictos [sem se lembrarem do] que era a igreja no seculo XVI e o que é hoje. (E-B-83-JN-009)

Um exemplo de modal com grau 4 de transitividade é o seguinte:

c. [Cantando] espalharei por toda parte. Fazendas, modas e roupas brancas. (E-B-83-JA-016)

Os parâmetros que receberam pontuação 1 foram: Cinese, Volitividade, Polaridade e Agentividade.

A partir do resultado obtido na tabela 1, pode-se dividir as modais em três grupos, considerando níveis de fundidade: Grupo 1 (Fundidade Máxima): são as modais que se afastam mais do plano da figura. Elas recebem graus 0, 1 e 2 de transitividade; Grupo 2 (Fundidade Intermediária): são as modais que se aproximam um pouco mais do plano da figura, mas ainda carregam um grau intermediário de transitividade. Elas recebem graus 3 e 4 de transitividade e são as que ocorrem com mais freqüência e Grupo 3 (Fundidade Mínima): são as modais que se aproximam mais do plano da figura. Elas recebem graus 5, 6 e 7 de transitividade e não são tão freqüentes.


 

Comparação da transitividade
em modais reduzidas de infinitivo e de gerúndio

Para que a comparação fosse feita de uma forma adequada e coerente, foi necessário analisar um número igual de modais reduzidas de infinitivo e de gerúndio. Portanto, foram consideradas 18 modais com o verbo no infinitivo e 18 modais com o verbo no gerúndio. Pretende-se verificar se um dos tipos de modais mencionados, de uma forma geral, apresenta graus de transitividade maiores e, conseqüentemente, se aproximam mais do plano da figura. Para isso, foram contabilizados os graus de transitividade de cada oração analisada e foi feita a divisão entre reduzidas de gerúndio e reduzidas de infinitivo. O resultado pode ser encontrado na tabela 2, em que na horizontal, encontram-se os números das modais com verbos no infinitivo e no gerúndio e, na vertical, os graus de transitividade. Na parte de baixo, é mostrado o total de orações, tanto com verbo no infinitivo como com verbo no gerúndio.

 

Tabela 2: Distribuição da transitividade em relação ao tipo de modal reduzida.

Transitividade

Reduzidas de GERÚNDIO

Reduzidas de INFINITIVO

0

0 (0%)

2 (11,1%)

1

0 (0%)

4 (22,2%)

2

1 (5,6%)

4 (22,2%)

3

6 (33,3%)

3 (16,7%)

4

6 (33,3%)

4 (22,2%)

5

2 (11,1%)

0 (0%)

6

2 (11,1%)

1 (5,6%)

7

1 (5,6 %)

0 (0%)

TOTAL

18 (100%)

18 (100%)

 

Pela tabela 2, pode-se perceber que, dentre as reduzidas de gerúndio, as mais freqüentes apresentaram graus 3 e 4 de transitividade, o que equivale ao grupo 2, isto é, se encontram num nível de fundidade intermediária. Dentre as reduzidas de infinitivo, as mais freqüentes apresentaram graus 1 e 2 de transitividade, o que equivale ao grupo 1, isto é, se encontram num nível de fundidade máxima e grau 4 de transitividade, o que equivale ao grupo 2, isto é, se encontram num nível de fundidade intermediária.

Por esse resultado, pode-se perceber que, apesar de o número de dados ser pequeno, de um modo geral, as reduzidas de gerúndio apresentaram um grau de transitividade ligeiramente maior que as reduzidas de infinitivo e, conseqüentemente, pertenceram a um grupo equivalente a um nível de fundidade um pouco menor, aproximando-se mais do plano da figura.

 

Transitividade e tipos semânticos de verbo

Nesta seção, o fator a ser observado é o tipo de verbo. Para isso, foram levados em consideração os tipos semânticos de verbo propostos por Halliday (1994), baseados em três experiências humanas: ser, sentir e fazer. As categorias são as seguintes: cognitivo, existencial, sensitivo, material, perceptivo, relacional e verbal. Além desses sete tipos de verbo, foram considerados o corpóreo, proposto por Dixon (1991) e o possessivo / relacional, que surgiu durante a análise dos dados feita por Scheibman (2001). Os tipos semânticos se referem ao verbo principal. Portanto, se um verbo modal ou auxiliar for utilizado, o que será analisado semanticamente não é ele, mas sim o verbo principal a ele associado. Na tabela 5, são encontrados alguns exemplos de verbos para ilustrar os tipos semânticos verbais utilizados.

 

Quadro 3: Tipos semânticos verbais.

TIPOS SEMÂNTICOS DE VERBO

EXEMPLOS

Cognitivo

Presumir, saber, entender

Corpóreo

Repousar, fumar

Existencial

Acontecer, estar, haver

Sensitivo

Prezar, sofrer, querer

Material

Fazer, ir, proceder

Perceptivo

Verificar, ver

Possessivo/Relacional

Ter, conter, conseguir

Relacional

Ser, tornar-se

Verbal

Dizer

As 36 orações analisadas foram divididas, de acordo com o tipo semântico de verbo, da seguinte maneira: dentre as reduzidas de gerúndio, foram analisadas 7 com o tipo material, 3 com o tipo verbal, 3 com o tipo corpóreo, 3 com o tipo possessivo/relacional e 2 com o tipo perceptivo; dentre as reduzidas de infinitivo foram analisadas 9 com o tipo material, 1 com o tipo verbal, 1 com o tipo corpóreo, 2 com o tipo possessivo/relacional, 1 com o tipo perceptivo, 1 com o tipo sensitivo, 1 com o tipo cognitivo e 1 com o tipo relacional. Os três últimos tipos não permitem uma comparação entre as modalidades de reduzida por não serem considerados nas reduzidas de gerúndio.

De um modo geral, todos os verbos estão associados a um grau de transitividade intermediário. O resultado obtido pode ser entendido porque os verbos dos tipos perceptivo, sensitivo, cognitivo e relacional não estão associados a uma ação efetiva, mas sim aos sentidos (sensitivo), à percepção (perceptivo), ao pensamento (cognitivo) e a um determinado estado (relacional). Dessa forma, ocorrem com grau de transitividade baixo. O fato de não estar associado a uma ação efetiva influencia nos outros parâmetros considerados no cálculo da transitividade. Por exemplo, se não há uma ação efetiva, conseqüentemente, não há um agente com potência forte, não há verbos de movimento e não há um objeto totalmente afetado.

Como o número de dados é muito pequeno, não é possível se fazer uma generalização, mas pôde-se perceber que as cláusulas com verbo no gerúndio e dos tipos material, verbal, possessivo/relacional e perceptivo apresentaram graus maiores de transitividade do que as cláusulas com verbo no infinitivo. Em relação ao tipo corpóreo de verbo, não se percebe muita diferença entre as duas modalidades de cláusulas reduzidas no que tange à transitividade. Pode-se dizer, portanto, que já aparecem algumas diferenças entre as cláusulas reduzidas de gerúndio e de infinitivo no que tange à transitividade e aos tipos semânticos de verbo. Resta saber se há algum parâmetro específico que exerce maior influência nas diferenças entre as duas modalidades de cláusulas reduzidas no que diz respeito à transitividade.

 

Influência dos parâmetros na transitividade
das modais reduzidas de infinitivo e de gerúndio

A fim de detectar se um ou mais parâmetros exercem maior influência neste resultado, foi feita uma comparação entre cada parâmetro considerado no cálculo da transitividade referentes às modalidades de cláusulas estudadas. De acordo com Hopper e Thompson (1980), cada parâmetro recebe grau 0 ou 1. Portanto, no que se refere às modais, foram contabilizados todos os dados em que cada parâmetro recebeu grau 0 e grau 1 e estes dados foram separados em relação às cláusulas com verbos no infinitivo e às cláusulas com verbos no gerúndio.

Pôde-se concluir que, no corpus analisado, os parâmetros Participantes, Aspecto e Modalidade não podem servir como diferencial entre os tipos de cláusulas analisados, pois houve coincidência nos valores atribuídos a eles. Os parâmetros Cinese e Individualização do Objeto também não podem exercer grande influência na transitividade das cláusulas em estudo, pois os valores são semelhantes. O parâmetro Punctualidade serviria para constatar um resultado contrário do que foi obtido, pois as ocorrências de reduzidas de infinitivo com grau 1 referente a esse parâmetro foram maiores que as de reduzidas de gerúndio. Entretanto, não se pode analisar um parâmetro isoladamente. Portanto, Punctualidade não serve como contribuidor para uma maior transitividade das reduzidas de gerúndio. O parâmetro que parece ser mais influenciador no resultado observado é Polaridade, pois as reduzidas de gerúndio apresentaram grau 1 em sua totalidade e as reduzidas de infinitivo apresentaram grau 0 em sua totalidade. O segundo parâmetro que pode também ter influenciado é Afetamento do Objeto, pois todas as cláusulas reduzidas de infinitivo apresentaram grau 0, enquanto que algumas cláusulas reduzidas de gerúndio apresentaram grau 1. Há outros dois parâmetros que podem ter influenciado para o resultado obtido, apesar de não ter havido grande diferença se comparadas as modalidades de reduzidas. Esses parâmetros são Volitividade e Agentividade. Em relação ao primeiro, a maioria das cláusulas reduzidas de gerúndio apresentou grau 1 e a maioria das cláusulas reduzidas de infinitivo apresentou grau 0; em relação ao segundo, a maioria das cláusulas reduzidas de gerúndio apresentou grau 1, enquanto que houve um número igual de reduzidas de infinitivo com grau 0 e com grau 1.

Com isso, pode-se dizer que, de um modo geral, as modais reduzidas de gerúndio, no corpus analisado, apresentaram grau maior de transitividade do que as modais reduzidas de infinitivo, estando mais próximas, portanto, do plano da figura. Parece que os parâmetros que mais contribuíram para esse resultado foram: Polaridade, Afetamento do Objeto, Volitividade e Agentividade.

 

Conclusão

Pôde-se perceber, neste trabalho, que, apesar de alguns autores como Hopper e Thompson (1980) e Silveira (1990) comentarem que o gerúndio e a circunstância de modo geralmente funcionam como fundo numa narrativa, as orações subordinadas adverbiais modais reduzidas de infinitivo e de gerúndio não apresentam um comportamento tão homogêneo assim. Foi possível observar que essas orações apresentaram diferentes graus de transitividade, o que, de certa forma, pode influenciar no papel discursivo como figura ou como fundo. As orações estudadas podem ser organizadas em três grupos diferentes no que tange à transitividade: Grupo 1 (graus 0, 1 e 2), Grupo 2 (graus 3 e 4) e Grupo 3 (graus 5, 6 e 7). O grupo 1 representa um nível de Fundidade Máxima; o grupo 2 representa um nível de Fundidade Intermediária e o grupo 3 representa um nível de Fundidade Mínima.

Constatou-se que as reduzidas de gerúndio obtiveram um grau ligeiramente maior de transitividade do que as reduzidas de infinitivo. No que tange aos tipos semânticos de verbo, de um modo geral, todos ocorreram com graus intermediários de transitividade e o tipo material também ocorreu com um grau alto de transitividade (6). Fazendo-se uma comparação entre as reduzidas de gerúndio e as reduzidas de infinitivo no que tange aos tipos semânticos de verbo, as primeiras apresentaram graus maiores de transitividade do que as segundas quando os verbos eram dos tipos material, verbal, possessivo/relacional e perceptivo.

Constatou-se que os parâmetros que puderam influenciar mais para as reduzidas de gerúndio obterem um grau ligeiramente maior que as reduzidas de infinitivo foram: Polaridade, Afetamento do Objeto, Volitividade e Agentividade.


 

Referências bibliográficas

DECAT, Maria Beatriz Nascimento. Capítulo 3. A articulação hipotática adverbial no português em uso. In: Aspectos da gramática do português: uma abordagem funcionalista. Mercado de Letras, 2001.

HOPPER, Paul J. & THOMPSON, Sandra A. Transitivity in Grammar and Discourse. In: Language, Volume 56, number 2, 1980.

SCHEIBMAN, Joanne. Local patterns of subjectivity in person and verb type in American English conversation. In: Bybee & Hopper. Frequency and the emergence of linguistic structure. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins, 2001.

SILVEIRA, Elisabeth Santos da. Relevância em narratives orais. Tese de Doutorado em Lingüística apresentada à Coordenação dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1990.

VOTRE, Sebastião Josué & NARO, Anthony Julius. Mecanismos Funcionais do Uso da Língua. In: D.E.L.T.A., Vol.5, nº 2, 1989.