A intertextualidade na construção de sentido
de textos acadêmicos

Aparecida Cardoso Santos (UERJ)
aparecida.cardoso@yahoo.it / cidacardoso@uerj.br

 

Introdução

Maria

Existem várias concepções de texto que servem de base às pesquisas em Lingüística Textual cujo objeto central de estudo é o texto e a construção de seu sentido.

Diante de tal variedade, e a exemplo do que faz Koch (2004: XII), que enumera oito concepções de texto, tomo duas concepções que considero como sendo fundamentais para o entendimento do processo de produção do texto acadêmico (TA). São elas:

·         A concepção de texto como processo que mobiliza operações e processos cognitivos (concepção de base cognitivista).

·         Texto como lugar de interação entre atores sociais e de construção interacional de sentidos (concepção de base sociocognitiva-interacional)

A relevância dessas duas concepções advém de pelo menos duas características do texto acadêmico às quais encontram-se vinculadas, quais sejam o modo de elaboração do TA e o seu caráter direcionado.

O modo de produção, que pressupões processo, vincula-se ao modo pelo qual esse tipo de texto é concebido e desenvolvido segundo orientações particulares. Já o caráter direcionado, que pressupões a interação entre atores sociais bem como a construção interacional de sentido, revela-se exatamente na expectativa da presença de marcas textuais pertinentes ao TA, uma das quais é a sua função interpessoal da linguagem dentro da qual está a intertextualidade, nosso objeto de análise.

Com efeito, o interesse pela intertextualidade advém do fato de que ela é, por excelência, um dos mecanismos garantidores do sentido do TA atuando de modo fundamental para a construção do mesmo, sobretudo por uma sua característica peculiar que é a de permitir e estabelecer o diálogo entre os argumentos apresentados e as fontes que lhes servem de fundamento.

O referencial teórico de que se lança mão no presente trabalho encontra suas fontes nos seguintes autores: Koch e Travaglia (1997), Val (19997), Vigner (1997), Koch (1998), Valente (2001), Charaudeau e Maingueneau (2004) e Koch (2004). Tais autores, em momentos diversos e por motivos variados, estudam a intertextualidade e apontam-na como um dos cinco fatores pragmáticos da textualidade, os quais, centrados mais no usuário do que no texto, garantem a construção do sentido textual ao lado da coesão e da coerência (aspectos fundamentalmente centrados na estrutura textual).

Ao lado do referencial teórico, e no sentido de embasar de maneira prática nossa argumentação teórica, tomamos como corpus um texto científico sob a forma mais tradicional de artigo acadêmico que é o gênero de maior prestígio dentro da comunidade acadêmica, ambiente ao qual sua circulação encontra-se circunscrita e espaço no qual seu valor é atestado mediante leitura e uso.

Para uma maior compreensão da especificidade desse tipo de texto, convém situar seu foco de atenção como sendo, mais do que uma experiência individual, um processo social e, portanto, imbuído de visão social. Em outras palavras, o TA, embora oriundo de reflexões pessoais de um autor-pesquisador acerca de determinado tema, se expande para além de possíveis questionamentos pessoais para atingir a toda uma comunidade (a comunidade acadêmica), visando sempre que possível a uma aplicação com resultados práticos para a sociedade (visão social). Neste sentido, e de acordo com Motta-Roth (1999), a visão social de que se fala acima,

Origina-se a partir de várias tradições disciplinares (sociologia da ciência, etnografia, marxismo, por exemplo) e concebe linguagem humana sob a perspectiva da sociedade e não do indivíduo tomado isoladamente. Assim, o foco de uma visão social de redação está na maneira como o indivíduo se constitui como membro de uma matriz cultural (ver, por exemplo, Meurer 1997, sobre modelo de produção textual). Nessa visão social do processo de redação, qualquer escritura está intimamente ligada ou é interdependente de quaisquer outros textos prévios.

Acredito que esta é a visão que melhor se adequa ao tipo de texto em tela porque dá conta “das práticas discursivas da academia enquanto comunidade com valores culturais próprios” (Kuhn, 1970, apud Motta-Roth, 1999).

 

Concepções teóricas

Feitas as considerações anteriores, passo agora a enumerar o que os estudiosos constituintes do referencial teórico dizem a respeito da intertextualidade. Após este procedimento, farei a proposta de uma terminologia que julgo mais pertinente à análise da intertextualidade no TA.

De acordo com Koch e Travaglia (1997), em consonância com os estudos de Beaugrande e Dressler, a intertextualidade engloba os vários modos pelos quais o conhecimento de outros textos permite ao interlocutor compreender um determinado texto. Em outras palavras, a intertextualidade “diz respeito aos fatores que tornam a utilização de um texto dependente de um ou mais textos previamente existentes” (p. 88).

De acordo com os autores, a diversidade de modos marcados pela intertextualidade envolve fatores atinentes a três esferas relacionadas ao conteúdo, à forma e á tipologia textual.

A esfera do conteúdo vincula-se ao conhecimento de mundo, que permite ao interlocutor o acesso a informações que dependem de um conhecimento prévio que permita economia de tempo no atingimento do conteúdo uma vez que torna dispensáveis explicações acerca do tema desenvolvido bem como a respeito de jargões, vocabulário técnico, enfim, de termos próprios de uma determinada área. A esfera da forma, por seu turno, refere-se à forma de um texto que remete a uma outra forma textual que lhe seja semelhante e que já esteja consagrada no imaginário dos leitores. A forma pode ou não estar vinculada à terceira esfera que abrange a tipologia textual. A tipologia textual pode estar vinculada tanto à estrutura típica de cada tipo de texto quanto aos aspectos formais de caráter lingüístico, igualmente variáveis segundo cada tipo de texto. Em outras palavras, sabe-se que cada texto possui estruturas formais e usos lingüísticos particulares de acordo com a área a que a produção textual esteja vinculada. Afinal, “para que um texto seja bem compreendido e visto como coerente, é preciso que apresente certas características próprias do tipo de texto do qual ele é apresentado como sendo um exemplar” (Koch e Travaglia, 1997: 92).

Koch (2004), em obra dedicada à Lingüística Textual(LT), postula que a intertextualidade é um objeto de estudo que muito tem despertado o interesse da LT associando-a de certo modo à noção de polifonia no que ambas têm da presença inevitável do outro na produção do discurso. Para a autora, a intertextualidade pode ser de dois tipos: explícita ou implícita.

O primeiro tipo – intertextualidade explícita – consiste na referência direta e aberta à fonte do intertexto. Como exemplo, tem-se a presença de citações sempre muito presentes em textos acadêmicos as quais são tomadas como ratificações ou justificativas para a apresentação de uma determinada teoria ou de um determinado ponto de vista a partir de um discurso particular e articulado no sentido de transmitir idéias e hipóteses de forma a atrair a confiança do leitor mediante o estatuto do testemunho. Em outras palavras, a tomada do discurso do outro como forma de referendar explicitamente uma idéia – o testemunho – auxilia a inserção do TA em outros níveis como a informatividade e a aceitabilidade, por exemplo. O segundo tipo – intertextualidade implícita – consiste na introdução, no texto, de um intertexto cuja fonte não é dada.

No caso da polifonia, ela vem apresentada como a representação, na massa textual, de perspectivas ou pontos de vista oriundos de enunciadores diferentes. Ao contrapô-la à intertextualidade, Koch (2004: 154) faz a seguinte afirmação:

Há casos de polifonia em que tais perspectivas são explicitamente apresentadas, isto é, nos quais, em um mesmo enunciado, há mais de um locutor. E que correspondem ao que venho denominando de intertextualidade explícita. Por outro lado, tem-se aqueles casos em que, no mesmo enunciado, ‘encenam-se’ no interior do discurso do locutor perspectivas ou pontos de vista representados por enunciadores – reais ou virtuais – diferentes, isto é, em que estes não precisam servir-se, necessariamente, de textos efetivamente existentes.

Assim, quando se incorporam textos anteriormente atestados, como é comum na paródia, na alusão, em certos casos de ironia etc., tem-se a intertextualidade implícita; quando tal não acontece, já não se trata de intertextualidade (que, como vimos, exige a presença de um intertexto), mas apenas de polifonia.

Na concepção de Chareaudeau e Maingueneau (2004:  289) a intertextualidade pode ser classificada como sendo externa ou interna com a seguinte distinção, a saber: esta se estabelece entre discursos do mesmo campo discursivo ao passo que aquela se estabelece entre discursos de campos discursivos diferentes.

De acordo com Valente (2001:  8), o qual se baseia no conceito de Laurent Jenny, a intertextualidade pode ser:

Interna – quando o autor cita a si próprio;

Externa – Quando cita outro(s) autor(es).

A externa subdivide-se em:

Explícita – citação na íntegra de uma frase, um verso, um fragmento de texto;

Implícita – citação parcial, modificada.

Vigner (1997), embora tratando basicamente de textos literários numa abordagem voltada para a aplicação didática, faz afirmações a respeito da intertextualidade que são bastante pertinentes a qualquer outro tipo de texto e, portanto, também ao texto acadêmico. Para o autor, além de ser um fator essencial à legibilidade de um texto, a intertextualidade elabora um determinado grau de expectativa sobre o qual o novo texto se constitui e a partir do qual adquire sentido. Dentro desse contexto de aquisição de sentido, a legibilidade do texto (a partir do enfoque intertextual) se processará mediante certas condições as quais implicam, por exemplo, a certeza de que será intertextual/legível “todo texto que, pela relação que estabelece com textos anteriores ou com o texto geral, dissemina em si fragmentos de sentidos já conhecidos pelo leitor, desde a citação direta até a mais elaborada reescritura” (p. 34). Sobre o fenômeno intertextual, Vigner assinala ainda que ele manifesta-se de forma igualmente intensa no discurso científico

...em que o importante aparelho de notas, de referências bibliográficas, de citações, assinala o texto lido como o lugar de circulação de uma infinidade de sentidos provenientes de fontes textuais diversas. A citação, tal como a referência bibliográfica, tem por função reforçar com o leitor a comunidade de repertório, estabelecer uma espécie de conivência, ancorar o discurso científico geral, tal como circula na comunidade de leitores à qual se destina. (p. 34)

Particularmente, não obstante uma ou outra divergência conceptual no que concerne à intertextualidade e à associação deste conceito com o de polifonia, inclino-me a identificar no texto acadêmico a presença visível da intertextualidade interna (segundo o conceito postulado por Charaudeau e Maingueneau) com um matiz de externação ora explícita ora implícita. A externação explícita vem definida pelas citações claras e diretas, costumeiramente marcadas pela presença de aspas ou pelo recuo em bloco. A externação implícita ocorre exatamente quando há referências gerais ao pensamento ou à obra de outro(s) autor(es). No caso do TA, a citação – quando bem utilizada – é garantia de legibilidade, atuando relevantemente na construção textual do sentido a partir do momento em que, pela via do intertexto, circunscreve-se a um ambiente acadêmico cuja produção textual é marcada por convenções em que o discurso do outro constitui fonte de referência e de ratificação do discurso teórico produzido e apresentado como sendo pertinente e válido dentro de uma determinada área.

Pessoalmente, a para fins de análise do corpus selecionado, proponho a seguinte nomenclatura que passarei a utilizar, qual seja:

a)     Intertextualidade Interna Implícita – quando há referência indireta ao pensamento de outros sujeitos, dentro de um mesmo campo discursivo, mediante a menção feita a nomes, datas, títulos de artigos e outros elementos que podem ser recuperados seja por meio de notas seja por meio das referências bibliográficas.

b)    Intertextualidade Interna Explícita – quando há referência direta, por meio de citações marcadas pela presença de aspas ou pelo recuo em bloco[1], dentro de um mesmo campo discursivo.

c)     Intertextualidade Externa Implícita – quando há referência indireta ao pensamento de outros sujeitos, dentro de campos discursivos diversos, mediante a menção feita a nomes, datas, títulos de artigos e outros elementos que podem ser recuperados seja por meio de notas seja por meio das referências bibliográficas.

d)    Intertextualidade Externa Explícita – quando há referência direta, por meio de citações marcadas pela presença de aspas ou pelo recuo em bloco, em campos discursivos diversos.

 

O Corpus

O corpus utilizado neste estudo compreende um artigo pertencente à área da Análise do Discurso e encontra-se disponível no banco de dados do portal Scielo[2].

O presente artigo segue as convenções determinadas para esse tipo de produção acadêmica e enquadra-se perfeitamente bem ao seu objetivo de falar a um certo grupo de pessoas que, neste caso, é caracterizado pelo pertencimento à comunidade acadêmica de um modo geral e, mais particularmente, ao grupo de acadêmicos que se destinam aos estudos da linguagem. Sobre ele destacamos os seguintes aspectos formais:

1)     O texto apresenta uma introdução que apresenta a atuação/contribuição da autora no desenvolvimento de pesquisas em estudo da linguagem com base na Análise de Discurso Crítica (ADC) e apontando para um percurso histórico, segmentado por décadas, que percorre todo o desenvolvimento textual já a partir do resumo onde consta que

Esta é uma breve introdução à análise de discurso crítica (ADC), considerando a ADC tanto uma continuação da lingüística crítica (LC), praticada na Grã-Bretanha na década de 1970, como também um campo transdisciplinar internacional derivado da lingüística, com interesse no texto e nas relações de poder.

2)     Há em seu conteúdo explicação clara e precisa para a escolha da expressão “Análise de Discurso Crítica’ em detrimento de outra expressão cunhada como “Análise Crítica do Discurso’. Segundo a autora:

Embora exista a expressão portuguesa 'análise crítica do discurso', por exemplo no livro organizado por E. Pedro (1997), prefiro o termo 'análise de discurso crítica'. Não se trata de mera questiúncula terminológica. Há uma razão para isso: no Brasil, a tradição de estudo do discurso é forte. Só para ilustrar esse ponto, o livro de E. Orlandi A Linguagem e Seu Funcionamento foi publicado em 1983 (1ª ed.). Essa tradição acadêmica se consolidou no Brasil com a expressão análise de discurso (Orlandi, 1999).

3)     A construção intertextual interna quanto à presença de discursos pertencentes à mesma área discursiva (Linguagem / Lingüística /Análise do Discurso) e também a presença de externações explícitas e implícitas, focalizando opiniões favoráveis e contrárias à ADC ora de forma direta, ora de forma indireta por meio de referências feitas a outros campos discursivos.

4)     Quanto ao tópico anterior, a intertextualidade contribui para a legibilidade do texto e para a aceitação do mesmo como sendo próprio para a circulação no meio acadêmico e como sendo provido de sentido porque marcado pelo signo da aceitabilidade.

Enumerados esses quatro aspectos, relevantes do texto em tela, passo a expor alguns exemplos dos tipos de intertextualidade identificados.

 

a) Intertextualidade Interna Implícita

Segundo Parágrafo: “Um rápido esclarecimento com relação à tradução do termo inglês critical discourse analysis. Embora exista a expressão portuguesa 'análise crítica do discurso', por exemplo no livro organizado por E. Pedro (1997), prefiro o termo 'análise de discurso crítica'. Não se trata de mera questiúncula terminológica. Há uma razão para isso: no Brasil, a tradição de estudo do discurso é forte. Só para ilustrar esse ponto, o livro de E. Orlandi A Linguagem e Seu Funcionamento foi publicado em 1983 (1ª ed.). Essa tradição acadêmica se consolidou no Brasil com a expressão análise de discurso (Orlandi, 1999)”.

Nono Parágrafo: “A ADC é, como já indiquei, um campo disciplinar reconhecido internacionalmente pelo trabalho sistemático de diversos estudiosos: Fairclough, numa série de obras (Fairclough 1989, 1992, 1995a, 1995b, 2000, 2003); Wodak 1996; Chouliaraki e Fairclough 1999; van Dijk 1985, 1986, 1998. A contribuição principal de Fairclough foi a criação de um método para o estudo do discurso e seu esforço extraordinário para explicar por que cientistas sociais e estudiosos da mídia precisam dos lingüistas (Fairclough 1989, 2001;Chouliaraki e Fairclough 1999)”.

 

b) Intertextualidade Interna Explícita:

14º Parágrafo: “Com relação à transdisciplinaridade da ADC, Chouliaraki e Fairclough lembram o seguinte:

Vemos a ADC trazendo uma variedade de teorias ao diálogo, especialmente teorias sociais, por um lado, e teorias lingüísticas, por outro, de forma que a teoria da ADC é uma síntese mutante de outras teorias; não obstante, o que ela própria teoriza em particular é a mediação entre o social e o lingüístico – a 'ordem do discurso', a estruturação social do hibridismo semiótico (interdiscursividade). (1999: 16)”.

17º e 18º Parágrafos: “Por quê crítica? O aspecto crítico da ADC tem suscitado questões, principalmente os artigos de Widdowson (por exemplo, Widdowson 2000). Nesse trabalho, Widdowson faz uma crítica à ADC, com base na seguinte afirmação de Caldas-Coulthard e Coulthard (1996: xi):

A análise de discurso crítica é essencialmente política em seu propósito com seus praticantes agindo sobre o mundo para transformá-lo e com isso contribuir para criar um mundo no qual as pessoas não sejam discriminadas devido a sexo, credo, idade ou classe social”.

O argumento de Widdowson contra a ADC está na seguinte citação:

Este é um projeto ambicioso, e certamente muito além dos modestos objetivos do meu próprio trabalho na análise crítica. Eu não tive nenhum compromisso com uma causa: meu propósito não foi expor, mas explicar; não foi descobrir um propósito sinuoso, mas tentar entender o que havia nos textos que resultava em determinadas interpretações...Na verdade, na perspectiva da ADC, eu não estava realmente fazendo análise de discurso, pois o discurso só pode significar um conjunto de valores socialmente construídos, que implicam inevitavelmente a ideologia (Widdowson 2000: 155-156)”.

c) Intertextualidade Externa construída implicitamente pela referência indireta a outros campos discursivos.

10º Parágrafo: Segundo Chouliaraki e Fairclough, a ADC está situada na ciência social crítica e na pesquisa crítica sobre a mudança social na sociedade moderna posterior (1999: 1). O termo 'modernidade posterior' é usado por Giddens (1991), com referência às transformações econômicas e socioculturais das três últimas décadas do século XX, em que os avanços na tecnologia da informação e na mídia apartaram os signos de sua localização específica, permitindo sua livre circulação nos limites temporais e espaciais. Chouliaraki e Fairclough argumentam que "a ADC deveria ser considerada como uma contribuição ao campo da pesquisa crítica sobre a modernidade posterior" (1999: 3). Ao comentarem as profundas mutações econômicas e socioculturais das últimas décadas, Chouliaraki e Fairclough sugerem que tais transformações resultam em parte das estratégias de grupos particulares em um 'sistema particular'. De acordo com esses autores, "há uma necessidade urgente de teorização e de análise críticas da modernidade posterior que possam não apenas iluminar o novo mundo que está emergindo, mas também indicar as direções alternativas não realizadas existentes" (1999: 4).

Não verificamos casos de Intertextualidade Externa explícita, em que o discurso de um sujeito pertencente a outro campo discursivo tenha sido apresentada de forma direta com as marcas que são peculiares a esse tipo de citação.

 

Conclusão

No presente trabalho busquei apontar e verificar a presença da intertextualidade no texto acadêmico e de que forma este aspecto atua na construção do sentido, favorecendo a legibilidade. Ao escolher esse caminho, optei por não levar em consideração questões de gramaticalidade e não desconsiderei o fato de que o privilegiamento de um aspecto implica a não-abordagem dos outros fatores da textualidade como coerência, coesão, aceitabilidade, intencionalidade, situacionalidade e informatividade.

O escopo original centra-se na intertextualidade e, sendo assim, considero que o texto cumpre a função à qual se propôs desde o início por meio do uso de um sólido, embora resumido, referencial teórico e também por meio de exemplificações que comprovam que o fenômeno a intertextualidade garante clareza e sentido ao texto uma vez que as vozes partícipes do discurso matriz do TA contribuem para que este seja claro, aceitável e, portanto, legível.

Todos os outros fatores envolvidos na construção textual do sentido, e cada um deles, a seu tempo, será analisado em função da sua contribuição ao texto acadêmico o qual, em função sobretudo da elevada complexidade envolvida em sua produção, não se sustenta apenas com base na intertextualidade.

Por fim, ao lançar luz sobre o texto acadêmico, dedicando-lhe um espaço até então mais restrito a outros tipos de produção textual, este trabalho foge ao que é comum para trazer, mesmo que de forma incipiente, uma contribuição relevante à análise desse tipo de produção a partir de uma perspectiva lingüístico-discursiva.

 

Referências Bibliográficas

CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2004.

KOCH, Ingedore Grunfeld V.; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e coerência. 5ed. São Paulo: Cortez, 1997.

KOCH, Ingedore Grunfeld V. A produção textual do sentido. In: VALENTE, André (org). Língua, lingüística e literatura. Rio de Janeiro: Ed UERJ, 1998.

––––––. Introdução à Lingüística Textual. São Paulo: Marins Fontes, 2004.

MAGALHAES, Izabel. Introdução: a análise de discurso crítica. DELTA. [online]. 2005, vol.21, no.spe [citado 06 Julho 2006], p.1-9. Disponível na World Wide Web:     www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44502005000300002&lng=pt&nrm=iso. ISSN 0102-4450.

MOTTA-ROTH, Désirée. A importância do conceito de Gêneros discursivos no ensino de redação acadêmica. Intercâmbio 8:119-28. 1999.

VAL, Maria da Graça Costa. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

VALENTE, André. Coesão e coerência em textos jornalísticas. Comum. Rio de Janeiro – v.6 – nº 16 – p. 5 a 23 – jan/jul. 2001.

VIGNER, Gerard. Intertextualidade, norma e legibilidade. In: GALVES, Charlotte; PUCCINELLI, Orlandi; OTONI, Paulo. O texto: leitura e escrita. 2ª ed. Campinas: Pontes, 1997.


 

[1] A citação marcada por aspas ou pelo recuo em bloco obedece às normas da ABNT e depende da extensão que ocupa no texto onde é utilizada.

[2] Trata-se do artigo “Introdução: a análise de discurso crítica”, escrito por Izabel Magalhães, da Universidade de Brasília, e publicado em DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica Aplicada. A versão online encontra-se disponível em www.scielo.br.