ESTRATÉGIAS DE COESÃO REFERENCIAL
NAS REDAÇÕES DO CLAC:
UMA ANÁLISE VARIACIONISTA

Aline de Oliveira França (UFRJ)
Michelli Bastos Ferreira (UFRJ)
Rafael Guimarães Nogueira (UFRJ)
Mônica Tavares Orsini (UFRJ)

 

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Sabe-se que a palavra texto provém do latim textum, que significa “tecido”, “entrelaçamento”. Percebe-se, então, já na origem do vocábulo, a idéia de que o texto resulta de um trabalho de tecer, entrelaçar várias partes menores a fim de obter um todo inter-relacionado. Sua tessitura depende, em termos lingüísticos, de mecanismos, que caracterizam o que se pode denominar, genericamente, de coesão textual.  

Partindo do pressuposto de que um texto não se constitui somente de informações novas, mas também por meio de retomadas ou informações já mencionadas no contexto lingüístico, pode-se admitir que um texto é considerado coeso quando suas partes referem-se mutuamente e só fazem sentido se analisadas umas em relação às outras.  

Ressalte-se que a literatura especializada advoga que existem diferentes mecanismos de coesão textual, a saber: coesão referencial, recorrencial, seqüencial e lexical, terminologia que varia de acordo com o autor.  

Neste trabalho, tratar-se-á da coesão referencial, visando discutir as estratégias de correferenciação, com o objetivo de fomentar reflexões e sugestões sobre o ensino deste tema. Para tal, o corpus analisado constitui-se de produções textuais dos alunos dos cursos de Redação em Língua Portuguesa do Projeto CLAC (Curso de línguas aberto à comunidade), Projeto de Extensão Universitária, desenvolvido na Faculdade de Letras da UFRJ.  


 

OBJETIVOS

Objetivo geral

Pretende-se identificar e analisar, por meio de uma metodologia de análise variacionista, as estratégias de coesão referencial presentes nas produções textuais dos alunos do CLAC.  

 

Objetivos Específicos

a) Investigar se há uma relação estreita entre as estratégias de correferenciação presentes nos textos e o estágio do curso em que o aluno se encontra, já que esse se estrutura em três períodos, a saber: Redação I, II e III, cada um correspondendo a um semestre letivo;  

b) Averiguar se há fatores textuais que condicionam a ocorrência de uma dada estratégia de coesão referencial.  

 

PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS

Corpus

O corpus constitui-se de 10 redações de cada um dos períodos do curso, escolhidas aleatoriamente, perfazendo um total de trinta textos. Reuniram-se, após a coleta dos dados, um total de 579 ocorrências de retomadas por meio de distintas estratégias de coesão referencial.  

O modo de organização discursiva adotado na elaboração das redações é o dissertativo-argumentativo, privilegiado no Curso de Redação do CLAC. As redações de nível I caracterizam-se por serem parágrafos, uma vez que esta etapa do curso procura desenvolver a habilidade escrita por meio do estudo do parágrafo; já as redações produzidas por alunos dos níveis II e III correspondem a textos com mais de um parágrafo.  

 

A Sociolingüística Variacionista

Neste trabalho, desenvolve-se um estudo pautado na interface Lingüística Textual / Sociolingüística Variacionista.  

Segundo o modelo variacionista, a língua é um objeto heterogêneo, devidamente ordenado, em constante processo de mudança, determinada por fatores lingüísticos e extralingüísticos. Essas mudanças, contudo, não ocorrem ao acaso, sendo tarefa do lingüista determinar a forma como estão associadas no sistema. (cf. Braga e Mollica, 2003)  

Nesta perspectiva, pretende-se fazer um levantamento quantitativo das ocorrências de correferenciação presentes no corpus, a fim de que se possa caracterizar o comportamento textual das mesmas. Para tal, faz-se uso do pacote de programas VARNEW, que fornece os percentuais de distribuição dos fatores selecionados para análise do tema em foco.  

 

A COESÃO REFERENCIAL

A coesão é a manifestação lingüística da coerência; consiste em um conjunto de marcas lingüísticas, elementos lexicais e gramaticais, que explicitam a inter-relação de outros componentes do texto, formando um corpo estrutural. Logo, o desenvolvimento de um tema é realizado através da correferenciação endofórica, isto é, através de uma estrutura em que dois ou mais constituintes textuais referem-se direta ou indiretamente ao mesmo elemento do mundo (real ou ficcional).  

Ocorre coesão referencial quando um elemento da seqüência textual (forma referencial ou elemento de retomada) remete a outro componente do texto (referente). A noção de referente é bem ampla, podendo ser representado por um nome, um sintagma, uma oração ou um enunciado inteiro.  

Quando a referência se faz para trás, isto é, quando ocorre realmente uma retomada de elementos já expressos textualmente, denomina-se anáfora (objeto de investigação deste trabalho) e quando se faz para frente, ou seja, quando há uma antecipação do que ainda será dito, catáfora.  

Para tratar a coesão referencial anafórica adotam-se, nesta pesquisa, os conceitos de substituição e reiteração (cf. Kock, 1990 e Antunes, 2005), a fim de classificar as retomadas feitas através de elementos da gramática e do léxico, respectivamente.  

 

Coesão Referencial por Substituição

No caso da substituição, o referente é recuperado por elementos gramaticais (pro-formas). Esses podem ser pronomes, verbos, advérbios ou numerais. A substituição também pode ocorrer por meio da categoria vazia, tradicionalmente denominada elipse. Assim, essas formas não-referenciais não fornecem instruções de sentido; funcionando como elos coesivos. Segundo Koch (1990), esses elementos “apontam” na direção do elemento que substituem. É o que acontece, por exemplo, com o pronome nominativo ele, que isoladamente não tem significado, mas, no texto, pode indicar que se deve buscar um referente masculino singular.  

Nesta pesquisa, foram analisados os pronomes possessivos, indefinidos, demonstrativos, relativos, acusativos e nominativos, além da elipse, que se caracteriza por expressar, por meio da desinência verbal, noções de pessoa e número.  

 

Pronomes substantivos

Este grupo reúne os pronomes indefinidos, possessivos, demonstrativos, interrogativos, relativos e oblíquos que funcionam como elementos de substituição que asseguram a cadeia referencial do texto.  

Esses elementos cumprem o mesmo papel sintático dos substantivos, podendo aparecer isolados, isto é, sem a presença de um determinante. É o que se pode observar nos exemplos[1] abaixo, em que as palavras sublinhadas garantem a continuidade do texto ao retomar um referente anteriormente mencionado.  

(1) “Não existem cristãos altruístas; é uma tarefa difícil encontrar alguém.” (pronome substantivo indefinido retomando cristãos altruístas.)  

(2) O Brasil apresenta um governo omisso e corrupto; isso está cada vez mais explícito.” (pronome substantivo demonstrativo retomando toda a sentença anterior.)  

 

Elipse

Caracteriza-se pela omissão de um item, de um sintagma ou até de orações, facilmente recuperáveis no contexto. É o que acontece no exemplo abaixo, em que se omite o referente Igreja, já expresso pelo autor do texto.  

(3) “.... pois, Ø se utiliza da fé e da confiança que as pessoas depositam nela.

 

Pronomes nominativos de terceira pessoa

No exemplo (4), o pronome “ela” remete ao termo Igreja.

(4) “Desse modo, ela passa a ser uma grande aliada do Estado”.  

 

Pronomes adjetivos possessivos

Os pronomes adjetivos possessivos acompanham o núcleo de um sintagma com o qual concordam em gênero, número e pessoa, desempenhando o papel sintático de adjunto adnominal. No exemplo (5), observa-se que o pronome sua, cujo referente continua sendo Igreja, acompanha o núcleo missão com o qual concorda.  

(5) No inicio, sua missão era profética como restauração de vida através da fé”.  

 

Coesão Referencial por Reiteração

Com relação ao mecanismo de reiteração, o elemento do texto é retomado por um sintagma nominal, ou seja, por um elemento do léxico da língua. A reiteração, segundo Antunes (2005), implica a utilização de uma palavra por um elemento que pelo contexto se torna seu equivalente. Além disso, permite fornecer outras informações à referência introduzida anteriormente. Compreende, então, as retomadas feitas por elementos com valor semântico. Ao contrário do que acontece nas retomadas por elementos gramaticais, esse tipo de coesão se utiliza de palavras ou expressões que tenham significado, como se poderá constar nos exemplos que se seguem.  

 

Forma idêntica

Caracteriza-se pela manutenção do núcleo do sintagma nominal. Consiste em uma retomada por meio de uma forma idêntica a qual se acrescenta um dado novo. Assim, se estabelece o movimento do texto de “ida e volta”, em que se recupera uma informação dada e se apresenta uma nova.  

Observa-se essa estratégia no exemplo (6), em que se retoma o referente introduzido anteriormente, não só para o acréscimo de idéias como também para sua reativação na memória do leitor.  

(6) “A distribuição de preservativos aos jovens não é a solução para a gravidez precoce. (...) Assim, para que os jovens tenham consciência dessas conseqüências é extremamente necessário fazer programas de educação sexual em escolas, clubs e associações”.  

 

Sinônimos

Embora não haja sinônimos perfeitos, é possível substituir um elemento por uma palavra ou expressão que funcione como sinônimo em determinado contexto. O uso de sinônimos possibilita manter o mesmo tópico, assegurando a continuidade entre as partes do texto. Veja-se o exemplo (7) em que a expressão jovens, os futuros adultos funciona como sinônimo do referente adolescentes.  

(7) “Os adolescentes com filhos representam prejuízo para os pais e a saúde pública do município. (...) Em suma, a preocupação está com o Estado, principal controlador dos procedimentos morais e éticos no comportamento de seu povo, mas, particularmente, de seus jovens, os futuros adultos, que também promoverão desenvolvimento dentro de engrenagens socialmente favoráveis a qualidade de vida no país, podendo resolver questões das doenças venéreas e gravidez por meio do saber.  

A utilização de termos simbólicos também caracteriza a sinonímia. Consiste na utilização de marcas, sinais, símbolos que estão diretamente relacionadas ao referente. No exemplo (8), o termo templo, símbolo da religião, mantém a continuidade do texto.

(8) “Assim, independentemente de seguir o que uma ou outra religião determina ou pelo fato de estar dentro ou fora de um templo, o homem passa a ser o único responsável pelas suas ações e escolhas”.  

Os sinônimos englobam, ainda, as paráfrases, estruturas que se caracterizam por expressar, com palavras diferentes, o que se havia dito. Em geral, são introduzidas por estruturas como isto é, ou seja, em outras palavras, quer dizer.  

(9) “A política da troca da mão-de-obra humana pelas máquinas é preocupante. Isto é, as empresas passam a ter poucos funcionários que com o auxílio da tecnologia substituem um enorme número de trabalhadores”.  

 

Caracterização

Neste tipo de retomada, substitui-se um nome por uma expressão que descreva sua função ou seu estado mais relevante, ou seja, utilizam-se elementos que, no contexto, seriam equivalentes do ponto de vista do sentido. Esse recurso implica retomar um dado, qualificando-o. Segundo Antunes (op. cit.), esse recurso implica retomar um dado, fazendo uma espécie de rotulação, tal como um resumo.  

Em (10), verifica-se que o autor faz uma interpretação, uma leitura do que havia introduzido anteriormente no texto, quando caracteriza / rotula que Os processos de mudanças que ocorrem no mundo são um acelerado desenvolvimento.  

(10) Os processos de mudanças que ocorrem, no mundo, por causa da informatização têm sido uma interrogação. Até que ponto, este acelerado desenvolvimento é favorável ao homem?”  


 

Hiperônimos e hipônimos

Hiperônimos são palavras gerais ou nomes genéricos usados para nomear toda uma classe de seres ou para abarcar os membros de um grupo. Por sua abrangência, asseguram a manutenção do tema. Em (11), o referente igreja está contido no hiperônimo instituição.  

(11) “Como a maioria das instituições que foram fundadas e organizadas por um grupo de homens para o domínio dos outros, a igreja, em todas as suas manifestações, está erguida sobre a contradição humana. (...) Portanto, esta instituição fomenta o capitalismo com o selo de Deus”.  

Em contrapartida, os hipônimos são palavras mais específicas em relação a uma outra mais geral. É o que ocorre no exemplo (12), em que se observa a relação entre todo / parte: Estado (referente) é o conjunto maior do qual o setor da saúde faz parte.  

(12) “O Estado deve asseverar benefícios na educação sexual. (...) O setor da saúde precisa estar preparado para a gravidez precoce, embora, respeitando o jovem em si, mostrando-lhe que a vida sexual pode ser saudável e segura”.  

 

Nominalização

Esta é uma estratégia muito específica porque consiste na retomada de um segmento anteriormente citado no texto por meio de uma palavra derivada. Acontece quando um verbo é retomado por palavras cognatas. Também se considerou nominalização o “movimento” que vai do nome ao verbo, como ocorre em (13).  

(13) “Orgulho de ser brasileiro (...) Não é tão ruim viver no Brasil. Embora o país apresente problemas socioeconômicos e criminais, ele também apresenta suas vantagens. A paisagem, clima, a liberdade de expressão e escolhas são um dos grandes motivos para se orgulhar de ser brasileiro. (...) Portanto, é um grande orgulho ser brasileiro”.  


 

Formas referenciais
de classificação metalingüística

Consiste no uso de palavras ou expressões típicas de uma descrição gramatical, como frase, palavra, termo, para fazer referência a informações mencionadas anteriormente no texto. Em (14), a palavra termo faz referência não à idéia, ao conteúdo, mas à forma lingüística por meio da qual esse conteúdo foi expresso, ou seja, trata-se de uma avaliação do referente (palavra Estado).  

(14) “Se pararmos para pensar na palavra Estado, perceberemos que ela significa um conjunto de pessoas que possuem a mesma cultura, “religião” e o povo. O termo se justifica como a formação de uma sociedade”.  

 

Expressões nominais definidas

Essas expressões são formadas por grupos nominais introduzidos por artigo definido ou pronome demonstrativo. Em geral, são de conhecimento comum e dizem respeito a características do referente às quais se deseja dar ênfase ou ressaltar, ajudando o leitor na construção do sentido. É o que se comprova no exemplo (15), em que se desejava ressaltar a característica mais comum do futebol: ser o esporte preferido do povo no Brasil.  

(15) Futebol, a identidade nacional brasileira. (...) Nesses comentários não estão explícitos somente o retrato do esporte preferido do povo, mas os adjetivos empregados para a população brasileira. As características são as mesmas.  

 

RESULTADOS

A freqüência das estratégias de substituição presentes no corpus é apresentada na tabela 1:

 

 

 

 

Estratégias de substituição

OCO

%

Pronome substantivo

132

59%

Elipse

47

21%

Pronome nominativo

23

10%

Pronome adjetivo possessivo

23

10%

Total

225

100%

Tabela 1: Distribuição percentual das estratégias de substituição.

Os dados mostram que os pronomes substantivos são os mais recorrentes (59%), já que esse subfator reúne as ocorrências de pronomes indefinidos, possessivos, demonstrativos, interrogativos, relativos e oblíquos, revelando um caráter mais abrangente.  

A elipse caracteriza-se por ser a segunda estratégia de substituição preferida (21%), possivelmente por propiciar um texto mais enxuto e conciso.  

Quanto à freqüência das estratégias de reiteração no corpus, a tabela 2 revela a preferência dos alunos pelo uso de formas idênticas (48%), seguida pela sinonímia, com 28%. Pode-se supor que o maior índice de ocorrência de formas idênticas justifica-se pelo fato de a repetição ter funções diversas como a de enfatizar ou estabelecer contraste. Por outro lado, algumas das estratégias investigadas apresentam freqüência muito baixa. É o que se observa com a nominalização, a classificação metalingüística e a expressão nominal definida. O uso da caracterização e de hiperônimo ou hipônimo também é reduzido no corpus analisado.  

Estratégias de reiteração

OCO

%

Forma idêntica

170

48%

Sinônimos

99

28%

Caracterização

40

11%

Hiperônimo ou hipônimo

38

11%

Nominalização

5

1%

Classificação metalingüística

1

0,5%

Expressão nominal definida

1

0,5%

Total

354

100%

Tabela 2: Distribuição percentual das estratégias de reiteração.

A tabela 3 apresenta a distribuição dos tipos de coesão em função do tamanho do texto.  

 

Tamanho de texto

Substituição

Reiteração

Total

%

%

%

Parágrafo dissertativo

49

65%

26

35%

75

100%

Texto dissertativo

176

35%

328

65%

504

100%

Tabela 3: Distribuição dos tipos de coesão de acordo com o tamanho do texto.

Constata-se que a substituição é o tipo de coesão referencial mais recorrente em parágrafos (65%), já os textos revelam, ao contrário, maior incidência da reiteração (65%).  

Outro fator considerado é a possibilidade de um referente ser retomado mais de uma vez no texto. Assim, relacionando-se tipo de coesão referencial à ocorrência de uma ou mais retomadas, tem-se a tabela 4:  

Número
de retomadas no texto

Substituição

Reiteração

Total

%

%

%

Mais de uma retomada

138

33%

279

67%

417

100%

Única Retomada

87

54%

75

46%

162

100%

Tabela 4:
Distribuição dos tipos de coesão segundo a ocorrência de uma ou mais retomadas.

Verifica-se que, sendo o referente retomado mais de uma vez, o tipo de coesão referencial mais comum é a reiteração (67%). No entanto, na existência de um único elemento de correferenciação anafórica, a substituição revela-se mais freqüente (54%).

A análise das tabelas 3 e 4 mostra que, a depender do tamanho do texto e do número de retomadas de um mesmo referente, o autor opta por um ou outro tipo de coesão referencial, isto é, há fatores textuais que condicionam o uso da substituição ou da reiteração.  

Em um parágrafo, universo textual menor, predomina a retomada por substituição, devido à diminuição da distância existente entre o referente e o elemento que o retoma, tornando mais fácil para o leitor dar sentido a elementos gramaticais, como os pronomes. O número de retomadas por meio da reiteração no parágrafo é bem pequeno (apenas 26 ocorrências), se comparado às 328 ocorrências presentes no texto. Quando se trata desse tipo de coesão, a preferência é pela sinonímia, com 50% do total dos dados.  

Em contrapartida, quando, em um texto dissertativo, se faz referência a algum termo ou expressão que corresponde a sua idéia central, observa-se que essa referenciação ocorre, preferencialmente, por meio do mecanismo de reiteração. Isso se deve ao fato de as formas pronominais, assim como a elipse, poderem, se distantes do seu referente, gerar, no leitor, dificuldade de compreensão. Há, desta forma, numa seqüência textual maior, a necessidade de se reativar os elos coesivos, utilizando-se sintagmas nominais, o que favorece as estratégias de reiteração (cf. tabela 2).  

Além disso, quando o referente é a idéia-chave do texto, é natural que ele seja freqüentemente retomado, garantindo a continuidade temática, um dos fatores responsáveis pela coerência textual.  

Em uma das redações que integra o corpus estudado, o referente igreja, por exemplo, é retomado por diferentes expressões, tais como a Instituição Igreja, essa organização, essa instituição poderosa e instituição religiosa. A seleção dessas expressões, que reconstroem / caracterizam o referente, é uma estratégia argumentativa importante, por meio da qual o autor realiza julgamentos e persuade o leitor.  

A distribuição dos tipos de estratégia de coesão referencial em função do nível do curso pode ser investigada com base na tabela 5. 

Nível do Curso

Substituição

Reiteração

Total

%

%

%

Redação I

49

65%

26

35%

75

100%

Redação II

76

33%

157

67%

233

100%

Redação III

100

37%

157

63%

271

100%

Tabela 5: Distribuição dos tipos de coesão de acordo com o nível do curso.

Verifica-se a maior recorrência de substituição nas construções dos alunos do nível I (65%). Por outro lado, a reiteração predomina nos textos produzidos pelos alunos dos níveis II (67%) e III (63%). É importante lembrar, contudo, que no nível I trabalha-se o parágrafo e, como já foi dito, a substituição é mais freqüente nessa unidade textual. Portanto, o nível do aluno não parece determinar o tipo de estratégia selecionada por ele, mas sim outros fatores, como tamanho do texto e número de retomadas.  

 


 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora este estudo tenha caráter ainda preliminar, constata-se que dois fatores determinam a preferência pela substituição ou pela reiteração: o tamanho do texto e o número de retomadas do referente (aqui relacionado ao fato de ser a idéia central do texto). Sugere-se, portanto, que o ensino das estratégias de coesão referencial não se limite a uma mera enumeração / exemplificação dos tipos, mas que considere os condicionamentos aqui descritos, o que contribuirá para que o aluno reflita melhor sobre suas escolhas no ato da produção textual.  

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2005.

BRAGA, Maria Luiza e MOLLICA, Maria Cecília (orgs.). Introdução à sociolingüística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003.

KOCH, Ingedore G. Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1990.


 


 

[1] É importante destacar que a transcrição de todos os exemplos presentes neste artigo respeitou a produção textual do aluno. Neste sentido, ocasionalmente, desvios da norma padrão poderão ser evidenciados.