Produção e recepção da imagem
à aprendizagem da língua

Maria Suzett Biembengut Santade (FIMI, FMPFM e UERJ)

Lilian Cristina Granziera (FIMI)

 

Introdução

O trabalho propõe-se ao estudo dos processos da língua, que tomam como objeto a função semiótica que o desenho encerra, distinguindo-se os respectivos aspectos gramático-textuais em planos de produção e recepção da imagem à expressão e ao conteúdo. Ressalta-se uma perspectiva do desenho da corporalidade no intuito de aguçar no aluno a percepção articulatória e acústica da língua sincrônica. O trabalho é elaborado nos fundamentos peirceanos, dando prioridade à observação do aluno e à realidade em que vive.

Na definição de objetivos aponta-se o estabelecimento de metas concretas e atingíveis dentro da especificidade da língua portuguesa. Quanto aos conteúdos programáticos, há o cuidado de (i) respeitar as propostas curriculares nacionais, considerando o processo cognitivo como perceptivo, e a experiência adquirida previamente do aluno; e, de (ii) considerar os que são de sensibilização e os que são de cognição. Nas indicações quanto aos resultados avaliativos, procura-se ensinar os aspectos da língua, sem prejuízo do rigor necessário à modalidade padronizada. Cada unidade da gramática deverá ser praticada em sala de aula, respeitando os tópicos de conteúdo propostos ao ensino fundamental nas séries intermediárias, sem descurar o ganho para o aluno, em termos de prática objetiva e valor formativo do desenho na percepção da língua. Nos procedimentos metodológicos inclui-se o apelo a exercícios complementares da verbalização de experiências imagéticas, a desenvolver a ilustração verbo-visual, respondendo assim à necessidade de aperfeiçoar competências lingüísticas a propósito da imagem. Instiga-se o confronto da vida comum com exemplos do que o desenho ilustrativo infanto-juvenil pode assumir nas aulas de língua, como suporte visual que motive o aluno ou que o auxilie na percepção da organização do sistema lingüístico.


 

Desenho da corporalidade à língua fônica

O desenho é a arte de representar visualmente objetos ou figuras através de traços e forma. O desenho é esboço de qualquer arte por mais simples que seja. As ciências utilizam o desenho como um passo primeiro na idealização do objeto para depois materializá-lo na industrialização. O desenho artístico ou técnico representa as indagações do ser humano influenciado pelo sociocultural. Antes das imagens fotográficas, cinematográficas e televisivas, o desenho era praticado pelos artistas na representação fiel da natureza e da figura humana. Vivemos, atualmente, em sociedade icônica, e a arte de desenhar multiplica-se em desenhos técnico-industriais, artísticos, humorísticos e satíricos, gráficos, figurativos dentre outros. O desenho na infância apresenta características ligadas ao desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança. Ela se expressa por meio do desenho para a compreensão daquilo que a circunda. Como arte mais primitiva do ser humano, o desenho não se perde no percorrer dos séculos e, a cada instante, fortalece-se em efeitos computadorizáveis comungados à linguagem verbalizada.

Assim, este trabalho apresenta uma metodologia visual no uso dos desenhos das crianças na aprendizagem dos conteúdos da língua. A alfabetização visual materializa os conceitos abstratos da gramática e, por caminho ilustrativo, chega-se à compreensão lingüística. A passividade do aluno diminui nas práticas integradas, pois ele utiliza sua criatividade visual na concretude dos aspectos gramaticais. A junção feita em sala de aula na aplicação da informação gramatical com o desenho, simplesmente, é uma provocação para que a aprendizagem escoe por uma metodologia leve sem distanciá-lo do conteúdo-programático necessário para o avanço escolar (cf. Biembengut Santade, 1998, 2002).

Nos relatos acontecidos no nosso percurso profissional, a variedade geolingüística foi permeando as considerações, como ponto de apoio para a operacionalização concreta das ferramentas lingüísticas a que a história diacrônica e sincrônica nos conclama a fazer.

Lembramo-nos de que muitas crianças são discriminadas, lingüisticamente, nas salas de aula da escola pelos próprios professores. Apoiados no currículo sempre colocado de forma homogênea, os professores passam o conteúdo programático da língua sem refletir sobre o sociolingüístico dos alunos. Assim, surgem-nos as questões: por que ensinar a língua aos aprendizes? Como ensiná-la a eles? Para que ensiná-la? Por essas indagações que, na sala de aula, nasceu a semiótica do desenho como metodologia verbo-visual.

No início de nossa carreira, começávamos a desenhar compulsivamente na lousa e a utilizar algumas palavras e pequenas frases para mostrar às crianças que havia um mundo enorme e que poderia ser descoberto dentro daquele pequeno palco-sala de aula. E, nesse picadeiro semanal, fomos construindo nosso rastro de educadora, ensinando novas palavras através de ilustrações como o reconhecimento da boca como aparelho para produzir outra língua e fazendo contraste com a língua materna nos aspectos fônicos (cf. Biembengut Santade, 1996, 2001). Valendo-nos dos desenhos de artistas como Michelangelo, Leonardo da Vinci e Rafael que mostraram grande interesse sobre a estrutura do corpo humano, usamos a linguagem da corporalidade para ensinar o processo da produção e recepção da fala nos processos articulatório, auditivo e acústico.

Na caminhada profissional, buscamos estudos da semiologia peirciana. Em síntese, dependendo do modo como se estabelece a relação entre signo e referente, assim se definem os três tipos de signos segundo Peirce:

A arte está em nossa vida na ação de contemplar o mundo, na feitura dos objetos mais rudimentares, nas construções de casas, na preparação das comidas, nas vestimentas e suas composições, nos traços das cidades, etc. O desenho como criação humana abstrai a realidade de cada ser e seus significados e cada projeto ou esboço de algo diz muitas vezes mais do que palavras. Um desenho constitui um “corpo de dados” (Dondis, 1997: 3) que expressa uma mensagem imediata, bem funcional em sua primeira leitura. Ele permanece na memória do leitor visual de diferentes formas e analogias. Através do desenho o ser humano tem a compreensão rápida daquilo que está sendo transmitido.

A criança desde muito cedo utiliza o desenho para expressar seus sentimentos e sua compreensão de mundo. Lembramo-nos certa vez de que numa das aulas uma criança desenhou a figura de uma mulher, depois pegou um lápis de cor preta e rabiscou todo o desenho, escondendo a figura. Perguntamos a ela o porquê daquela ação e respondeu-nos que era a sua mãe, mas que não a conhecia. Assim comenta Dondis que “a experiência visual humana é fundamental no aprendizado para que possamos compreender o meio ambiente e reagir a ele; a informação visual é o mais antigo registro da história humana. As pinturas das cavernas representam o relato mais antigo que se preservou sobre o mundo tal como ele podia ser visto há cerca de trinta mil anos” (1997: 7).

A linguagem escrita começou através de desenhos rudimentares, avançou rumo aos pictogramas, até chegar à abstração significativa das unidades fonéticas. A partir dos símbolos fonéticos cristaliza-se o alfabeto. E hoje ao utilizarmos a escrita na sala de aula, esquecemo-nos de que cada palavra tem duas faces: significante (formas fonética e ortográfica) e o(s) significado(s) (conceito, idéia). Cada palavra descoberta pelo ser humano necessita da mensagem visual ou idealizada. O homem inventa os sistemas de símbolos os quais rastreiam sua própria vivência. Sendo assim, a linguagem visual é imediata e mais universal, pois a visão é natural nele.

Ao associarmos a linguagem verbal à visual, tornamos a comunicação mais compreensível. Podemos usar o desenho, a pintura, a escultura e hoje a multimídia concretizando a abstração dos signos escritos. Nessa compreensão associativa criamos uma consciência mais polissêmica das palavras, pois cada um ao fazer uma leitura visual, codifica e decodifica tal informação de acordo com sua contextualização como sujeito.

As ferramentas de um educador ao utilizar os desenhos em sala de aula são os elementos básicos como o ponto, a linha, a forma, a direção, o tom, a cor, etc. Não é preciso ser artista para traçar um esboço, um esquema. Basta ter uma compreensão profunda daquilo que sabe transmitir e as imagens visuais emergem naturalmente em cada ser e cada um representa de acordo com sua realidade, sua criatividade, sua imaginação.

Segundo Dondis “não existe nenhuma maneira fácil de desenvolver o alfabetismo visual, mas este é tão vital para o ensino dos modernos meios de comunicação assim como a escrita e a leitura foram para o texto impresso. Na verdade, ele pode tornar-se o componente crucial de todos os canais de comunicação do presente e do futuro” (1997: 26).

Ao vermos o mundo, mantemos uma relação de contemporaneidade com ele, recriamos conceitos e partilhamos nossas vidas. Observamos o mundo que criamos, recriamos e reciclamos com cidades, aviões, casas, toda a parafernália de nosso tempo. Cada conceito tem uma palavra que o congela, porém, a linguagem visual extrapola a própria palavra verbalizada. O desenho não substitui a linguagem verbal, mas podem caminhar juntos, pois um meio de comunicação não apaga o outro. O desenho tem sido e sempre será uma extensão da capacidade que o ser humano tem de criar mensagens.

Ao utilizarmos os desenhos nas salas, abstraímos o que tem de concreto ao redor de cada educando, inclusive aprender a conhecer a anatomia de seu corpo, principalmente a raciocinar através de reconhecimentos visuais simples a subjacência da língua nas suas estruturas básicas. O valor da linguagem falada, da imagem, do símbolo continua sendo o principal meio da comunicação para os analfabetos e para os alfabetizados a linguagem visual amplia a compreensão da leitura e da escrita. Consideramos uma pessoa letrada quando ela codifica signos verbais e chamamo-la de civilizada, culta; porém, a linguagem visual apresenta através dos meios rápidos o que está acontecendo à sua volta. Portanto, ao alfabetizarmo-nos visualmente, damos mais dimensão e motivação à nossa linguagem verbal.

Segundo Dondis (1997: 230) os educadores precisam ter uma compreensão sobre a linguagem visual e seus múltiplos usos para constatar que ela não é uma “forma esotérica e mística de magia”. A linguagem visual ampara a linguagem verbal e torna “uma excelente oportunidade de introduzir um programa de estudos”. Para Dondis devemos buscar através do alfabetismo visual a compreensão de nossas próprias indagações como indivíduos e cada um deve “expandir seu próprio potencial de fruição visual, desde a expressão subjetiva até a aplicação prática”. O educador quando utiliza a linguagem visual torna seus ensinamentos mais práticos, sua compreensão mais fácil em seus significados vários.

Sabemos que o desenho, concretizando as formas abstratas da gramática tradicional, leva a criança ou o educando de modo geral a trabalhar melhor a palavra na sua forma mais significativa, na sua “alma” semântica e, assim, elaborar bem melhor seus próprios textos, contextualizando o mundo onde vive. Entretanto, o desenho na infância apresenta características ligadas ao desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança. Ela se expressa através do desenho a compreensão daquilo que a circunda (Cf. Simões, 2003). Assim, o desenho como a arte mais primitiva do homem, não se perde no percorrer dos séculos e desde a metade do século XX, a cada instante, fortalece-se em efeitos computadorizáveis comungados à linguagem verbalizada.

Quando nas salas nos descobríamos desenhando para as crianças, tomávamos já consciência que a inteligência visual aumenta o efeito da inteligência do ser humano, dando uma dimensão criativa nele. Partir dos desenhos ligados à linguagem verbalizada na aplicação do conteúdo da língua materna, torna-se o caminho mais fácil na aprendizagem da criança. Já Aristóteles dizia que todo o conhecimento humano emerge de situações simples que se manifestam nas ações e reações mais elementares do homem. Assim diz Aristóteles (Cassirer, 1972: 16):

Todos os homens, por natureza, desejam saber. Uma prova disto é o prazer que encontramos em nossos sentidos; pois, mesmo independentemente da sua utilidade, eles são amados por si próprios; e, acima de todos os outros, o sentido da vista: não só para ver nossas ações, mas também, quando nada fazemos, gostamos de ver a tudo o mais. A razão é que este sentido, principal entre todos, nos faz conhecer e traz à luz muitas diferenças entre as coisas.

Também diz Aristóteles que é instinto fundamental, fato irredutível da natureza humana, “a imitação” e também “é natural ao homem desde a infância, e uma das vantagens que ele possui em relação aos animais inferiores é a de ser a criatura mais imitativa do mundo e aprender, a princípio, pela imitação” (Cassirer, 1972: 220-221).

Todo o ser humano, criança ou adulto, gosta da imagem e sente prazer ao aprender alguma coisa através do contemplar. Através dos desenhos aplicados à abstração gramatical damos vida aos esquemas lógicos da morfossintaxe, vamos arquitetando a linguagem. A ciência significa abstração, e tal abstração sempre esfria e empobrece a realidade. Assim diz Cassirer que “as formas das coisas, tais como são descritas em conceitos científicos, tendem, cada vez mais, a tornar-se simples fórmulas, de surpreendente simplicidade” (1972: 230).

A arte de desenhar as regras normativas da gramática traz o dinamismo das paixões do aprender e apreender a língua de modo emocional e livre das decorebas no palco-sala de aula. Nessa magia observávamos e observamos através de desenhos o gosto das crianças e também dos adultos em aprender as linguagens oral e escrita, brincando de aprender aprendendo...

 

A arte visual como procedimento metodológico

Sabemos que desde os mais primórdios tempos o homem tem registrado suas marcas através de desenhos, sinais, ícones, etc. Os registros em forma de desenhos e pinturas nas cavernas apresentam a história do homem na sua vivência cultural. Na Idade Média os manuscritos tornam-se ilustrados no intuito de retratar as indagações culturais e religiosas da época. As antigas tapeçarias também espelham o conhecimento matemático da geometria no uso das cores, dos diagramas, das imagens.

A partir da Renascença a imagem passou a ocupar um espaço fixo nas artes plásticas e o desenho sempre se tornou significativo como base das pinturas, esculturas, arquiteturas e quaisquer ilustrações. Mas a iconização é um fenômeno moderno das sociedades ocidentais pós-industrializadas como comunicação técnica por meio de imagens, como afirma Almeida Jr. (1989: 8). Através da imagem, das estórias em quadrinho, da televisão, a imagem popularizou-se neste século, chegando às casas de diferentes pessoas de quaisquer estratos sociais.

Não se pode esquecer de que a linguagem escrita é visual e os signos escritos hoje tão abstratos foram no passado desenhos os quais representavam a cultura do homem há mais de quatro milênios antes de Cristo. Assim confirma Almeida Jr. (1989: 9) que “o processo de iconização só foi possível graças ao processo tecnológico dos veículos de comunicação experimentado desde o início deste século com o cinema, a televisão e, especialmente, com as novas técnicas de impressão jornalística”.

E atualmente com o progresso eletrônico a imagem passou a fazer parte do cotidiano das pessoas no mundo. Assim, a linguagem oral vem acompanhando essa linguagem visual, massificando também o conteúdo das gerações atuais. Há o lado negativo da massificação da linguagem verbal e visual, fazendo com que a população atual seja condicionada a não refletir sobre sua pessoa como elemento integrante dessa comunicação de massa.

Além da comunicação visual do movimento televisivo e cinematográfico emergem-se outras artes visuais como fotografias, cartazes, pôsteres, painéis, propagandas, placas, pichações, cartuns, etc., transmitindo mensagens a todo o instante aos leitores e transeuntes da zona urbana. Toda a contaminação da imagem tem chegado rapidamente às zonas rurais, modificando assim o comportamento do homem do campo.

Quando se anda pela cidade mesmo pequena, observam-se as imagens estáticas em diálogo com os andantes, transformando o comportamento e as relações humanas. O comércio transforma-se através das propagandas, cartazes, seduzindo o consumidor na aquisição dos produtos. A persuasão acontece através das imagens dinâmicas e estáticas. As revistas, os jornais são veículos da comunicação escrita colaborados na ilustração pela linguagem visual. Há, também, os aspectos ideológicos dessas comunicações verbo-visuais acopladas. As imagens esclarecem as matérias escritas, chocando ou interferindo faticamente o leitor. Confirma Almeida Jr. (1989: 12) que “as imagens interferem no ambiente, artificializando-o e perturbando muitas vezes a comunicação interativa e cognitiva do indivíduo diretamente com a realidade”. Porém, a imagem traduz o sentido da mensagem de forma imediata, facilitando através da contemplação a compreensão do leitor-visual. Para um povo analfabeto e semi-analfabeto, a imagem comunica sem tampouco empobrecer totalmente a compreensão dele. Quando um indivíduo faz compras num shopping e/ou supermercado, ele consegue decodificar através do signo visual o conceito do produto. E, é claro que a imagem não dá conta de toda a compreensão verbal, porém é um facilitador para os não leitores-verbais. Ao descrever as contribuições semióticas na leitura, Simões afirma que “dificilmente um não-letrado confundiria uma Coca-Cola com uma Pepsi, pois, apesar da semelhança na cor do líquido, há diferenças na forma dos vasilhames, na forma e na cor dos rótulos (e emblemas), no desenho das letras, etc.” (2003: 29).

A linguagem visual provoca sinestesia àquele que a interpreta. Através da imagem os cinco sentidos provocam-se nos anúncios publicitários, nas capas de revistas, etc. Observando as propagandas de produtos alimentícios, o paladar e o olfato instigam-se pelas cores, pelo efeito da comida em horários de refeição. Por exemplo, os sanduíches e os refrigerantes são representados pelas cores vermelhas e amarelas porque estas instigam o paladar. As cores frias nos produtos de limpeza instigam a higiene. A imagem produz num determinado grupo social reações próprias do mesmo. Por isso que o fenômeno da imagem emerge satisfatoriamente no momento histórico-social de determinada sociedade a qual nunca permanece igual em tempos diversos. Confirma Almeida Jr. (1989: 15) que “o homem só conhece a realidade na medida em que, como ser prático, cria a realidade humana, desenvolvendo atividades sociais que são modos de apropriação dessa realidade. Entre estas atividades estão a produção e a comunicação de imagens”.

Como educadoras, nós não utilizamos o desenho, os diagramas, os gráficos no intuito de tornar a metodologia “modernosa” em sala de aula, nem tornar os alunos passivos na absorção dos conteúdos através das imagens. Porém, a alfabetização visual materializa os conceitos abstratos da gramática tradicional e num caminho inverso chega-se à compreensão lingüística. A passividade do aluno diminui nas práticas integradas, pois ele utiliza a sua criatividade visual na concretude das formas verbais. Quando se coloca o aluno no processo da significação dos aspectos formais lingüísticos, através de seus próprios desenhos, ele sente-se integrado na construção do conteúdo. Muitas vezes os conceitos lingüísticos ficam adormecidos no percurso escolar, mas quando a imagem aparece imediatamente ele recupera o conhecimento aprendido. Na tríade lingüística, oralidade, linguagem visual e linguagem formal da palavra, constrói-se a significação poética na visualização das palavras as quais se arranjam, traduzindo o conceito intencional do sujeito-aprendiz.

Na maioria das escolas, utiliza-se a linguagem da imagem simplesmente para se encaixar na modernidade do hoje. A parafernália “jogada” na escola, como televisão, computadores, livros didáticos, não permite o aluno refletir por ele mesmo. Há uma intenção político-pedagógica na distribuição de materiais os quais chegam fragmentados à escola, dando a impressão de uma escola preparada à imagem. Não há sucessos nessa utilização se não houver a conscientização pedagógica do educador. No entanto, é natural na criança a compreensão de mundo pelo desenho e, desde muito cedo, ela (a criança) traduz o seu interior e o mundo físico, desenhando suas indagações e participações no contexto social em que vive. Assim diz Almeida Jr. (1989: 30) que “participando desse ambiente cultural desde criança e habituado a consumir informações de natureza iconológica, o educando chega à escola, com seu apetite perceptivo para as imagens, despertado e ampliado pelos meios de comunicação social”.

Compartilhando da colocação acima, Simões (Op. Cit., 41) afirma que “a imagem é um modo de expressão; é um código visual. Estudar a imagens é adentrar pelo mundo dos signos, em geral, e dos ícones, em especial. A era do computador anuncia e predetermina a crescente comunicabilidade do signo icônico. E a história das imagens parece coincidir com a história da humanidade”.


 

Conclusão

Observando a história da linguagem humana, os estudiosos sempre se preocupavam com a contextualização dos significados da palavra. A significação da palavra multiplica-se em vários conceitos os quais podem ser denotativos ou conotativos de acordo com o contexto trabalhado. Há uma geografia sociolingüística onde as palavras são usadas de diferentes formas semânticas e semióticas num mesmo país e até numa mesma região, dependendo do grau de instrução, idade, raça, sexo, entre outros.

O mesmo fenômeno acontece na imagem, pois cada leitor-visual interpreta-a de múltiplas maneiras. Segundo Almeida Jr. (1989: 95) “o significante do signo icônico situa-se no plano da expressão e é de natureza material (linhas, pontos, contornos, cores, etc.), enquanto o significado ou a pluralidade de significados possíveis (polissemia) situam-se no plano lógico do conteúdo, sendo de natureza conceitual e cultural”.

A interação “palavra-desenho” feita em sala de aula na aplicação da informação gramatical com o desenho, simplesmente, é uma provocação para que a aprendizagem do aprendiz escoe numa metodologia leve sem distanciá-lo do conteúdo-programático fundamental para seu avanço escolar.

 

Referências Bibliográficas

ALMEIDA JR., João Baptista de. Ter olhos de ver: subsídios metodológicos e semióticos para a leitura da imagem. Dissertação de Mestrado, FE-UNICAMP, 1989.

BIEMBENGUT SANTADE, Maria Suzett. Gramaticalidade visual em Sala de Aula. Mogi Guaçu: FIMI, 1996. (digitado)

––––––. Oralidade e Escrita dos Esquecidos numa Gramaticalidade Visual. Dissertação de Mestrado. PUC-CAMPINAS, 1998.

––––––. Gramaticalidade. Campinas: Átomo & Alínea, 2001.

––––––. Apreciações semânticas de relatos de aprendizagens. Tese de Doutorado. UNIMEP-Piracicaba, 2002.

CASSIRER, Ernst. Antropologia filosófica: ensaio sobre o homem. Trad. Dr. Vicente Felix de Queiroz. São Paulo: Mestre Jou, 1972.

DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. Trad. de Jefferson Luiz Camargo. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

PEIRCE, Charles Sanders. Ecrits sur lê signe. Paris: Seuil, 1978.

SIMÕES, Darcilia. Semiologia & ensino: reflexões teórico-metodológicas. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2003.