MARCADORES METADISCURSIVOS TEXTUAIS
E O GRAU DE DENSIDADE REFORMULATIVA
EM TEXTOS DIDÁTICOS ESPECIALIZADOS
*

Ednusia Pinto de Carvalho (UFC)

 

Introdução

O objetivo deste artigo é descrever as funções e a freqüência dos marcadores reformulativos explicativos: das heisst, (quer dizer, isto é, a saber), e sua forma abreviada- d.h (i.e). Tais elementos são entendidos aqui enquanto marcadores do metadiscurso textual, ou seja, marcas textuais deixadas pelos autores nos textos com a finalidade de guiar os seus leitores com relação às intenções e atitudes do autor impressas nos textos. Essas marcas representam na verdade a presença da audiência no texto, pois ao usá-las o autor leva em consideração as possíveis dificuldades de processamento das informações textuais por parte dos leitores e por esse motivo, guia o seu leitor.

Os marcadores reformulativos em questão serão analisados em textos que transmitem um discurso didático especializado de acordo com os contextos comunicativos: especialista-iniciado e professor-aluno.

Para tanto, selecionamos um corpus composto por um manual acadêmico- Didaktik des Leseverstehens (1985) (Didática da compreensão leitora) e um módulo de ensino à distância – Fertigkeit Lesen (1987) (Habilidade Leitora), ambos escritos em alemão pelo mesmo autor – G. Westhoff. Vale mencionar que as duas obras tratam do mesmo tema: o ensino e aprendizagem de leitura em alemão como língua estrangeira.

Esse estudo se justifica pelo nosso interesse em investigar (i) os usos e funções dos marcadores metadiscursivos enquanto marcas do metadiscurso textual nos textos didáticos especializados; (ii) a relação desses marcadores metadiscursivos com o grau de densidade reformulativa presente nos textos em análise. Para tanto, partimos do pressuposto de que a presença destes marcadores no texto didático reduziria o grau de conhecimento especializado, atenuando assim as deficiências na compreensão dos conteúdos e ao mesmo tempo, aproximando o conteúdo exposto no texto ao público-alvo.

A presente pesquisa segue o paradigma funcionalista, apoiando-se para tanto, no conceito de metafunção ideacional de Halliday (1985). Com relação aos marcadores reformulativos seguiremos a classificação de Carvalho (2005: 39) que por sua vez, modificou os esquemas dos marcadores reformulativos de Portolés (1998), bem como a taxonomia dos marcadores do metadiscurso textual de Hyland (1998). Para análise dos textos especializados utilizamos os pressupostos da Terminologia de base textual (Hoffmann, 1985, 1998), como representante do paradigma lingüístico-textual que rege os estudos terminológicos atuais.

 

O Modelo de metafunções de Halliday

Esse trabalho encontra apoio nos pressupostos do modelo sistêmico-funcional de Halliday devido ao fato de neste modelo, o enfoque de uma análise lingüística está na investigação do uso da língua em condições reais de ocorrências, além de trabalhar com as noções de funcionalidade da linguagem.

A teoria Hallidayana analisa e descreve a língua a partir de textos orais ou escritos, relacionando as possibilidades lingüísticas de escolha, dentro de um sistema de significados, à função ou à necessidade social a ser desempenhada em um contexto sociocultural (Possamai, 2004). Para Halliday (1985: XXX) o sistema lingüístico está intrinsecamente ligado ao social, ao uso. O modelo sistêmico-funcional vê a linguagem veiculada ao contexto social, em que os participantes constroem significados, de acordo com as circunstâncias históricas, culturais, sociais, nas quais estão envolvidos. Neste sentido, a língua para Halliday (1985: XIV) é um sistema de criação de significados, ou seja, um sistema semântico, com outros sistemas para codificar os significados produzidos.

Conforme Halliday (1985: xiii), os componentes fundamentais de significado na língua são os componentes funcionais. Todas as línguas são classificadas em torno de três significados principais: o ideacional, interpessoal e o textual. Halliday define esses componentes como as metafunções[1] (macrofunções)- ideacional, interpessoal e textual[2].

A metafunção ideacional[3] reflete a maneira como o usuário da língua organiza suas experiências e ações do mundo, ou seja, reflete como o usuário fala sobre as suas ações, as situações, estados, crenças, e as circunstâncias. Essa função se faz notar no vocabulário dos textos e está ligada ao contexto de uso através da variável Campo. Os marcadores reformulativos (code glosses) postulados por Hyland se baseiam na noção da metafunção ideacional.

A metafunção interpessoal diz respeito a todos os usos da língua para expressar as relações sociais e pessoais incluindo aqui todas as formas de intervenção do falante na situação de fala e no ato de fala. A metafunção textual trata da organização interna do texto. “Diz respeito à criação do texto socialmente contextualizado. Seu significado está ligado a categorias, tais como tema, relações coesivas” (Rodrigues, s/d).

A Lingüística Sistêmico-Funcional desenvolvida por Halliday tem o texto (oral ou escrito) como a maior unidade de análise (Neves, 1997: 63). Halliday (1985: XVII) concebe o texto como uma unidade semântica e não como unidade gramatical. Nessa perspectiva procura ver o texto em seu processo como um evento interativo, ou seja, uma troca social de significados. Neste sentido, o texto é um objeto e um exemplo de significado social em um contexto de uso específico. Tal contexto, por sua vez, está presente no texto por meio de uma relação sistemática entre o meio social e a organização funcional da língua.

Desta forma, o texto é um produto do meio, isto é, um produto de um processo contínuo de escolhas de significado. Ainda nas palavras de Halliday (1978: 122 apud Possamai, 2004: 67)

Um texto é (...) a realização, em termos lingüísticos, das escolhas léxico-gramaticais feitas por um indivíduo de acordo com a função, com o tipo de interação e com o ambiente social de um sistema de potenciais significados.

Observamos que a concepção de texto de Halliday se assemelha com o modo como Hoffmann (1998: 77) entende o texto especializado[4]. Para o referido autor, esse tipo de texto é visto como “instrumento e, ao mesmo tempo, resultado da atividade comunicativa exercida em relação a uma atividade especializada sócio-produtiva”.

Hoffmann (1998: 82) considera o texto especializado como a própria comunicação em uma situação profissional condicionada por fatores extralingüísticos e sociais.

 

Contextos Comunicativos
e Nível de Especialização

Os corpora foram selecionados dentre os materiais que utilizamos em sala de aula em um curso de formação de professores de alemão como língua estrangeira (LE) e pertencem à área de Lingüística Aplicada. Com uma maior observação do índice de cada obra que compõe os corpora em análise constatamos que tanto o Módulo de Ensino a Distância como o Livro abordam o mesmo assunto e, de certa forma, apresentam quase o mesmo conteúdo informacional. Observamos até mesmo que alguns capítulos do livro estão reescritos no Módulo. Inclusive o autor faz referência ao Livro no texto do Módulo, como outras obras de consultas, caso o leitor queira ou precise se aprofundar mais no tema ensino/aprendizagem de leitura em LE. Desta forma, acreditamos que o Módulo trata-se de uma reformulação textual[5] do Livro.

Conforme a classificação de Pearson (1998) para os contextos comunicativos, o Livro está inserido no contexto comunicativo: especialista-iniciado e o Módulo, no contexto professor-aluno. Neste sentido, em uma escala de níveis de especialização, acreditamos que o Livro representa um discurso com maior grau de especialização se comparado ao Módulo. Esse por sua vez, representa um discurso especializado com menor nível de especialização na escala de um continuum que varia do mais científico ao mais didático.

 

Metadiscurso

Metadiscurso, nas palavras de Crismore (1990: 92) significa o “discurso sobre o discurso”, isto é, a forma como o autor, “guia” o seu leitor com relação às intenções e atitudes do autor impressas no texto. Conforme Hyland (1998: 441) “o metadiscurso auxilia na compreensão da maneira como os autores organizam seus argumentos e como constroem suas relações com seus leitores”. Nesse sentido, o metadiscurso propicia ao leitor a possibilidade de organizar, classificar, interpretar e avaliar o conteúdo proposicional, ou seja, informação que tem valor verdadeiro em um determinado contexto.

A definição de metadiscurso adotada para os propósitos desse trabalho é aquela proposta por Hyland (1998: 438) como sendo “aqueles aspectos de um texto que explicitamente se referem à organização do discurso ou da atitude do escritor em relação ou ao conteúdo ou ao leitor”[6].

É importante lembrar que os sinais, as marcas metadiscursivas deixadas nos textos pelos autores para direcionar seus leitores na compreensão e apreensão do conteúdo proposicional, não fazem parte do estilo individual da escrita do autor e que podem, ainda assim, variar de autor para autor. Segundo Hyland (op. cit., p. 437), o uso de metadiscurso e suas formas de ocorrências estão intimamente ligadas às normas e expectativas de uma determinada comunidade profissional e cultural.Desta forma, cada comunidade profissional usa normas específicas em função da comunicação e do cenário comunicativo em que seus participantes estejam inseridos.

No que diz respeito às funções dos elementos metadiscursivos em textos de gêneros variados, lembramos Crismore (1990: 193). Nesse sentido, a referida autora comenta que ao produzir um texto, um determinado autor faz escolhas lingüísticas com o propósito de convencer um determinado público-alvo da veracidade dos argumentos ali nos textos expostos e os quais serão reconhecidos pelo leitor como persuasivos. Dentre estas escolhas lingüísticas encontramos os recursos metadiscursivos que desempenham basicamente duas funções principais: (i) função referencial/ informacional: quando os recursos indicam como entender o discurso em termos de conteúdo, estrutura, propósitos ou metas comunicativas do autor; (ii) função expressiva ou atitudinal: quando os recursos indicam como entender a perspectiva e atitudes do autor em relação ao discurso e ao leitor.

 

Metadiscurso Textual
e a noção de Reformulação textual

Para Hyland[7] (1998: 438) o metadiscurso textual é utilizado para organizar a informação proposicional de maneira a torná-la coerente para sua audiência específica e apropriada para um dado propósito. As marcas dessa categoria representam a presença da audiência no texto em termos da avaliação do escritor sobre as dificuldades de processamento dos conteúdos proposicionais ali transmitidos e a necessidade de orientação interpretativa desse público-alvo. Em outras palavras, podemos afirmar que os elementos do metadiscurso textual ajudam a caracterizar o tipo de leitor desse texto e a que contexto comunicativo ele pertence. Em resumo, esses elementos retratam a preocupação do autor com a sua audiência.

Hyland (1998: 443) define os marcadores de reformulação (code glosses) como “elementos que auxiliam os leitores na compreensão do conteúdo ideacional proposto no texto, por meio de explicações, informações adicionais, e comparações”[8]

Com o objetivo de investigar os usos e as funções dos marcadores reformulativos de explicação, seguiremos aqui a classificação de Carvalho (2005: 39). A autora modificou os esquemas de Hyland (1998) e de Portolés (1998) com o objetivo de atender aos fins de pesquisa e caracterizar os usos e funções dos marcadores de reformulação em textos didáticos especializados.

Adotamos nesse estudo o conceito de Reformulação Textual proposto por Fuentes Rodrigues (1993). Para esse autor, a reformulação se encontra no plano da enunciação e, como tal, trata-se de uma estratégia enunciativa que supõe um novo movimento enunciativo quando o precedente não se adequa à intenção do falante e por isso é necessário introduzir outro de uma forma bem mais clara. A autora esclarece ainda que a relação existente entre os dois enunciados (segmento 1 e segmento 2 – o reformulado) dá-se no plano macroestrutural.

É válido lembrar que o termo reformulação procede de Gülich e Kotschi (1983) e se apóia ainda na Teoria da Formulação de G. Antos (1982). Para esse autor, formular um enunciado é uma atividade intencional que requer um esforço, e que é então necessário resolver diversas dificuldades. Dentre elas, a distância entre o que se quer dizer e a expressão lingüística formulada para esse fim. Isso significa muitas vezes que o enunciado produzido não foi satisfatório para alcançar o propósito comunicativo desejado e requer, então, uma produção de uma nova formulação, ou seja, uma reformulação do que foi previamente dito.

Ainda sobre essa questão, Portolés (1998: 142) afirma que o membro reformulado, com esse novo enunciado, pode apresentar além de uma explicação de algo anterior até mesmo uma correção. Sua taxonomia dos marcadores reformulativos se fundamenta na função que a operação reformulativa exerce no texto, diz respeito aqui aos atos verbais (explicar, resumir, corrigir, justificar e exemplificar). Dessa forma, se estabelece entre os segmentos uma relação semântico-pragmática.

 

Metodologia

O presente estudo insere-se na área da descrição lingüística baseada em corpora. Foi realizado em termos numéricos com contagem de freqüência, além de incluir a etiquetagem discursiva manual dos marcadores em estudo.

Seguimos para tanto, os princípios metodológicos da Lingüística de Corpus (LC), aplicando o seu caráter instrumental à investigação dos marcadores em estudo. A escolha de tal procedimento se justifica por a LC adotar uma abordagem empirista e uma visão da linguagem como sistema probabilístico, investigando os fenômenos lingüísticos, textuais e discursivos em dados naturais, reunidos em corpora[9].Com essa concepção de linguagem evidencia-se assim uma ligação entre a perspectiva adotada pela LC e pela lingüística hallidayana, pois a visão de linguagem de Halliday se encaixa nos preceitos da LC e serve como arcabouço teórico maior no qual a mesma se insere (Berber Sardinha, 2004: 35).

Como mencionado em outras seções, os corpora que serviram para análise foram extraídos de materiais didáticos.

Após a seleção dos corpora, digitalizamos e armazenamos os textos em blocos de notas do Windows, para que compusessem arquivos com a extensão .txt para que pudesse ser lido pelo programa computacional WordSmith Tools. Assim temos um corpus com a seguinte extensão: O livro possui 52.127 tokens e 6.965 types. O módulo por sua vez possui 15.662 tokens e 2.830 types.

Após a cuidadosa digitalização, iniciamos a edição dos textos, ou seja, efetuamos uma limpeza em cada texto, manualmente retirando tudo o que não seria útil para a nossa pesquisa, como por exemplo, gráficos, tabelas, esquemas etc.

O terceiro passo consistiu em inserir manualmente etiquetas discursivas nos textos com o propósito de localizar rapidamente nos corpora o número de ocorrências dos marcadores reformulativos de explicação.

Em seguida, passamos à análise dos dados utilizando as seguintes ferramentas do WordSmith Tools (Scott, 1997): Wordlist e o Concord[10].

 

Análise dos Marcadores

Para analisar as ocorrências dos marcadores reformulativos de explicação partiremos dos estudos de Portolés (1998) e de Figueras (2002).

Para levantar a freqüência e o uso dos marcadores em estudo levantamos inicialmente o número de ocorrências dos mesmos com as listas de palavras do Wordlist, buscando somente as partes dos textos que continham os respectivos marcadores. Vale ressaltar aqui que tal operação só foi possível por conta da etiquetagem manualmente inserida nos textos em análise.

Dado ao escopo desse trabalho, analisaremos aqui apenas os marcadores reformulativos de explicação – das heisst (quer dizer, isto é, a saber) e sua forma abreviada d.h. Esse marcador e sua forma abreviada apresenta uma alta freqüência no livro (38 ocorrências) em comparação com o módulo (10 ocorrências). Porém, isso já é esperado e totalmente compreensível, tendo em vista que no livro o grau de densidade informacional é bem maior do que no módulo.

Neste sentido, não podemos esquecer que o discurso veiculado no livro é muito mais especializado do que aquele encontrado no módulo. Portanto, é natural que o autor faça uso de marcadores reformulativos com uma freqüência maior, com o propósito de explicar, elucidar, esclarecer ao seu leitor as unidades de significação especializadas, baixando assim o grau de densidade terminológica.

O marcador das heisst (isto é, quer dizer) apresenta muitos usos, conforme os dados observados. É utilizado geralmente para comentar o mesmo tópico por meio de uma outra expressão que irá elucidar melhor o que foi anteriormente dito. Desta forma, o das heisst, enquanto marcador reformulativo explicativo pode ainda definir um termo anteriormente mencionado, onde observa-se que nos dois enunciados (segmento 1 e o segmento 2- o que é introduzido pelo marcador) há uma equivalência de sentidos. Segundo Figueras (2002: 269) nesse caso ocorre uma reformulação parafrástica do tipo regressiva, pois o MRE indica que o segmento que introduz reinterpreta o membro discursivo anterior. Vejamos exemplos:

1.Die Begriffe bezeichnen unterschiedliche “Lesestile", wie man in der deutschsprachigen Fachliteratur sagt, <marcParaf> d. h. </marcParaf> verschiedene Arten einen Text zu lesen. (módulo, p. 100) (o enunciado introduzido pelo marcador explica o significado de Lesestile, definindo-o, tem-se aqui uma reformulação regressiva)

2. Für diese Phase ist das Klassengespräch die geeignetste Form,<marcParaf> d.h. </marcParaf> ein Plenum, bei dem die Kommunikation sowohl zwischen Lehrer und Schülern als auch zwischen den Schülern untereinander verläuft. (livro p.090) (explica, elucida, reformula definindo o termo Klassengespräch, há uma equivalência de sentido, refomulação regressiva)

E ainda quando expressa uma idéia que substitui ou contradiz aquela contida no enunciado anterior, corrigindo-a, fornecendo uma nova perspectiva daquilo que foi exposto, ou ainda quando introduz uma conclusão implícita ou uma conseqüência tem-se nesse caso, segundo Figueiras (op. cit.), uma reformulação progressiva. Nesse contexto, o das heisst funciona como um marcador reformulativo de correção, podendo ser substituído pelos marcadores: besser gesagt (melhor dizendo), will sagen (quero dizer). Observemos os seguintes exemplos:

3. Und es ist wohl kaum erstaunlich, daB Veröffentlichungen über Lesenlernen in der Muttersprache sich fast ausschlieBlich dem Erwerb des sogenannten technischen Lesens, <marcParaf> d.h. </marcParaf> der rein "technischen" Alphabetisierung, zugewendet haben. (livro, p.065) (refomulação progressiva, retifica a ideia de leitura)

4. Im Fremdsprachenunterricht ist der Lesestil oft durch die Aufgabenstellung vorgegeben. Damit wird vom Lehrbuchautor oder vom Unterrichtenden die Wahl getroffen, die später, "im normalen Leben", <marcParaf> d.h. </marcParaf> in der Anwendungssituation, auf die der Unterricht vorbereiten soll, vom Lernenden selbst getroffen werden muss. (módulo, p. 102) (corrige a afirmação anterior, reformulação progressiva)

Outra função que o marcador das heisst demonstra nos corpora é a de um exemplificador. Aqui o referido marcador apresenta um fato particular, explicitando a idéia geral que se encontra no enunciado anterior. Nesse caso antecede um sintagma nominal apresentando-o como específico e pode até mesmo ser substituído pelo marcador zum Beispiel (por exemplo). E ainda em algumas situações, se o enunciado que ele introduz finaliza com um usw. (etc.), fica clara a presença de uma enumeração incompleta. Vejamos um exemplo:

5.Anders gesagt: </marcParaf> Es ist nicht seine Rolle, Kenntnisse zu übertragen, sondern die Fertigkeitsschulung zu organisieren, <marcParaf> d.h. </marcParaf> Übungen organisieren, stimulieren, steuern usw. und nicht erörtern oder dozieren (explicação enumerativa) (livro p.91)(explicação exemplificativa) (apresenta uma estrutura do tipo: geral-particular)(reformulação progressiva)(amplia a informação)

6.Der erste Grundsatz ist, dass jede Aktivität – auch die mentale (<marcParaf> d. h. </marcParaf> das Denken) – auf Handeln beruht und dass Fertigkeiten (also auch Denkfertigkeiten) durch Handeln erworben werden. (módulo, p.076) (o marcador introduz uma exemplificação, ele traz uma mostra do fato geral citado anteriormente –relação: geral-particular, aqui pode trocar o marcador d.h. por z. B.)(reformulação progressiva).

 

Considerações Finais

Neste trabalho buscamos discutir os usos e funções dos marcadores reformulativos explicativos em corpora escritos em língua alemã com uso de uma ferramenta lingüística computacional – o WordSmith Tools.

Vimos que os marcadores em estudo (i) definem ou explicam conceitos desconhecidos, dos seus leitores, (ii) funcionam como marcadores de correção (iii) e como marcadores de exemplificação.

Observamos que o Livro apresenta um alto grau de densidade reformulativa se comparado ao módulo. Isso se deve sem dúvida à presença de uma alta freqüência de marcadores reformulativos, como também ao cenário comunicativo em que o Livro enquanto manifestação da comunicação especializada se insere.

Vale lembra aqui que não é somente a temática que define um texto como especializado, mas sim a forma de transmissão do conteúdo veiculado, o propósito da comunicação, e principalmente, a consideração dos tipos de leitores, a quem esse texto se destina, e o cenário comunicativo em que se inserem. Desta forma, concluímos que todos esses elementos condicionaram as escolhas sintáticas, morfológicas, textuais e metadiscursivas no momento da produção e do texto dito especializado.

 

Referências Bibliográficas

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BERBER SARDINHA, T. Lingüística de corpus. Barueri: Manole, 2004.

CARVALHO, P. E. Os marcadores metadiscursivos em textos didáticos especializados: um estudo em corpora em língua alemã. Fortaleza: Mestrado Acadêmico em Lingüística Aplicada, UECE, 115 p. Dissertação de Mestrado, 2005.

CRISMORE, A. Metadiscourse and discourse processes: interactions an issues. Discourse processes. Vol. 13. p. 191-205, 1990.

FIGUERAS, CAROLINA. Diferencias en el comportamiento discursivo de los marcadores reformuladores explicativos en español. Actas del X congresso Internacional de ASELE, 1999.

FUENTES RODRIGUES. C. Conclusivos e reformulativos. Verba 20. [s.n.e.], p. 171-198, 1993.

GÜLICH, E & KOTSCHI. Les marquers de la reformulation paraphrastique. Cahiers de linguistique française, 5, p. 305-351, 1983.

HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. Baltimore: Edward Arnold, 1985.

HOFFMANN, L. Caracteristiques del llenguatges d´especialitat. In: BRUMME, J. Llenguatges d´especialitat. Barcelona: IULA, p. 21-69, 1998.

––––––. Kommunikationsmittel Fachsprache. Eine Einführung. 2ª ed. Tübingen, 1985.

HYLAND, K. Persuasion and Context: the pragmatics of academic metadiscourse. In: Journal of curriculum studies. Vol. 30, p. 437-455, 1998.

PEARSON, J. Terms in Context. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1998.

POSSAMAI, V. Marcadores textuais do artigo científico em comparação português e inglês – um estudo sob a perspectiva da tradução. Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em Letras, UFRG, 165 p, Dissertação de Mestrado, 2004.

PORTOLÉS, J. Marcadores del discurso. Barcelona: Ariel, 1998.

SCOTT, Mike. Mike Scott´s Web Page. Disponível em               www.lexically.net/wordsmith/index.html. Acesso em 11/11/04.

WESTHOFF, G. J. Didaktik des Leseverstehens: Strategien des voraussagenden Lesens mit Übungsprogrammen. Ismaning: Max Hueber Verlag, 1985.

––––––. Fertigkeit Lesen. München: Goethe Institut,1987


 


 

*Esse trabalho apresenta aqui resultados da pesquisa realizada em nível de Mestrado, junto ao Curso Acadêmico de Mestrado em Lingüística Aplicada da UECE, com apoio da Funcap-Ce.

[1] Elas fornecem as explicações do uso da língua a partir das necessidades, dos propósitos do falante em um determinado contexto de uso. Essas metafunções dizem respeito à representação do mundo real (ideacional), ao modo de interação entre os falantes (interacional) e às relações lógicas presentes em um texto, ou seja, à textura (textual).

[2] Halliday lembra que a metafunção textual dá relevância às outras duas.

[3] A classificação dos marcadores do metadiscurso textual (a categoria- code glosses) de Hyland (1998) é baseada na metafunção textual de Halliday (1985).

[4] Esta é a concepção de texto especializado que adotamos nesse trabalho, conforme os estudos terminológicos de base textual.

[5] Entendemos reformulação textual no sentido mencionado por Bach (2005), como “um processo de reinterpretação textual, mediante o qual um determinado locutor retoma algum elemento discursivo anterior para apresentá-lo de outra forma e com uma determinada função discursiva”.

[6] Metadiscourse is defined here as those of the text which explicitly refer to the organization of the discourse or the writer´s stance towards either its content or the reader (Hyland, 1998: 438).

[7] Hyland (1998) modificou a classificação de Metadiscurso proposta por Crismore et. al. (1990) para análise de artigos acadêmicos em língua inglesa.

[8] “Code glosses help readers graps meanings of ideacional material”

[9] Aqui entendido como conjunto de dados lingüísticos textuais em formato eletrônico coletados criteriosamente com o propósito de servirem para uma pesquisa de uma língua ou de uma variedade lingüística (Berber Sardinha, 2004:19).

[10] O Wordlist fornece listas de palavras individuais de textos previamente selecionados em três telas diferentes em ordem: alfabética, freqüência e uma terceira com informações estatísticas.