OS CURSOS DE REDAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA
E DE OFICINA DE LÍNGUA PORTUGUESA NO CLAC/UFRJ
REALIZAÇÕES E PERSPECTIVAS

Maria Aparecida Lino Pauliukonis (UFRJ)
Mônica Tavares Orsini (UFRJ)
Ana Flávia Lopes Magela Gerhardt (UFRJ)

 

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Neste trabalho, apresentamos o Projeto de Redação que faz parte de um projeto maior, no âmbito da extensão universitária, desenvolvido na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro: ‘Curso de línguas aberto à comunidade’ (conhecido como CLAC). Dois são os objetivos centrais desse artigo: a) discutir a proposta pedagógica dos cursos de Redação e de Oficina de Língua Portuguesa, sua estrutura e público-alvo, bem como o papel do monitor e dos professores-orientadores, b) relatar suas principais realizações e perspectivas.

 

O PROJETO DE REDAÇÃO DO CLAC

O Projeto CLAC, que oferece, além de diversos cursos de idiomas (inglês, francês, espanhol, hebraico, japonês, alemão, russo etc.), os cursos de Redação e de Oficina de Língua Portuguesa, é um Projeto de Ensino e Extensão, que atende a alunos da Faculdade de Letras e das comunidades vizinhas. No que tange aos cursos de Redação e de Oficina de Língua Portuguesa, pretendemos aprimorar as habilidades dos alunos para a produção de textos dissertativo-argumentativos. Sabemos da dificuldade que recém-chegados à Universidade apresentam na redação de textos acadêmicos, uma vez que não estão familiarizados com a produção desse gênero textual, pouco ou mal trabalhado nos ensinos fundamental e médio. Por isso, grande tem sido a procura, por parte de alunos, não só da Letras, mas de outras unidades também. Essa procura tem se refletido no crescente aumento do número de turmas abertas a cada semestre, o que reforça a relevância desse trabalho.

Além de atender ao aluno iniciante com dificuldades em redação, tornando-o consciente do processo autoral da escrita de um determinado gênero didático-científico, o Projeto de Redação do CLAC contribui para a formação dos graduandos em Letras (futuros professores de português), que têm a oportunidade de se candidatar a uma vaga de monitoria (por meio de um processo seletivo que engloba prova de conhecimentos específicos e de aula), e de receber orientação de professores-orientadores, membros efetivos do corpo docente do Setor de Português da Faculdade de Letras, que monitoram todo o trabalho.

 

ESTRUTURA DOS CURSOS

O Curso de Redação se estrutura em três níveis (ou módulos) (Redação I, II e III), cada um deles correspondendo a um semestre letivo, e o Curso de Oficina de Língua Portuguesa, em um módulo.

 

PAPEL DOS MONITORES

Enfatizamos que os nossos monitores são alunos dos cursos de Graduação em Letras que passaram por um processo seletivo e são coordenados por um monitor-chefe, que faz a intermediação entre os monitores e os professores-orientadores e entre os monitores e a própria Coordenação do Projeto de Extensão. Os monitores se dedicam à preparação das aulas, à confecção do material didático-pedagógico e das avaliações mensais e ao desenvolvimento de pesquisas científicas, cujo fim é aperfeiçoar a qualidade do conteúdo trabalhado em sala, sendo sempre monitorados por professores-orientadores, que, fundamentados numa metodologia adequada, promovem a troca de experiências entre os monitores em reuniões específicas individuais e coletivas.

 

A PROPOSTA PEDAGÓGICA DOS CURSOS DE REDAÇÃO
E DE OFICINA DE LÍNGUA PORTUGUESA

O curso de redação

Quanto ao Curso de Redação, a primeira etapa, chamada de Redação I (RED I), procura desenvolver a habilidade escrita por meio do estudo do parágrafo. A partir da formulação básica de tópico frasal bem como das diferentes maneiras de desenvolvimento de um parágrafo, diversas atividades são elaboradas no sentido de levar o aluno a compreender os aspectos semânticos necessários à boa construção do parágrafo. Em princípio, os materiais elaborados seguem as propostas de Garcia (1985), mas outros autores também são pesquisados a fim de que os alunos possam receber informações atualizadas e diversificadas sobre o assunto. (cf. referências bibliográficas).

A opção por partir do parágrafo justifica-se pelo fato de esse assemelhar-se estruturalmente ao texto dissertativo, com dimensões reduzidas, facilitando o aprendizado. A ementa desse nível prevê os seguintes itens: organização e constituição do parágrafo, os tipos de parágrafos e sua estruturação. Nessa perspectiva, são também introduzidas as noções de coesão e coerência textuais, que ocupam o centro da cena na etapa seguinte do curso. Dessa forma, a etapa Redação I prepara o aluno para as outras que seguirão, na medida em que procura fazê-lo voltar o seu olhar para as organizações de significado do texto, sem deixar de lado, evidentemente, as questões de forma, como concordância, pontuação etc.

A etapa Redação II (RED II), por sua vez, preocupa-se em trabalhar a macroestrutura da redação, sua organização e o desenvolvimento de argumentos. Focaliza, portanto, a construção do texto como um todo, com ênfase nos aspectos de coesão e coerência textuais, responsáveis pela unidade semântica do texto.

Na etapa Redação III (RED III), os alunos são chamados a se conscientizarem de que são autores, que devem estar prontos a interagir com diferentes interlocutores, inclusive consigo mesmo. Assim, o módulo tem por finalidade torná-los leitores críticos de seus próprios textos, incutindo neles a idéia de que a produção textual envolve o exercício constante da reescritura. Para se alcançar tal objetivo, são analisados textos bem e mal formados e propostas atividades que enfatizem a natureza artesanal da composição de textos escritos, que requerem seguidos olhares e correções para adquirirem qualidade em termos de forma e conteúdo.

Ao final dos três semestres, percebe-se que os aprendizes tornam-se aptos a refletir sobre as escolhas lexicais e estruturais de sua redação, a discutir o papel fundamental da Gramática e da norma padrão no exercício da produção textual. Enfim, adquirem uma visão mais ampla da complexidade e da pertinência das estratégias redacionais, de acordo com a temática, o gênero de texto e o modo de organização do discurso.

 

O curso de Oficina de Língua Portuguesa

Devido à dificuldade da maior parte dos alunos em efetuar a revisão gramatical de seus textos, com base na norma escrita culta, criamos um curso de Oficina de Língua Portuguesa, cujo objetivo é o de minimizar tais dificuldades, com ênfase na morfossintaxe, nos processos mais complexos de coordenação e subordinação, nos problemas de coesão em vários níveis, nos casos de regência, concordância e pontuação. Faz-se, contudo, uma opção metodológica pautada na reflexão, sendo propostas atividades de manipulação de estruturas gramaticais que têm por finalidade levar os alunos a uma compreensão metalingüística que lhes permitam atuar agentivamente sobre as construções que utilizam ao escrever.

Deve-se salientar, relativamente à ênfase dada à norma padrão neste curso, que não se assume aqui uma perspectiva normativa e prescritiva no ensino das estruturas lingüísticas; a opção pela norma padrão deve-se ao fato de que este saber sobre a língua é o que geralmente nos é solicitado ao longo da vida escolar e profissional. O curso de Oficina, elaborado de acordo com esta consciência, busca preparar o aluno para que ele possa expressar-se por escrito com proficiência e capacidade de escolha das construções gramaticais que melhor se ajustem aos textos que pretende escrever, movimentando-se com naturalidade entre as estruturas e podendo escolher a que mais se encaixa nos seus propósitos comunicativos.

 

O MATERIAL DIDÁTICO

O material didático dos cursos compõe-se de apostilas elaboradas pelos monitores sob a orientação dos professores-orientadores. Além disso, é freqüente a inclusão, ao longo do semestre, de novos materiais, já que um dos objetivos do projeto é atuar na formação do futuro professor, levando-o a perceber que é preciso estar permanentemente repensando sua prática e, conseqüentemente, produzindo novos materiais que se adequem melhor às necessidades de seu alunado. Essas apostilas contêm textos literários e não-literários, de diversos gêneros, a saber: poemas, contos, crônicas, matérias jornalísticas – como notícias, editoriais, artigos opinativos – textos propagandísticos, tiras de quadrinhos, entre outros, que fomentam a discussão e apresentação de informações teóricas e descritivas complementares às aulas, acompanhadas de bastantes exercícios para que os alunos pratiquem sua escrita e construam textos com freqüência. A seleção dos textos que são incluídos nas apostilas é feita com cuidado, tendo em vista a premissa de que o material deve estar em consonância com a realidade de mundo do alunado. É fundamental que os aprendizes se identifiquem com os temas abordados para que seus textos revelem uma argumentação consistente.

 

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR-PESQUISADOR

Os cursos de Redação e de Oficina de Língua Portuguesa, por integrarem um Projeto de Extensão Universitária, não podem perder de vista o seu papel social. A Universidade não deve se fechar em si mesma, mas, ao contrário, produzir conhecimento que possa colaborar para transformar a sociedade. Nesse sentido, objetivamos minimizar as dificuldades que as pessoas, embora, na maioria das vezes, já tenham concluído o ensino médio, continuam apresentando, no que tange à produção de bons textos dissertativo-argumentativos e ao conhecimento da norma padrão.

É justamente por apresentar tal papel social que não podemos deixar de pensar na formação do futuro professor de língua portuguesa. Na relação monitor / professor-orientador, construímos um espaço permanente de reflexão pedagógica, estabelecendo um diálogo entre o que e como ensinar com as teorias e pesquisas lingüísticas mais recentes, desenvolvidas no meio acadêmico. Estamos, assim, contribuindo para formação de um professor-pesquisador que não se contenta apenas em reproduzir o saber adquirido na Universidade, mas sim em produzi-lo, tornando o ensino mais eficaz e produtivo.


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, Antônio Suarez. Curso de redação. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1994.

ALMEIDA, Erica de Sousa; SALES, Suelen. Apostila de redação II. (material didático preparado para uso no curso de Redação II, oferecido pelo CLAC). Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, UFRJ. 2004.

ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2005.

CAMARGO, Thaís Nicoleti. Redação linha a linha. São Paulo: Publifolha, 2004.

CARNEIRO, Agostinho Dias. Redação em construção: a escritura do texto. São Paulo: Moderna, 1993.

FIGUEIREDO, Luiz Carlos. A redação pelo parágrafo. Brasília: Ed. da Universidade de Brasília,1999.

GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em prosa moderna. 12ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1985.

LIMA, Bruno Cavalcânti e FERREIRA, Michelli. Apostila de redação I. (material didático preparado para uso no curso de Redação I, oferecido pelo CLAC). Rio de Janeiro: Faculdade de Letras/UFRJ, 2004.

ORSINI, Mônica Tavares; MACHADO, Ana Carolina M.; SILVA, Hayla Thami. Apostila de redação III: a formação do autor-revisor. (material didático preparado para uso no curso de Redação III, oferecido pelo CLAC). Rio de Janeiro: Faculdade de Letras / UFRJ, 2006.

SALES. Suelen e VIANNA, Juliana Segadas. Oficina de língua portuguesa (material didático preparado para uso no curso de Oficina de Língua Portuguesa, oferecido pelo CLAC). Rio de Janeiro: Faculdade de Letras / UFRJ, 2004.

THEREZZO, Graciema Pires. Como corrigir redação? São Paulo: Alínea, 2002.