LÍNGUA MATERNA, TU ÉS INCULTA E BELA!

Luciene Pinheiro de Souza (UENF)
Rita de Cássia Mota Ribeiro (UENF)

 

INTRODUÇÃO

Última flor do Lácio, inculta e bela
 És a um tempo, esplendor e sepultura.
Olavo Bilac

 

A língua portuguesa, nascida da completa separação entre o galego e o português, vem demonstrando e comprovando, através de sua história, que “a língua é um fato social, no sentido de que é um sistema convencional adquirido pelos indivíduos no convívio social” (Saussure, 1981: 23). No entanto, não se pode negar o seu caráter heterogêneo, a língua só possui possibilidade de existência, se vista como um conjunto de variedades, cuja mudança é um processo implacável. Entender língua como um sistema uno, imutável e rígido, parece está ultrapassado.

De acordo com Lucchesi (2002), o comportamento lingüístico de qualquer indivíduo está condicionado a um antagonismo necessário: a heterogeneidade real e a homogeneidade artificial do padrão normativo ideal. A beleza da língua portuguesa reside na aceitação dessa realidade. Uma construção lingüística não deixa de ser norma, mesmo que assumida individualmente. Cada construção está ligada necessariamente a fatores sociais, culturais e ideológicos, desenvolvendo assim uma língua que desempenha bem as suas funções através de sua pluralidade.

Cohen (1971, apud Alkmin) afirma que os fenômenos lingüísticos se realizam no contexto variável dos acontecimentos sociais. Benveniste (1989: 27) diz que “é dentro da, e pela língua, que indivíduo e sociedade se determinam mutuamente” ambos somente ganham existência pela língua. É pelo exercício da linguagem, pela utilização da língua, que o homem constrói sua relação com o outro. O autor (1989: 101-102) afirma que o homem “se situa necessariamente em uma classe, seja uma classe de autoridade ou classe da produção” e, conseqüentemente, a língua, enquanto prática humana, “revela o uso particular que grupos ou classes de homens fazem (dela) [...] e as diferenciações que daí resultam no interior de uma língua comum”.

 Essa abordagem deixa clara a relação língua e sociedade na construção do homem em sua contingência social. A divisão social é uma verdade incontestável e a língua não fica distante desse contexto, visto ser reflexo da sociedade. Ao fazer menção à língua culta como a privilegiada, determina-se, pela sua historicidade, o fator econômico e, por conseguinte, a relação de poder. Ao fazer menção à língua coloquial, toma-a como a língua do povo, miserável e errada; toma-a, enfim, como a língua errada. O que acontece, na verdade, é que o senso comum está impregnado nessa visão equivocada da língua, em que miséria social e miséria da língua se entrelaçam, se confundem, se discriminam.

A língua tem um papel importante enquanto “inculta”, ao demonstrar, ao propor e ao indicar que sua essencialidade não coexiste somente no seu prestígio, mas também, conforme afirma Bakhtin (1997), no fenômeno social da interação que se realiza através da enunciação. A realidade fundamental de uma língua se constitui através da interação, que proporciona ao indivíduo condições de democratização do processo comunicativo.

 

A LÍNGUA MATERNA: UM HISTÓRICO

Assim como as demais línguas românicas, o português também é resultado de um demorado e complicado processo de transformação, através dos séculos. Provavelmente, de quinze a vinte mil anos a.C., das regiões do centro da Europa e a Leste indo até o Turquestão e as estepes russo-siberianas, saíram diferentes tribos, espalhando-se pela Europa e parte da Ásia e levaram consigo a sua língua: o indo-europeu ou também chamado indo-ariano ou ária.

Pesquisas feitas pelo filósofo alemão Franz Boopp demonstram o parentesco lingüístico das línguas indo-européias e provaram a existência do indo-europeu, através do método da gramática comparada, pelo estudo de diversos fatos fonéticos, morfológicos e sintáticos.

Do ramo itálico originou-se, dentre outras, o umbro, o latim e o osco, respectivamente, do noroeste, centro e sul da península itálica. Isso acontece devido à penetração dos árias na Itália, no segundo milênio a.C.

O latim era a língua de um povo simples e rudimentar, que habitava o Lácio, região central da Itália, fundada, supostamente, em 753 a.C.. Roma era o berço das grandes navegações, tornando-se, assim, ponto fundamental de estratégias de comércio, política e guerrilha.

O aumento do poder fez com que a ambição de Roma se potencializasse a cada conquista, fazendo com que o exército romano se espalhasse por séculos e séculos, em quase todo o mundo, impondo sua língua e cultura a todos. Passa a existir, devido a essa imposição, uma assimilação da influência do povo conquistador, mais tardiamente, denominado romano.

As conquistas romanas iniciaram-se no século IV a.C. e estenderam-se até pouco depois do século I da era Cristã. Roma conseguiu sobreviver como unidade política até 1453, mesmo ameaçado desde o século VI, pelas invasões eslavas. Mesmo com sua fragmentação, sobreviveu como unidade política até 1453, ameaçado desde o século VI pelas invasões eslavas.

Com a invasão bárbara, no século V, desaparece a nobreza romana, e, com ela, as escolas. Desse modo, a preocupação pela cultura intelectual passa a ser cultivada apenas nos mosteiros.

Esse latim dos mosteiros ou latim eclesiástico, medieval ou baixo latim foi o latim literário do declínio do Ocidente e a língua oficial das ciências da Idade Média. Ao lado desse latim, surge um latim ‘desregrado’, misturado com o léxico de outras línguas, empregado pelos tabeliões. Foi o latim bárbaro que os cartórios documentaram em contratos, testamentos, doações e outros documentos periódicos.

Surge assim, nessa miscigenação, o termo vulgaris, levado pelos soldados e pela plebe às mais distantes regiões do Império Romano. Por volta de 600 anos da era Cristã, esse latim rude e somente falado originou várias alterações, surgindo os romanos medievais que, posteriormente, deram origem às línguas românicas ou neolatinas: francês, italiano, espanhol, romeno, céltico, dalmático, sardo, galego e português.

Em relação à evolução da língua portuguesa, pode-se dividi-la em fases, utilizando critérios lingüísticos e extralingüísticos. Essa divisão só é possível se considerado o aspecto didático, pois não é possível evidenciar precisamente quando uma língua surge. Tais fases foram divididas em: época pré-histórica (das origens ao século IX); época proto-histórica (do século IX ao século XII) e época histórica (do século XII até os dias atuais).

A miscigenação ocorrida na Península Ibérica deve-se às invasões dos bárbaros e dos árabes bem como a fatos políticos, sociais e lingüísticos deles decorrentes. Esses fatos constituem a relativa unidade e a latente diversidade do romano galego-português, explicam o desenvolvimento paralelo dos dois idiomas neolatinos: o galego e o português.

Após a separação de Portugal da Galiza, no século XII, a língua falada era o galego-português. Somente no século XIV, há a consolidação da língua portuguesa, consagrando-se como língua oficial da nação.

 

A SUPREMACIA DA NORMA CULTA

A história do ser humano relaciona-se à história da organização social. A vida em sociedade requer interação, surgindo daí a necessidade de intercâmbio e de comunicação.

Dentro desse contexto, concernente às questões lingüísticas, discute-se a supremacia da norma culta. O conceito de norma é polêmico. Ao refletir sobre o significado da palavra norma, fica explícita a imposição lingüística de uma classe social favorecida, geradora de discriminação social e econômica. Esse mesmo grupo, conservador e retrógrado, deprecia os usos lingüísticos da maioria brasileira “como se fossem aleijões gramaticais” (Bagno, 2004: 165).

Já a palavra “culta”, como afirma Faraco (2002, apud Bagno, 2002), carrega, de forma implícita, a existência da palavra oposta “inculta” que sugere um julgamento preconceituoso, visto que, ao se referir ao termo inculto, faz-se logo associação ao erro, à falta de escolarização e de oportunidade.

Na verdade, as duas palavras, juntas, reforçam ainda mais o caráter depreciativo com relação as outras variedades. Dentro desse quadro, o ser lingüístico supremo continua sendo a norma culta. Ela é exemplo de beleza, de elegância, de prestígio. É a língua dos nobres, dos intelectuais. É a forma correta.

 A língua reflete o lado social do indivíduo e intervém questões de poder. Isso parece ter induzido, tendenciosamente, a sociedade à supremacia da norma culta. Para Bakhtin (1997), a língua, enquanto fenômeno social, faz-se na interação verbal, daí não poder tratar a mesma desvinculada às ideologias vigentes na sociedade. O termo “inculta” faz menção ao popular que possui, por sua vez, caráter depreciativo da sociedade.

Bagno (2005), diz que a concepção tradicional da língua reduziu a norma culta a uma forma estática, homogênea, produto acabado, pronto para consumir. O autor argumenta que essa concepção deixa implícita a idéia de que língua e norma culta são sinônimos, e mais, de que norma culta e gramática se reduzem a uma mesma coisa. Esse reducionismo considerou apenas a língua como ferramenta.

Calvet (2004: 65) afirma que essa definição é neutra, ela desconsidera que “as atitudes lingüísticas exercem influências sobre o comportamento lingüístico”. No entanto, ao considerar a língua como uma atividade social, é inconcebível continuar com essa visão, afinal, ela se modifica à medida que vai utilizando-a, de acordo com as atitudes e sentimentos do falante frente a mesma.

Essa concepção abstrata e reducionista de língua>norma>gramática é tão antiga que já se tornou parte integrante das crenças e superstições que circulam na sociedade. É essa cadeia sinonímica equivocada que permite a muita gente acreditar que o manual de gramática e dicionário contêm as únicas possibilidades de uso da língua, como se fosse possível encerrar em livro toda a complexidade que governa as relações dos seres humanos entre si e consigo mesmo por meio da linguagem. (BAGNO, 2005: 20-21)

Na prática viva da língua, a consciência lingüística do locutor e do receptor nada tem a ver com um sistema abstrato de formas normativas, mas apenas com a linguagem no sentido de conjunto dos contextos possíveis de uso de cada forma particular. De acordo com Bakhtin, o indivíduo a utiliza para suprir suas necessidades pontuais e concretas. A forma de enunciação demonstra a versatilidade da língua em que a mesma é enunciada numa forma lingüística mais adequada a uma dada situação sociocomunicativa. A língua não é um sistema monolítico e transparente, mas variável, heterogênea e sempre situada em contextos de uso.

Authier (1987, apud Orlandi) estabelece o conceito de heterogeneidade enunciativa. Esse conceito tem a finalidade de descrever o fato de que em todo dizer tem, necessariamente, em si, a presença do outro. O que determina a relação lingüística do eu com o outro é a sua historicidade. Portugal e Brasil, por exemplo, falam a mesma língua, mas devido ao histórico específico de cada país, percebem-se diferenças.

Segundo Orlandi (2000), ao falarmos o português, nós, brasileiros, estamos sempre nesse ponto de disjunção obrigada: nossa língua significa em uma filiação de memória heterogênea. Essas línguas, o português e o brasileiro, filiam-se a discursividades distintas. O efeito de homogeneidade é o efeito produzido pela história da colonização.

Marquês de Pombal instituiu um decreto cuja política lingüística consistia na proibição do ensino de qualquer outra língua, no Brasil, que não fosse a língua portuguesa; essa seria a norma padrão vigente. Pela primeira vez, entra em cena a imposição lingüística autoritária como meio de facilitar a manipulação da sociedade. Foi um longo processo de repressão lingüística, exterminando, inclusive, fisicamente, quem fizesse uso de outras línguas.

Fica nítido, então, que a supremacia da norma culta, a norma dos privilegiados social e economicamente instituídos, está intimamente ligada à formação histórica brasileira. A exclusão lingüística é, sobretudo, uma atividade de poder, de dominação, apontando um único caminho para a interação verbal. O que ocorre é o ocultamento da riqueza e da beleza da diversidade lingüística. Essa supremacia desconsidera a língua viva, dinâmica e heterogênea.

A realidade lingüística brasileira, enquanto norma culta, tem se mostrado adversa a uma maioria falante. O que se privilegia é a língua usada pela minoria dominante, detentora de prestígio. Bagno (2005) acredita que essa minoria determina o que pode ser considerado erro ou deslize. Se quem fala é de origem social privilegiada, o erro é tolerável, mas se o falante é de origem desprivilegiada, o erro é intolerável.

O autor (2005, 29) afirma que o erro desse falante “é tachado como erro crasso, [...] isso porque o que está sendo avaliado não é apenas a língua da pessoa, mas sim a própria pessoa, na sua integridade física, individual e social”. Para que haja mudança nessa visão preconceituosa, é necessário que haja uma transformação nas relações sociais.

Por outro lado, como as águas do rio seguem seu curso livremente, vencendo toda forma de obstáculos que aparecem pela frente; assim, também, corre a língua que, mesmo com toda forma de coerção, de impedimentos, ela flui numa cadeia interminável de relações lingüísticas.

 

A PLURALIDADE DA LÍNGUA MATERNA

Não se pode pensar os problemas que envolvem o uso de uma língua sem ter em mente sua diversidade.

O grande avanço da Sociolingüística se funda basicamente na sua conceituação de língua como sistema intrinsecamente heterogêneo, em que se entrecruzam e são correlacionáveis fatores intra e extralingüísticos, ou seja, fatores estruturais e fatores sociais (como sexo, idade, etnia, escolaridade, estilo) (SILVA, 2002, apud BAGNO,: 291).

Segundo Perini (2004), a maioria das pessoas tende a pensar que a língua de verdade, aquela que muitos chamam de “português certo”, é o “português escrito”, o português ensinado na escola, com toda a dificuldade que ele apresenta. Já, a língua falada por, praticamente, todos, é denominada, desrespeitosamente, “português errado”.

O fato é que cada variedade tem seu espaço bem definido, isso é fato e deverá continuar sendo nos próximos séculos. Vale conviver com essa realidade, não negando a situação que é tão evidente. A noção de “certo” ou “errado” depende, principalmente, do contexto e do meio a que se refere.

Dessa forma, percebe-se que a diversidade está relacionada à identidade social do emissor falante, à identidade social do receptor ouvinte, ao contexto social e ao julgamento social distinto que as pessoas fazem do comportamento lingüístico sobre os outros. Segundo Labov (1996, apud Calvet), a idade, o sexo, a ocupação, a origem étnica, as atitudes são fatores que se relacionam com o comportamento lingüístico.

Toda língua “muda” e “varia”, ou seja, a mudança acontece com o tempo e a variação no espaço, além da situação social do usuário. Não há como tratar a língua como se ela fosse uma coisa só, imóvel, imutável, uniforme. Aceitar como verdade absoluta as afirmações, as regras da Gramática Tradicional é não aceitar suas mudanças e variações.

Há uma noção ultrapassada em relação ao uso da língua, o “errado”, “o feio”, o “deselegante” são apenas estereótipos que os estudos lingüísticos modernos têm combatido.

A língua não pode ser concebida na ausência de um sujeito, sendo assim, ela é governada por um preceito sociocognitivo, preceito esse inerente ao indivíduo. Daí entendê-la como multissistêmica. A língua é, de certa forma, a condensação de um homem historicamente situado.

Logo, para Alkmim (2001), existe sim uma língua materna, porém vista e analisada sob três parâmetros básicos: um social, um histórico e um geográfico, e a língua conhece variações nesses três eixos: variações diastráticas (correlatas aos grupos sociais); variações diatópicas (correlatas aos lugares) e variações diacrônicas (correlatas às faixas etárias). Eles possuem competências que se entendem entre formas vernaculares e formas veiculares, mas dentro de um quadro de um mesmo conjunto de regras lingüísticas.

 

SOCIOLINGÜÍSTICA: CONTRIBUIÇÃO
PARA UMA CONCEPÇÃO MENOS PRECONCEITUOSA

A sociolíngüística é uma recente inclinação dos estudos que vêm procurando associar as buscas das Ciências Sociais e as da Lingüística. Essa ciência examina as relações entre a linguagem e a condição social do falante, considerado como parte de uma comunidade.

O modelo sociolingüístico, segundo Lucchesi (2004: 165), é resultante da rígida dicotomia saussuriana entre análise sincrônica e diacrônica, através de suas análises estruturais de mudanças ocorridas no passado.

Essa ciência tem como objeto de estudo a língua em uso no seio das comunidades de fala, sempre considerando os aspectos lingüísticos e sociais.

Para Lucchesi (2004: 167), “a teoria sociolingüística, apesar de reconhecer que observar o encaixamento da mudança na estrutura lingüística é o primeiro passo para entender o mecanismo da mudança, afirma que, apenas a consideração desses fatores estruturais internos não é suficiente para construir uma explicação de mudança”.

A linguagem é considerada um produto situado em sua relação com a cultura e a sociedade, determinada no “aqui” e no “agora”, ou seja, no uso.

Partindo desse princípio, pode-se afirmar que as experiências vividas pelo povo são delineadas através do uso de cada língua e essas mesmas experiências não, necessariamente, coincidem de uma região para outra. As línguas apresentam concepções diferentes da realidade e, por sua vez, o “mundo real” é construído inconscientemente de acordo com os lingüísticos da comunidade.

A língua necessita receber um tratamento que considere os fatores externos tais como as variedades rurais, urbanas e classes sociais; os estilos de linguagem; as formas de tratamento e a linguagem de grupos segregados, pois assim sendo os “famosos e preconceituosos erros” terão chances de se tornar apenas diferenças socialmente aceitáveis.

A motivação para falar um outro modo de fala é sempre social, porque mesmo o senso comum opera com a idéia de que existe uma língua que é adquirida distintamente, em função de condições diversas, pelos falantes. E ainda afirma “Julgamos não a fala, mas o falante, e o fazemos em função de sua inserção na estrutura social (ALKMIM, 2001: 40).

Bagno (2005: 73), argumenta que além de precisarmos modificar nossa maneira de encarar o português não-padrão, libertando-nos de todos os preconceitos que atrapalham a nossa visão dos fenômenos da língua, também precisamos transformar nossa maneira de trabalhar com a própria norma-padrão.

Os estudos e as pesquisas sociolingüísticas muito têm contribuído para que se consiga despertar nas pessoas o amor pelo “verdadeiro” português-padrão que falamos e não somente escrevemos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A língua pode ser comparada às águas de um rio, sem fronteiras e sem limites. Não há como represar seu fluido de curso, enquanto existirem pessoas fazendo uso dela. A língua sempre irá avançar, sofrendo modificações, variações e transformações que, historicamente, já foram provadas.

É importante que se lute para desmitificar construções como: “o inculto não presta, o inculto é feio, o inculto é errado”, pois analisando ao pé da letra uns dos significados do verbo “errar”, pode-se encontrar a denotação de “perambular, ir de um lado para o outro, vagar sem destino” – isso demonstra a concepção avessa que, tradicionalmente, é aplicada ao termo.

Na realidade, nenhum indivíduo que aparentemente “desrespeita” as regras da gramática normativa faz uso da língua de maneira vazia, indeterminada, sem saber o que está querendo, ou aonde quer chegar. Pelo contrário, ele faz uso de uma gramática natural, que é própria dele.

Não há como negar que a nossa língua, predominantemente brasileira, apesar do sentido pejorativo criado pelo senso comum, é inculta e, sem idéia adversativa implícita, bela, extremamente bela, haja vista sua riqueza e sua diversidade.

Entre outras mil, és tu, língua materna, a língua amada, reflexo de nossa pátria. Apesar das intervenções sociais ideológicas de poder, és mãe gentil, língua amada, língua pátria, Brasil.

 


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALKMIN, Tânia. Sociolingüística. In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. (orgs.). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.

BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro?: um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola , 2004.

____. A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira.São Paulo: Parábola, 2005.

____ (orgs.). Lingüística da norma. São Paulo: Loyola, 2002.

BAKHTIN, Mikhael (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec,1997.

BENVENISTE, E. Problemas de lingüística geral II. São Paulo: Cia Editora Nacional/EDUSP, 1989.

CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola ,2004.

LUCCHESI, Dante. Norma lingüística e realidade social. In: BAGNO, Marcos (orgs.), Lingüística da Norma. São Paulo: Loyola, 2002.

Orlandi, E. P. Língua e conhecimento lingüístico. São Paulo: Cortez, 2002.

PERINI, Mario A. A língua do Brasil amanhã e outros mistérios. São Paulo: Parábola, 2004.

SAUSSURE, F. de. Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix, 1981.