Água Viva, um texto pulsante sobre o indizível

Christiane Karydakis (UERJ)
Marillia Raeder Auar Oliveira
(UERJ)

 

Considerada uma escritora de ficção de vanguarda, Clarice Lispector continua sendo objeto de fascinação e de estranhamento na literatura brasileira.  Água Viva, obra publicada em 1973, reflete bem o estilo clariceano de narrar: O texto ficcional que constitui objeto de exame do presente ensaio mais parece uma série de anotações.

Não existe enredo em Água Viva, prevalecendo a repetição dos mesmos temas e o desfile de imagens multifacetadas, similares ao jogo de variações existente na música.  A circularidade está presente desde a primeira até a última frase do livro: não há começo, meio ou fim. Trata-se de um texto para ser muito mais vivido do que lido, no qual a sensibilidade aflora constantemente, em um fluir de experiências vivenciadas de forma intensa. Clarice rompe com o sistema, virando-o pelo avesso, revelando o indizível, o proibido a que Barthes se refere. A autora promove a desconstrução – conceito elaborado por Jacques Derrida – e a desautomatização da linguagem, ao decompor e desmontar o próprio sistema de escrita, para tentar se libertar da náusea de viver, através da palavra expressa em neologismos, de construções inovadoras, da busca pelo sentido perfeito e por um equilíbrio entre forma e conteúdo, promovendo a exaltação do ser interior, do sujeito superfragmentado e da passagem da crise psicológica à angústia metafísica.

 

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