Conhecimento fonológico
sob a ótica dos modelos multirepresentacionais

Christina Abreu Gomes (UFRJ/CNPq)

 

A Lingüística Probabilística e os modelos baseados no uso propõem uma arquitetura de gramática em que o léxico é organizado multidimensionalmente em função de similaridades fonéticas e semânticas. Assume-se, pelo menos, dois níveis hierárquicos de representação das formas das palavras: um nível em que as formas fonéticas possíveis de realização dos itens lexicais que fazem parte da experiência do falante de ouvir e produzir os itens lexicais, e um nível mais abstrato de categorias fonológicas e relações fonotáticas que emergem das representações do nível fonético. Portanto, nesse modelo, as representações fonéticas são abstrações da fala e a fonologia emerge da organização do léxico. Existem evidências que apontam para o fato de que esses níveis podem se desenvolver independentemente na aquisição, uma vez que características que diferenciam crianças com desvio fonológico e déficit específico da linguagem poderiam estar associados a problemas nos dois níveis de representação, respectivamente nível fonético e nível de representação abstrata. Como decorrência, assume-se que a variação sociofonética é representacional e não o produto de uma regra ou restrições não hierarquizadas, conforme respectivamente a tradição dos estudos sociolingüísticos ou o tratamento da teoria da otimalidade. A variação inerente, conforme postulada por Weinreich, Labov e Herzog (1968) é capturada num modelo em que constitui, falando especificamente da variação fonológica, parte do conhecimento fonológico do falante e está representada nos dois níveis mencionados, uma vez que as variantes são formas fonéticas distintas da mesma palavra que contribuirão para a abstração de categorias abstratas. A aquisição pode ser entendida como um ajustamento da representação metal das formas sonoras das palavras e das abstrações que emergem do léxico. É de se esperar que a representação lingüística mude no curso da aquisição decorrente da experiência da criança com o input e da constante reorganização do léxico em expansão.

 

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