Contribuição para uma estilística
das primeiras crônicas americanas
fundada no léxico indigenista

Luiz Antônio Lindo (USP)

 

Por se valer da contribuição de duas fontes distintas de pesquisa, a científica e a estética, a estilística revela-se a disciplina de escolha para o investigador que ambiciona esclarecer questões suscitadas pela leitura de textos propensos a sugerir a necessidade de uma interpretação duplamente orientada por aquelas direções. Os textos dos primeiros cronistas do século XVI, em português e espanhol, são um exemplo disso, em virtude da dupla função que neles exercem os vocábulos indígenas adotados pela primeira vez para expressar a realidade americana. Nesse sentido, eles tanto podem ser vistos como o lugar de manifestação do fenômeno lingüístico entendido nas suas múltiplas feições, e estudados segundo os preceitos das ciências da linguagem e disciplinas correlatas, quanto podem ser interpretados tendo em vista a força expressiva dos seus elementos poéticos, boa parte deles representados por aqueles vocábulos, os quais se mostram geralmente capazes de infundir uma perspectiva criadora ao horizonte dos relatos cronísticos. Combinando-se uma explanação dos chamados valores imediatos e derivados que servem para caracterizar uma tipologia dos americanismos, segundo o contexto social do seu uso, com uma análise do papel dessa classe de vocábulos na constituição dum texto esteticamente relevante, ao qual confere expressividade sentimental e espiritual, pode-se demonstrar que os textos dos cronistas, na medida em que se vêem fecundados por esses vocábulos, representam a afirmação dum determinado estilo, o qual passa a contar como decisivo para se vislumbrar a evolução cultural do povo americano.

 

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