Da heterogeneidade no discurso cronístico

Vanise Gomes Medeiros (UERJ)

 

Toda fala é heterogênea, isto é, atravessada por discursos outros, pelo já-dito. Um já dito que escapa ao sujeito, que supõe ser fonte daquele dizer. Isto já se sabe com Pêcheux (1988). Isto também é densamente trabalhado por Authier-Revuz quando a autora se debruça sobre as formas de heterogeneidade do dizer.

Todo texto trabalha sua incompletude constitutiva através de um organicidade que lhe confere princípio, meio e fim, e que o faz funcionar como objeto acabado. E, daí, completo. Isto já se sabe com os inúmeros trabalhos de Orlandi. Sabe-se ainda que a incompletude decorre não apenas das condições de produção mas também da heterogeneidade fundante de todo discurso, ou ainda dos discursos outros que o atravessam,.

Isto posto para dizer que todo texto é construído na ilusão de um domínio do dizer (na medida em que se supõe ser a fonte do dizer) sobre dizeres outros. Domínio que passa pela demarcação, jogando com as palavras de Authier-Revuz, do que se supõe que vá ou não de si. Em outras palavras, pode-se dizer que a ilusão de completude, que resulta no efeito de homogeneidade do texto, advém de um suposto esforço de domínio do heterogêneo que o atravessa, como sabem os analistas de discurso.

Em linhas gerais, é sobre as formas de demarcação dos outros dizeres no discurso que incide este trabalho. Mais especificamente, pretende-se analisar, no discurso cronístico a inscrição de formas de heterogeneidade do dizer.

 

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