Empréstimos Lingüísticos
e Identidade Cultural

Nelly Carvalho (UFPE)

 

A palavra é o fenômeno ideológico por excelência, diz Bahktin, em Marxismo e Filosofia. Sendo assim, a adoção de uma palavra estrangeira revela-se como algo mais que uma simples  escolha formal. Seguindo essa linha, o lingüista Henri Rabhingoson( Madagascar) considera toda importação de termos  uma intrusão de uma cultura exógena onde a neutralidade inexiste, pois traz consigo um  precipitado de valores que interfere e modifica a cultura importadora.

Na relação entre duas línguas, faladas por povos diferentes, a língua-fonte é a que influencia na imposição de um termo,  e a que o recebe é a língua receptora. A coexistência entre ambas tende a modelar o léxico da receptora por um recorte analógico do mundo objetivo, de acordo com  os traços da língua-fonte. O fenômeno não é causado apenas pela vizinhança territorial, nem é apenas lingüístico. Ë resultado da ascendência de uma nação sobre a outra  no campo em que se dá o empréstimo.

O conceito de identidade cultural diz respeito à conexão entre indivíduos e estrutura social. O mundo das representações, do qual a língua faz parte, tem uma dinâmica própria mas sofre influência da base material da sociedade . Nestas representações é que surgem os conceitos de visão do mundo , concepções, mentalidade, presentes na forma de comunicação.

A função social das representações é assegurar a dominação de uma classe por outra,  violência simbólica que também acontece entre nações , gerando o dominante e dominado, com base no poder político e econômico , definindo o mundo segundo seus interesses.

A identidade social e cultural é a categoria que define como os indivíduos se inserem no grupo e como eles agem, tornando-se sujeitos sociais. Define , também, a forma como o indivíduo incorpora o mundo material a partir da experiência e  projeta essa incorporação como construção simbólica.

Essa  noção de identidade evoluiu junto com as transformações sociais que se acentuaram na segunda metade do século XX.  Houve uma transição do nacionalismo para a chamada globalização , quando tudo passa a fazer parte do mercado, mercado esse dominado pelas potências mais poderosas.Com a globalização, pela circulação planetária de informação e cultura, criou-se uma área comum de referência, onde as identidades específicas vão perdendo os contornos.

 

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