O léxico dos trovadores
em torno da cantiga da ama

Maria do Socorro de Oliveira Brandão (UECE)

 

O uso da linguagem continua sendo o elemento mais complexo da mensagem, sobretudo pela seleção lexical como marca da intencionalidade do autor na produção de sentido. Ao utilizar a língua comum do autor no contratexto da cantiga de amor, a comunicação tende a deslocar-se naturalmente para o nível estético e o referente, por sua vez, desloca-se do universo real do discurso, ou seja, do contexto situacional real do autor, para o nosso universo, o do ouvinte / leitor. Sem perder de vista a força exercida pelo contexto extralingüístico no processo de elaboração dos escárnios de amor e / ou contratextos, os trovadores utilizaram  termos chaves que constituem os elementos básicos-referenciais-textuais congruentes e / ou divergentes na construção do significado.  No caso das cantigas de escárnio, precisamente nos escárnios de amor, tais referentes textuais remetem ao próprio texto, facilitando ou dificultando a compreensão leitora, sendo que a escolha dos recursos lexicais que freqüentemente subvertem a ordem dos gêneros canônicos atua conjuntamente com a escolha dos recursos semântico-pragmáticos. Com efeito, nesta modalidade genérica o uso da linguagem pressupõe a preocupação dos autores em relação ao público ouvinte / leitor, como se observa nalguns textos em torno da cantiga  de Johan Soares Coelho, A tal vej’ eu aqui ama chamada (A166 B318), entre outros exemplos, cuja manobra contratextual se impõe somente depois de uma abertura preambular típica da cantiga de amor.

 

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