Veneno santo de um cristão obsceno
a sátira de Gregório de Matos

Aline Pereira Gonçalves (UERJ)

 

Ao contrário do que muito freqüentemente é dito a respeito das produções satíricas do poeta seiscentista Gregório de Matos, sua obra não foi escrita tendo por inspiração uma vontade de transgressão da ordem vigente ou uma libertinagem com fins de puro deleite. São, de fato, textos que, se tomados sem os anacronismos que impregnaram sua recepção a partir da crítica ufanista do século XIX, vêm atender à função de ensinar o público, por meio da figuração monstruosa da ausência do Bem, aquilo que não deveria ocorrer para que houvesse a manutenção da ordem religiosa, política e social no Estado cristão absolutista do século XVII. A apresentação dessa verdade que deveria ser integralmente respeitada vem por meio da voz da persona satírica, que, com o uso de suas metáforas, alegorias e contrastes, teatraliza diante do leitor as situações cotidianas da colônia que são condenáveis, bem como os bons exemplos que deveriam ser unânimes, tudo isso tendo o riso como tom. Neste trabalho, trataremos das motivações do poeta na produção de seus textos satíricos, traduzidas na voz da persona satírica, bem como analisaremos algumas das engrenagens subjacentes a esses poemas, de modo a atingirem os objetivos para os quais foram propostos. Faremos ainda algumas observações acerca da mentalidade vigente no referido período, para compreendermos melhor a relação entre os textos e o estado de coisas contemporâneo.

 

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