Vontade rebelada em Rubem Fonseca
uma leitura nietzschiana

Gisele Batista da Silva (UERJ)

 

Partindo da reflexão sobre a obra ficcional de Rubem Fonseca e da produção filosófica de Friedrich Nietzsche, pretende-se apresentar a atenção que ambos os autores direcionaram ao sentimento aprisionador, revelado por uma postura de recusa do movimento próprio da vida (devir), provocando um impasse. Esse impasse é uma equação sem resolução,  decepção pelo passado e esperança num futuro estéreis, que esvaziam o presente, negando seu caráter de imediatidade e instantaneidade, constitutivo e necessário, e engendrando no homem um espírito de vingança. Um constante e permanente sentimento de incompletude, insaciabilidade, culpa e amargura contra a vida em movimento e contra os outros. Conseqüências desse modo de ser, característico do homem moderno, são analisadas através do protagonista do conto O outro, de Rubem Fonseca, que, impulsionado pela tensão “ser” e “querer-ser”, privilegiando este em detrimento daquele, constrói revolta e angústia. Tal característica é materializada no referido conto por meio da sugestão de contrários (útil/inútil, culpa/redenção, bom/mau, verdade/mentira), subentendidos na rede de construção lingüística empregada pelo autor brasileiro. Assim, pretende-se também escavar – como sugere uma investigação genealógica – tais pares de opostos estruturalizantes da narrativa, de modo a apresentar como tal organização lingüística concorre para uma insurgência do protagonista contra o páthos da vida e contra sua condição humana, o que o leva à completa insensatez.

 

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