Fontes do latim vulgar[1]

Maria Cristina Martins (UFRGS)

 

Introdução

Latim vulgar é o termo tradicionalmente usado para se referir ao latim falado pelo povo, que mostra um conjunto de inovações gramaticais que não seguem as normas do latim literário (clássico). Diez, filólogo e comparatista, observando o conjunto das línguas românicas, percebeu que estas não poderiam derivar do latim clássico, ou latim literário, representado por escritores como Júlio César, Cícero e Horácio, mas das variedades populares. Dada a semelhança entre as línguas românicas, Diez partiu do princípio que nos primeiros séculos de nossa era deve ter sido falada uma língua relativamente uniforme, que se mostra como um “proto-romance”. Visando opor essa variedade ao latim clássico, Diez chamou-a de latim vulgar. Este latim pertencia a uma população que era muito pouco ou nada escolarizada e que, portanto, não poderia ter sido influenciada pelos modelos literários e pela escola.

O latim vulgar não sucede ao clássico; teve origem nos meios plebeus de Roma e cercanias, sendo essencialmente, como afirma Maurer Jr. (1959:5), “o latim falado pela plebe romana, embora muito de seus característicos se infiltrassem no seio da classe média e até das classes mais altas, sobretudo na época imperial.”[2] Uma vez que se trata de uma variedade de formas, que se ligam ao latim falado (mas não exclusivamente), não se pode considerar que existam realmente textos em latim vulgar. Quase nenhum texto, que contenha vulgarismos, é intencionalmente vulgar, à exceção da Cena Trimalchionis, de Petrônio, e dos comediógrafos, principalmente Plauto, que colocam personagens do povo falando. O mero fato de ser escrito envolve o uso de certas convenções, e mesmo no caso de escritores simples, sem muita pretensão literária, há pelo menos a convenção ortográfica que eles tentam seguir.

 

Obras em que se encontram vulgarismos

O latim vulgar, como se disse, é uma língua essencialmente falada, de cujas fontes podemos extrair apenas algumas de suas características, as quais, além disso, não exemplificam a gramática como um todo. Não se deve esquecer, ainda, o caráter contraditório dos textos que contêm vulgarismos: formas corretas e erradas coexistem lado a lado, em todos os aspectos gramaticais.

A nossa intenção ao apresentarmos as principais fontes em que se encontram vulgarismos é a de dar uma idéia mais geral do universo de obras que podem ser exploradas quanto a esse assunto. Exemplificaremos apenas em algumas dessas fontes os tipos de vulgarismos encontrados. O trabalho mais específico de apontar as características do latim vulgar será feito com as cartas dos soldados, que estão no final deste artigo (seção 4).

As principais características do latim vulgar podem ser extraídas das seguintes fontes:

a) as fontes literárias, das quais a maior expressão está na Cena Trimalchionis, episódio central e único que sobreviveu na íntegra do romance Satiricon, de Petrônio (?_ 66 d.C.), e ainda as obras dos comediógrafos, sobretudo Plauto (251-184 a.C.). Esses autores colocam em ação personagens do povo usando o latim corrente (popular ou vulgar), cheio de "erros" comparados com o clássico.

Na “Ceia de Trimalquião” (Cena Trimalchionis), a título de exemplo, observa-se na fala dos escravos e dos libertos, em diversas partes da gramática, um uso diferente do clássico. Por exemplo, aparecem palavras do gênero neutro como masculinas: balneus aparece no lugar de balneum (41,11), vinus por vinum (41,12); caelus por caelum (45,3); no léxico, muitas palavras populares: centonarius (45,4) “o que vale um centavo”, sestertiarius (45,7) “o que vale um sestércio”, e ainda compostos populares como caldicerebrius “o que tem cabeça quente”.

 

b) as inscrições (exceto as oficiais, que representam a língua culta), em especiaI:

(i) as tabuinhas execratórias ou de esconjuro (defixionum tabellae), isto é, pequenas tábuas de chumbo, bronze, estanho, mármore ou terracota, onde estão escritas certas fórmulas mágicas de encan­tamento ou maldição, que, se segundo a crença do povo, deviam produzir os efeitos desejados sobre as pessoas a quem eram endereçadas. Jeanneret[3] (1918) as classificou em quatro gru­pos de acordo com quatro causas principais: amatoríae (sobre amor sem esperança, rivais no amor, amante infiel); iudíciaríae (onde o litigante amaldiçoa o adversário); in fures (pedido de vingança sobre os ladrões); ludicre (pedido de morte ou derrota da facção rival nos jogos do Circo).

 

(ii) Qs graffiti,ou inscrições parietais, são inscrições gravadas com estilete e mais raramente a carvão em muros, paredes, monumentos, banheiros etc. Algumas das mais famosas foram encontradas nas paredes das casas de Pompéia e Herculano, soterradas pelo vulcão. As inscrições fornecem muitos fatos da língua, sobretudo no campo da ortografia, da morfologia e da fonética. Graças às inscrições podemos saber, por exemplo, em que época se conservavam intactos os ditongos, o uso dos nomes romanos prenomen, nomen e cognomen e outros dados relativos a estas palavras, como por exemplo que as mulheres só ganhavam o prenomen, tirado geralmente da cor dos olhos.

 

c) as fontes gramaticais que podem ser divididas em:

(i) glossas e glossários tendo como principais De verborum significatione de Verrio Flaco na época de Augusto e as glossas de Reíchenau, compostas na França, possivelmente no século VIII.

 

(ii) os dados dos gramáticos que, ao mesmo tempo que advertiam como se devia escrever, indicavam quais eram as formas que se deviam evitar. Esse tipo de fonte fornece palavras com a grafia incorreta, seguidas de sua grafia exata. Dentre as mais importantes estão o Appendíx Probí, que segundo alguns estudiosos foi escrito no séc. III e De barbarismis et metaplasmis de Consentio, no séc. V d.C.; até mesmo em Cícero (Iº séc. a.C.) e em Quintiliano (Iº séc. d.C.) se encontram indicações e correções deste gênero;

d) os erros dos copistas;

e) os termos do latim vulgar transmitidos por empréstimo às línguas não-românicas vizinhas, nas línguas germânicas (no gótico, no alemão, no inglês), nas línguas célticas (no galês, no irlandês, no bretão), no basco, nos dialetos berberes e árabes do norte da África e em maior escala no albanês[4].

f) os erros ocasionais de escritores dos últimos tempos do Império Romano.

Além das fontes acima referidas são de suma importância para o conhecimento do latim vulgar as reconstruções da gramática comparativa levadas a cabo sobre as línguas românicas. Nesse particular, especial atenção deve ser dada ao romeno e ao sardo, de um lado, comparados com as línguas românicas ocidentais de outro. Conforme enfatizou Theodoro Henrique Maurer Jr. em suas obras, essas línguas, devido ao isolamento político e geográfico que sofreram, não foram influenciadas pelo latim medieval (culto) como as línguas românicas ocidentais, e assim conservaram a fisionomia primitiva do romance popular. Maurer Jr., em A Unidade da România Ocidental, mostra que a língua romena tem uma significação decisiva para se poder distinguir entre o patrimônio do romance primitivo que, já estava constituído até o séc. III d.C. e as inovações ocidentais posteriores, com a relatinização de muitos processos gramaticais, sobretudo sintáticos, e a introdução de palavras por via do latim clássico.

Vale lembrar ainda um equívoco bastante comum, que é a consideração do baixo latim[5] (do latim medieval) como sendo latim vulgar. Algumas obras deste longo período realmente contêm vulgarismos, como a Vulgata, Mulomedicina Chironis, a Peregrinatio ad loca sancta, a Historia Francorum. Novamente devemos muito a Maurer Jr. pela clareza explicativa e suas inúmeras comparações e informações sobre a diferenciação entre latim clássico (cujo latim medieval é uma continuação) e latim vulgar, em seu livro O problema do latim vulgar. Neste, o autor discorre ponto a ponto sobre as características gramaticais ligadas ao latim clássico de obras como, por exemplo, a Peregrinatio ad Loca Sancta, da monja Etéria (ou Egéria), e a Vulgata, de São Jerônimo, ambas do século IV d.C., que as impedem de serem consideradas inteiramente como fontes do latim vulgar. Embora apresentem diversos plebeísmos, a primeira por lapsos gramaticais que denunciam diferenças entre o que deveria ser falado e a norma culta escrita, e a segunda devido à manutenção em sua tradução da linguagem simples próxima ao original grego, essas obras apresentam muito mais latim clássico do que o vulgar. Porém, nem tudo que foi escrito durante este enorme período é latim vulgar. Aliás, ao contrário, os escritores mais numerosos que englobam este período – dos padres ou doutores da Igreja – possuem um nível literário e gramatical que é uma continuação do latim clássico.

 

Principais características gramaticais
do latim vulgar

Do ponto de vista gramatical, normalmente se compara o latim vulgar com o latim clássico, que é a língua documentada e fixada como a língua escrita padrão de uma época do latim. Em seguida veremos nos textos de latim vulgar a confirmação de que este, em relação ao clássico (literário), é: 1) mais simples em todas as áreas da gramática; 2) mais analítico; 3) mais concreto; 4) mais expressivo; 5) mais permeável a elementos estrangeiros[6].

O latim vulgar apresenta diferenças em todas as áreas da gramática, em comparação com o latim clássico. A seguir, apontaremos em linhas gerais as características fonético-fonológicas, morfológicas, lexicais e sintáticas do latim vulgar.

 

Características fonético-fonológicas

O método histórico-comparativo triunfou, sobretudo com a aplicação das leis fonéticas, importante contribuição dos neogramáticos àqueles que se dedicam à lingüística histórica e aos estudos românicos em particular. Esse método permite ao romanista estabelecer conjecturas bastante exatas acerca de uma origem latina comum (vocábulos-fontes) para várias palavras não documentadas em latim vulgar (mas que podem vir a sê-lo), quando se comparam as diferentes línguas românicas.

O trabalho dos neogramáticos, sob forte influência das ciências naturais e do darwinismo, se constituiu na Universidade de Leipzig, onde atuou nas últimas três décadas do século XIX. Os mais representativos neogramáticos são Brugmann, Leskien e Osthoff e na prática o seu trabalho se caracterizou por um extremo rigor, que se traduziu na crença de que as leis da evolução fonética agem de maneira regular, admitindo exceções apenas quando sua ação é contrariada pela ação psicológica da analogia. Um exemplo de como a analogia afeta a evolução das línguas pode ser dado através do verbo render do português e seus correspondentes românicos rendre, em francês, rendere em italiano etc. Estas formas não poderiam provir do verbo “render” do latim clássico, que é reddere. Nenhuma lei fonética explicaria o aparecimento do -n– terminando a primeira sílaba: as formas românicas derivam, sem dúvida, da forma *rendere do latim vulgar, construído por analogia com o verbo que significa “tomar”, prendere, em latim clássico prehendere. Com esse exemplo, torna-se claro que na filologia românica o método histórico-comparativo assume propósitos de reconstituição.

Uma das características marcantes do latim vulgar em contraposição ao clássico é a perda da quantidade das vogais. Vários testemunhos de autores antigos, e sobretudo o exame das línguas românicas, levam à conclusão de que, no latim vulgar, às diferenças de duração das vogais (breves e longas) foram-se associando diferenças de abertura, que acabaram, num segundo momento, suplantando as primeiras. Deve ter havido um período de tempo em que a sílaba tônica de pŏpulus-povo, mantendo sua duração breve, foi pronunciada mais aberta do que a sílaba tônica de pōpulus-choupo. Num segundo momento, desapareceu a diferença de duração, e suas funções distintivas passaram a ser desempenhadas pela abertura. Por um processo análogo, perdeu-se a duração das demais vogais. Nesse sentido, podemos dizer que houve desfonologização da quantidade vocálica no latim vulgar, que perdura nas línguas românicas.

A pronúncia das vogais breves como abertas e das longas como fechadas, associado ao fenômeno da perda da quantidade, levou a uma aproximação entre o /e/ longo e o /i/ breve, pois esses dois fonemas se convergiram a um som de /e/ fechado. Paralelamente, confundiram-se também o /u/ breve e o /o/ longo, que confluíram no latim vulgar para /o/ fechado.

Outras características fonético-fonológicas do latim vulgar são: a síncope de uma vogal postônica entre consoantes, a redução dos hiatos, a contração de duas vogais consecutivas, a redução dos ditongos, a apócope das consoantes finais, a indistinção entre /b/ e /v/; /t e /d/; /m e /n/ e a perda de fonemas.

A exemplificação de todas essas características será feita na parte prática do trabalho, na análise das cartas dos soldados.

 

Características morfológicas

No latim vulgar, verifica-se a redução das declinações e também dos casos. Para suprir as deficiências geradas pela perda de certos casos houve o incremento das preposições.

No processo de redução das declinações houve reinterpretação dos paradigmas de declinação como interpretação de gênero: firmou-se a tendência de interpretar como femininos os substantivos que se declinavam pela 1ª declinação, e como masculinos os que se declinavam pela 2ª. Quanto à terceira declinação, que compreendia nomes masculinos, femininos e neutros, permaneceu como uma classe de nomes com tema em –e, cujo gênero não poderia ser inferido pela terminação. Muitas devem ter sido as flutuações de gênero nesta classe pela discordância que se observa entre muitas palavras nas línguas românicas. Por exemplo, ponte é feminino em português e masculino em francês; vale, ao contrário, é masculino em português e feminino em francês. Desaparece o gênero neutro no latim vulgar, devido a sua precária distinção formal entre os femininos e masculinos.

Atua poderosamente, em latim vulgar, a tendência para o analitismo. No tocante aos graus do adjetivo, a principal inovação foi o abandono de formação sintética (sem grau dulce, comparativo dulcior, superlativo dulcissimo). Em seu lugar surgem formas analíticas constituídas com o advérbio magis (Península Ibérica, Romênia) e plus (Gália e Itália), isto é, em vez de dulcior passou-se a dizer magis dulce e plus dulce, e multum para o superlativo.

Na classe dos pronomes, foram muitas as modificações: simplificaram-se os demonstrativos e os indefinidos. A inovação mais importante foi a criação de um pronome pessoal de terceira pessoa com base no demonstrativo ille. A busca de uma expressão afetiva banalizou o uso dos pronomes no nominativo, que em latim clássico eram usados por uma questão de ênfase. Dos pronomes relativos, a língua vulgar conservou o principal, qui, com uma declinação reduzida e consumou-se a identificação do relativo qui com o qui do interrogativo quis. Pelo desejo de expressividade, ênfase, espontaneidade, afetividade, o latim vulgar, que era eminentemente falado, inovou com a criação de sufixos verbais e nominais de origem popular; por exemplo, com diminutivos em -ulus, aumentativos em -on, verbos freqüentativos em -tare e ainda a geminação de consoantes (mamma).

Com respeito à flexão verbal, desaparecem a voz passiva sintética e os verbos depoentes, que constituíam um tipo particular de forma sintética, por ter forma passiva, mas sentido ativo. Assim, em vez de amatur passou-se a dizer amatus est. Em conseqüência, a forma amatus est, que era de perfectum, teve que ser substituída. Em seu lugar entrou a forma amatus fuit.

As principais inovações da morfologia verbal vulgar, em confronto com o latim literário, são as seguintes:

– as vozes derivadas do tema do perfeito, que indicavam ação acabada em latim literário, foram reinterpretadas como indicando passado;

– alguns verbos mudaram de conjugação, em relação ao latim clássico;

– com exceção da primeira, as conjugações tradicionais deixaram de formar verbos novos; essa situação foi compensada pela criação de uma nova conjugação, de tipo misto, com terminação em – esco, -isco, -ire, de aspecto incoativo. Um exemplo de verbo incoativo é florire (florisco) ou florere (floresco) do latim vulgar, um verbo de 2ª conj., com /e/ longo. Em latim clássico florere é de 3ª conj., com /e/ breve (floresco), mas existia também florere de 2ª conj. (floreo). Temos as seguintes formas do presente do indicativo do verbo florire (ou florere) em algumas línguas românicas: rom. floresc, floreşti, floreşte, florim, floriţi, floresc; it. fiorisco, fiorisci, fiorisce, fioriamo, fiorite, fioriscono; no provençal florisc, florisses, floris, florem, floretez, florescon; no francês (onde generalizou-se o elemento –isc a todo tema de presente) je fleuris, tu fleuris, il fleurit, etc. O português e o castelhano[7] apresentam uma conjugação completa com o sufixo incoativo (port. florescer), a mostrar que aí se generalizou a todos os tempos e modos o sufixo –esco. O conjunto das línguas românicas revela-nos o emprego, no latim vulgar, do sufixo –esco ou sua variante isco, nas três pessoas do singular e na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo e do subjuntivo (floresco/florisco-floresca(m)/florisca(m), florescis/floriscis-florescas/floriscas, florescit/floriscit, florescunt/floriscunt) na 2ª pessoa do singular do imperativo (floresce/florisce). O resto da conjugação segue os verbos em -ire (1ª pess. do pl. pres. ind/subj. florimus-floriamus, 2ª pess. do pl. pres. ind/subj. floritis-floriatis, imp. florite).

– perdeu-se a passiva sintética, compensada por uma passiva analítica baseada principalmente no verbo sum e no particípio passado do verbo;

– desapareceram os verbos depoentes, assimilados aos ativos da mesma conjugação;

– desapareceram vários tempos do indicativo, subjuntivo e imperativo, e várias formas nominais;

– verbos importantes como esse e ire perderam algumas de suas formas tornando-se defectivos; as formas faltantes foram buscadas em outros verbos (como o verbo ser do port. e cast. em cuja conjugação se confundem formas dos verbos latinos esse e sedere (“sentar”);

– o futuro sintético foi suplantado por perífrases com o verbo habeo ou volo.

Muitas dessas mudanças encontram-se nas cartas que contêm vulgarismos, e lá serão comentadas mais detalhadamente.

 

Características lexicais

Não se pode negar que é primeiramente pelo vocabulário que se verifica a renovação de uma língua, sem, contudo, que essa renovação afete a sua estrutura fundamental.

De um modo geral, no que diz respeito ao léxico vulgar, não estamos bem servidos. Os textos que contêm vulgarismos revelam-nos apenas um fragmento de fundo popular e familiar. Apesar disso, juntando o pouco que nos resta com o testemunho de autores como Cícero e Quintiliano, mas, sobretudo, pelo testemunho das línguas românicas, pela geografia lingüística, sabemos que o léxico do latim vulgar apresenta uma série de peculiaridades em contraste com o latim clássico.

A primeira delas é o grande número de palavras diferentes do latim clássico. Qualquer estudante de latim (clássico) precisa memorizar um vocabulário relativamente extenso e desconhecido. Assim, aprende-se que ager traduz-se “campo”, hostis “inimigo”, domus “casa”, res “coisa”, etc. Não que o latim clássico desconhecesse as palavras campus, inimicus, casa, e causa, apenas as empregava num sentido diferente. Esta é uma segunda característica do léxico vulgar: muitas palavras que existiam na língua clássica tomam em latim vulgar uma significação especial. Não esqueçamos, no entanto, que ao lado dessas palavras que mudaram de significação, muitas continuaram a existir e passaram para as línguas românicas (o vocabulário das línguas românicas é essencialmente uma herança do latim vulgar). No lugar das que desapareceram, criaram-se outras, porque a língua é dinâmica e que as palavras envelhecem.

Uma terceira característica do vocabulário do latim vulgar é o fato de ser permeável a estrangeirismos, dado que grande parte da população era estrangeira e alterava o sermo urbanus. Escritores puristas, como Cícero, César, entre outros, mas principalmente estes, tinham aversão à invasão de elementos rústicos e exóticos, inclusive gregos[8]. Estas são justamente particularidades da linguagem popular: um vocabulário doméstico e rudimentar, ligado à vida cotidiana, às lides do campo. Este vocabulário, por um lado, é pobre de termos abstratos e culturais, mas, por outro lado, é rico em expressões pitorescas, humildes, plebéias e estrangeiras. O fato de serem encontrados, no latim vulgar, muitos termos de origem grega, deve-se ao contato direto deste latim, levado por soldados e colonizadores, com as populações helênicas da Magna Grécia e também pelo grande número de gregos em Roma. Por último, o latim vulgar inova com processos de formação de palavras: tanto a composição quanto a derivação são bem pobres. Enquanto a língua clássica preservava mais fielmente as formas antigas, a língua vulgar as substituía por termos mais expressivos, tais como palavras formadas com o sufixo diminutivo e outros sufixos de cunho popular.

Alguns exemplos típicos da formação do vocabulário vulgar, no que diz respeito à sufixação, temos[9]:

1) – o é um sufixo quase sempre de significação expressiva, pitoresca e às vezes pejorativa, usado para indicar “o que se caracteriza de modo saliente por uma qualidade ou é muito inclinado a uma ação”: naso “narigudo”, lanio “carniceiro” (aparece na Cena Trimalchionis), etc. Encontram-se também derivados verbais, tal como bibo “bêbado, ou que bebe muito”, edo “comilão, ou que come muito”, etc. O latim vulgar conservou e ampliou as aplicações primitivas do sufixo -o, com a terminação –one, desenvolvendo uma significação aumentativa, como atestam as línguas românicas: it. boccone, port. narigão, rom. caloiu (“cavalão”).

2) –ulus (-a), -iculus( -a), -ellus (-a) são sufixos diminutivos presentes no latim vulgar e também no latim arcaico, como revelam as comédias de Plauto. Na passagem para línguas românicas, perderam o seu valor primitivo de “coisa pequena.” De -ulus, temos, por exemplo, filiolus, caseolus, caveola (it. “figliolo”, fr. “geôle”, cast. “gayola”, port. “gaiola”). De -iculus, ovicla, lenticla “ovelha, lentilha”, são alguns exemplos. De -ellus, agnellus (it. “agnello”, fr. “agneau”), ianuella (port. “janela”), etc.

 

Características sintáticas

Os fatos sintáticos não são independentes, porque estão presos à morfologia. Em certos casos, a própria fonética intervém, de modo que se estabelece uma verdadeira cadeia: a alteração fonética repercute na morfologia e esta na sintaxe.

Os manuais de latim vulgar apresentam a sintaxe dividida em três grandes seções, correspondentes à sintaxe de classes de palavras e das flexões (as formas nominais e verbais, os advérbios, as preposições e as conjunções), à construção da frase e à organização do período.

Seguindo as três grandes seções que mencionamos, destacam-se com relação à sintaxe de palavras:

– A perda da substantivação dos adjetivos no neutro plural, observada em uma série de máximas, como per angusta ad augusta em que se exalta o esforço. Deve ter contribuído para esta perda a tendência, a que já nos referimos, de reinterpretar os neutros plurais como femininos regulares.

– Com relação aos pronomes pessoais, perde-se o caráter enfático clássico em seu uso como sujeito; generaliza-se a expressão do pronome pessoal objeto, ao passo que a língua clássica deixava que fosse inferido pelo contexto; o pronome reflexivo se assume algumas funções desconhecidas na sintaxe clássica como a reflexivização de certos verbos, port. e cast. “ir-se”, e a função de partícula apassivadora, de largo uso em português e nas demais línguas românicas: “vendem-se casas”, etc.

Quanto às formas nominais do verbo, verificam-se as seguintes diferenças em confronto com a norma clássica:

– a ampliação dos empregos do infinitivo presente, que, segundo Maurer Jr. (1959:182), apresenta as inovações mais interessantes de toda sintaxe do verbo vulgar, porque passa a exercer funções que na língua clássica eram distribuídas pelo supino, parte do gerúndio e pelo próprio infinitivo. São elas: 1) emprego como substantivo verbal (port. “o meu querer”), encontrados já em Plauto Hic vereri (=verecundiam) perdidit (Bacchid., 158). A substantivação do infinitivo está presente em todas as línguas românicas, sobretudo no italiano, no engadino un lamentar e cridar “uma lamentação e um choro”; 2) emprego com verbos de movimento, com valor final, no lugar do supino: Plauto, Casin. 855 e seg. Eximus intos ludos visere. Esta construção está bem documentada na România: port. eles vêm comprar, it. andiamo a venderlo, etc.; 3) como auxiliar modal com habere, *volere, *sapere, *potere, etc: potes dicere, volo venire. Este emprego já existia na língua clássica, mas é mais abundante no latim vulgar e permanece em toda România; 4) a perda do infinitivo nas orações substantivas declarativas (“acusativo com infinitivo”); o emprego como infinitivo pessoal; 5) regido de preposição, que o torna apto para o papel de complemento nominal: Ne operam perdas poscere (Pl. Aulul, 341) e carnem dare ad manducare (Vetus); 6) o infinitivo com sujeito próprio: (origem do infinitivo pessoal, peculiaridade do português mas que esteve presente nas outras línguas românicas em fases mais antigas, como no dialeto napolitano do séc. XV), port. Depois de eles chegarem. O fato deste tipo de infinitivo ocorrer nos textos literários mais antigos de toda România, faz-nos crer que existia em latim vulgar; 7) o infinito como imperativo negativo (proibitivo): non *fugire: “não fujas.” Este emprego é desconhecido nas línguas da Ibéria e no sardo, mas pertence ao romeno, italiano, rético e francês antigo: rom. Nu ne duce in ispita “não nos induzas em tentação” (Versão da Bíblia de 1874, Mat. 6,13). Na Mulomedicina Chironis, 129: Si videris lassiorem esse, non tangere; 8) como oração substantiva reduzida, em contextos de interrogação indireta, do tipo “não sei o que dizer” , St. Agostinho Psalmus contra Donatistas: Non habent per quos regnare, si non habent quid dare.

No domínio das palavras invariáveis, um fenômeno a notar é a regência das preposições, que se alarga para compreender não só certos advérbios de tempo e lugar, mas também locuções cujo primeiro termo já era uma preposição: Pereg. 5, 4: de contra videbamus summitatem montis: defronte víamos o cume do monte.” Por este processo, criaram-se nas línguas românicas muitas preposições que na verdade são a aglutinação de duas ou mais preposições latinas: ex. port. desde < de ex de, etc. Segundo Maurer Jr (1959:191), a maior inovação no uso da preposição no latim vulgar está em que ela pode reger palavras e locuções de valor substantivo ou pronominal qualquer (infinitivo verbal, advérbios de tempo e lugar, expressões constituídas de uma preposição e de um substantivo – admitindo a sobreposição de duas preposições, conservando cada uma o seu valor próprio: Pereg. (6, 3) de inter montes exivimus “saímos de entre os montes”, port. por entre a mata, etc.

Segundo Maurer Jr. (1959), há três características gerais da sintaxe do latim vulgar:

A língua vulgar é analítica na construção da sentença, pois, devido à progressiva perda dos casos, começa a exprimir as funções gramaticais por meio de preposições (complementos indiretos e circunstâncias) e pela ordem das palavras (sujeito e objeto).

A frase popular faz um uso mais extensivo dos pronomes pessoais (1ª e 2ª pessoas), possessivos, demonstrativos, e inova com os artigos definido e indefinido, e com o pronome pessoal de 3ª pessoa.

A disposição das palavras se “simplifica” e se fixa, em oposição ao latim literário no qual a ordem obedece em larga escala às preocupações de estilo. Nas palavras de Maurer Jr. (1959:193): "a grande liberdade de colocação no uso clássico devia constituir a parte da língua em que a preocupação estilística e o exemplo dos modelos gregos mais profundamente modificaram a sua evolução espontânea.”

A sintaxe vulgar ganhou em clareza e expressividade o que perdeu em elegância e graça. A maior clareza vem com o surgimento de artigos e sua posterior obrigatoriedade no sintagma nominal, e com a expansão no uso de possessivos, de pronomes pessoais, demonstrativos, preposições, etc. A língua clássica, por não possuir artigos e omitir normalmente o uso de pronomes, “foge muitas vezes do determinado e do concreto (...) A todo momento o leitor precisa subentender coisas que não estão expressas” (Maurer Jr., Gramática do latim vulgar, p.192).

O conjunto de fatos que examinamos permitiu-nos vislumbrar várias transformações pelas quais a língua vulgar passou, e que depois farão parte das línguas românicas. Em especial, está o seu caráter analítico, que é a principal razão de se afirmar que as línguas românicas são uma herança direta e contínua do latim vulgar.

 

Corpus a ser analisado[10]

A primeira carta é a do soldado tiberiano (CPL, 254), escrita em papiro, do início do século II d.C., encontrada em Karanis, no Egito. A segunda e a terceira cartas, de Rustius Barbarus (CPL 304, CPL 303), são também papiros do século II d.C., encontrados em Ostracon, no Egito[11].

Entre colchetes [ ] aparecem as restituições de letras ou palavras apagadas; entre parênteses ( ), as soluções de siglas e abreviações. A tradução é nossa.

 

1ª Carta: (CPL, 254)

... dico illi, da mi, dico, a(e)s paucum; ibo, dico, ad amicos patris mei. Item acu lentiaminaque mi mandavit; nullum assem mi dedit. Ego tamen inc ebinde collexi paucum aes ed ibi ad Veroclum et G(.)ivan et emi pauca que e(x)pedivi. Si aequm tempus esset se exiturum Alexandrie s(i)lui(t). Item non mi d(e)dit aes quam (quam) aureum matri mee in vestimenta (dedit). Hoc est, inquid, quod pater tus mi mandavit. Quo tempus autem veni omnia praefuerunt et lana et (linum)? Matrem meam aute praegnatam inveni.

Nil poterat facere. Deinde pos paucos dies parit et non poterat mihi succurrere. Item litem abuit Ptolomes pater meu sopera vestimenta mea, et factum est illi venire Alexandrie con tirones et me reliquid con matrem meam. Soli nihil poteramus facere, absentia (illius) illim abit(u)ri. Mater mea (dicit): Spec(t)emus illum dum venit et ven(i)o tequm Alexandrie et deduco te usque ad nave.Saturninus iam paratus erat exire illa die qu(a)ndo tam magna lites factam est. Dico illi: Veni interpone te si potes aiutare Ptolemaeo patri meo. Non magis quravit me pro xylesphongium sed sum negotium et circa res suas. Attonitus exiendo dico illi: Da m(i) paucum aes, ut possim venire con rebus meis Alexandrie, im inpendiam. Negabit se habiturum. Veni, dicet, Alexandrie et dabo t(i)bi. Ego non abivi. Mater mea no(n haben)s assem, vendidi(t) lentiamina (u)t veniam Alexandrie.

 

... digo a ele, dá-me, digo, um pouco de dinheiro; irei, digo, aos amigos de meu pai. Então me mandou uma agulha e tecidos de linho, nenhuma moeda me deu. Eu finalmente aqui e ali reuni um pouco de dinheiro e fui a Véroclo e Givan(?), e comprei umas poucas coisas que enviei. Se fizesse tempo favorável, ele não disse que iria para Alexandria. Igualmente não me deu dinheiro a não ser uma moeda de ouro à minha mãe para as roupas. Isto é, diz ela, o que o teu pai me mandou. Nesse tempo, porém, tudo teve preferência tanto a lã como o linho? Encontrei a minha mãe grávida. Nada ela podia fazer. Depois de poucos dias pariu e não podia me auxiliar (socorrer). Também meu pai, Ptolomeu, teve uma briga a respeito de minhas roupas, e aconteceu de ele vir a Alexandria com os recrutas e me deixou com a minha mãe. Sozinhos nada podíamos fazer, havendo de ter a ausência dele dali. Minha mãe (diz): esperemos até que ele chegue então, e vou contigo para Alexandria e te levo até o navio. Saturnino já estava pronto para sair naquele dia quando aconteceu tão grande briga. Digo a ele: vem, interpõe-te, se podes ajudar Ptolomeu, meu pai. Não mais se preocupou comigo, como algo sem importância, mas com seu negócio e suas coisas. Saindo atônito digo a ele: dê-me um pouco de dinheiro para as despesas, para que eu possa ir a Alexandria com as minhas coisas. Negou que ele até haveria de ter. Vem, disse ele, a Alexandria e te darei. Eu não fui. Minha mãe, não tendo dinheiro, vendeu os tecidos de linho para que eu viesse a Alexandria.

 

2ª carta: (CPL, 304)

Rustius Barbarus Pompeio fratri suo salutem. Opto deos ut bene valeas que mea vota sunt. Quid mi tan invidiose scribes aut tan levem me iudicas? Si tan cito virdia mi non mittes, stati amicitiam tuam obliscere debio? Non sum talis aut tan levis. Ego te non tanquam amicum habio, set tanqua fratrem gemellum qui de unum ventrem exiut. Hun(c ver)bum sepius tibi scribo, sed tu (ali)as me iudicas. Accepi fasco coliclos et unum casium. Misi tibe per Arrianum equitem chiloma; entro ha(b)et collyram I et in lintiolo (...) alligatum, quod rogo te ut ema(s) mi matium, salem et (mi)ttas mi celerius quia pane volo facere. Vale frater K(a)rissime.

 

Rustius Barbarus saúda o seu irmão Pompeu. Peço aos deuses que estejas com boa saúde. Estes são os meus votos. Por que razão tão invejosamente me escreves, ou me julgas tão leviano? Se não me mandas depressa as verduras, devo esquecer imediatamente a tua amizade? Não sou tal ou tão leviano. Eu não te tenho como um amigo, mas como um irmão gêmeo, que saiu de um único ventre. Esta palavra te escrevo, mas tu me julgas de outra maneira. Recebi couve num maço e um queijo. Enviei para ti, pelo cavaleiro Arriano, um cesto, dentro há um pão e amarrado num pedacinho de linho (...)[12], que te peço para que me compres uma medida de farinha e sal, e me envies sem demora, porque quero fazer pão. Salve, caríssimo irmão.

 

3ª carta: (CPL, 303)

Rustius Barbarus Pompeio fratri salutem. Quid est quod mi non rescripsisti, si panes percepisti? Misi tibi per Popilium et Dutuporim panes XV, item per Draconem amaxitem panes XV et vasu (?), explesti IIII matia. Misi tibe per Thiadicem equitem panes VI, quod dixit se posse tollere. Rogo te, frater, ut facias mi in m[e]os usos pondera quan formosa, et scribe mi, ut pretium aeorum quit vis: panem tibi faciam aut aes tibi mitam? Scito enim me uxorem ducerem. Quam mox ducero, continuo tibi scribam, ut venias. Vale, saluta [lium].

 

Rustius Barbarus saúda seu irmão Pompeu. O que aconteceu que não me reescreveste, se recebeste os pães? Enviei-te por Pompílio e Dutuporis 15 pães; até mesmo pelo carroceiro (charreteiro) Dracon, 15 pães e um vaso (?); completaste 4 medidas[13]. Enviei-te pelo cavaleiro Thiadices 6 pães, que ele disse poder levar. Peço-te, irmão, que me faças para meu uso pessoal, pesos tão bonitos quanto possível e escreve-me o que queres em pagamento: que eu te faça pães ou te envie dinheiro. Pois fique sabendo que vou me casar. Tão logo me casar, escrever-te-ei imediatamente, para que venhas. Passe bem, saúda ...


 

Referências Bibliográficas

BASSETTO, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica. São Paulo: Edusp, 2001.

MAURER Jr., Theodoro Henrique. A unidade da România ocidental. São Paulo: USP/FFLCH, 1951.

––––––. Gramática do latim vulgar. Rio de Janeiro: Acadêmica.

São Paulo, Ática, 1959.

––––––. O problema do latim vulgar. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1962.

MARTINS, Maria Cristina. Os locativos na Peregrinatio Aetheriae. Dissertação de Mestrado, IEL/UNICAMP, 1996. Orientação: Rodolfo Ilari.

––––––. Um confronto entre o latim das cartas de Cícero e das do “soldado tiberiano” e de “Rustius Barbarus”: aspectos lingüísticos, filológicos e gramaticais. Pesquisa de Pós-Doutorado, FFLCH/USP, 2004. Orientação: Bruno Fregni Bassetto.

SILVA NETO, Serafim. História do latim vulgar. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.


 

[1] Este artigo retoma o conteúdo ministrado no minicurso “Fontes do Latim Vulgar”, no X CNLF, realizado em 2006, e dá continuidade ao assunto, aprofundando-o com um segundo módulo do minicurso.

[2] Dado que os períodos da história de Roma são importantes para os romanistas, lembramos que eles correspondem às três formas de governo: Realeza (das origens a 509 a.C.), República (de 509 a.C. a 27 a.C.) e Império (de 27 a.C. a 476 d.C.).

[3] Estas informações foram obtidas a partir de Ser afim da Silva Neto (1977). A referência é M. Jeanneret, La langue des tablettes d'exécration latines, 1918, p.4.

 

[4] Para um aprofundamento e exemplificação da importância dessas línguas para esclarecer problemas de fonética do latim vulgar veja-se Maurer Jr., Gramática do latim vulgar (p.28 e s.). Sobre os elementos latinos nas línguas que estiveram em contato com Roma na Antigüidade pode consultar-se Tagliavini, Le Origini ..., parágrafos. 34-39.

[5] Denomina-se baixo latim ao período que vai de cerca de 200 d.C. até o aparecimento das línguas românicas. É também chamado de latim tardio.

[6] Veja-se Bassetto, Elementos …, p. 92-99 e Maurer Jr. O problema …p. 180-186.)

[7] Neste trabalho, adotaremos a denominação castelhano ao invés de espanhol em consideração às outras línguas existentes na Espanha: o galego, o catalão e o basco.

[8] Conforme o testemunho de Cícero em ad.Fam. IX, 15,2 e De Oratore (III, 4) (entre outras obras).

[9] Apud Maurer Jr. O problema do latim vulgar, p 124 e ss. e Gramática do latim vulgar, p..251 e ss.

[10] As cartas 1 e 2 foram retiradas da edição de Diaz y Diaz, Antología del latín vulgar. A carta nº 3 foi retirada de Väänänen , Introduction au latin vulgaire.

[11] Os papiros são feitos de um tipo de planta aquática, que tem esse mesmo nome. Durante o Império Romano deveriam existir milhares deles porque eram empregados para registrar toda burocracia do Império, além das correspondências privadas. Como são biodegradáveis, apenas umas centenas sobreviveram em regiões secas, como no deserto do Egito, de onde provêm estas duas cartas. Como nesta região o grego era usado como língua escrita, há também vários papiros em grego, inclusive um escrito em latim com caracteres gregos (Ver Bassetto, Elementos de filologia românica, p.116 e Herman, Vulgar latin, p.21 (primeiramente publicado em 1967, na coleção “Que sais-je?”, sob o título Le latin vulgaire. Paris, Presses Universitaires de France)).

[12] (...) falta a palavra, talvez seja “moedas”, pelo que se tem na seqüência.

[13] Nesta passagem, ao que parece, Pompeu encomendou pães para Rustius Barbarus, fornecendo-lhe farinha para tanto. Rustius avisa que já consumiu quatro medidas dessa farinha.