Neopedagogia da Acentuação Gráfica[1]

Francisco Dequi (FATIPUC)
profdequi@ipuc.com.br

 

Sustenta esta pesquisa que o ensino tradicional da acentuação gráfica da Língua Portuguesa é incompleto e complexo. Não ministra, como pré-requisito, os três roteiros da tonicidade natural das palavras sem acento gráfico e, por isso, não consegue dar as razões da necessidade ou desnecessidade dos sinais diacríticos. Assegura que, dominada a tonicidade nata das palavras sem diacrítico, 99,8% dos acentos gráficos oficiais da Língua Portuguesa podem ser explicados com apenas uma macronorma. Através de levantamento e análise da tonicidade de todas as palavras vernáculas sem acento gráfico, o autor deparou existência de três roteiros de tonificação nata ou regular das palavras sem acento gráfico. De posse desse dado, consegue detectar a macronorma única que explica quase a totalidade dos acentos gráficos oficiais, evitando a aplicação do complexo sistema tradicional de dominar a acentuação gráfica. Essa neodidática considera regular a tonicidade da palavra sem diacrítico e, irregular a que leva o sinal. Assim, genericamente falando, a neopedagogia atribui aos acentos gráficos dois papéis: função deslocadora de tonicidade e função diferenciadora de timbre. Ambas criam ou representam novas palavras.

Na Língua Portuguesa, que se pretende com a utilização da acentuação gráfica? Ela é realmente necessária, ou poderia ser suprimida completamente como se faz na Língua Inglesa? Sabe-se que, na estrutura lexical da língua lusa, não é possível dispensá-la. Haveria, pelo menos, caminhos mais objetivos e mais claros para sua utilização oficial e para seu ensino? Sim.

Está claro que a acentuação gráfica auxilia na leitura correta das nossas palavras, ponderando-se a tonicidade. Toda palavra constituída de mais de uma vogal possui uma destas proferida com maior intensidade. Em suma, o acento gráfico ajuda a identificar a vogal tônica das nossas palavras. Daí o título dado a este capítulo pela Neodidática da Língua Portuguesa: “Acentuação Objetiva”. Já na denominação, aparece clara a teleologia do acento gráfico – a sua finalidade. Reitere-se, a estrutura das palavras portuguesas recomenda a utilização desses sinais diacríticos. Eles não podem ser suprimidos. Vejam-se estas situações: “Cristo pediu que nos amassemos uns aos outros”. Ou esta e muitas outras: “Fui àquela baia e enchi o cesto de coco”, “A sabia professora sabia que aquele sabia não cantava, principalmente, quando via o cagado ou um camelo se aproximar”.

Assim, fica difícil admitir-se que os acentos gráficos da nossa língua possam ser, um dia, suprimidos oficialmente. Entretanto, ensiná-los através de estratégias complexas, autoritárias, que exijam domínio de incontáveis pré-requisitos, isto sim, é inadmissível. Há caminhos mais objetivos, mais racionais e mais fáceis de se levar a seu domínio. É a estratégia da neopedagogia da acentuação gráfica que passamos a colocar à disposição dos docentes para que percebam a racionalidade e a utilidade desta acentuação objetiva. Ela é, além de simplicíssima, etiológica e teleológica. E, acima de tudo, dispensa o domínio de inúmeros pré-requisitos para a sua aplicação.

O processo parte do princípio de que a sede da tonicidade está numa vogal. Mostra que qualquer palavra constituída de mais de uma vogal possui tonicidade numa delas. Qual delas? A marcada com sinal diacrítico se o tiver. E, se não o tiver? Se não tiver acento gráfico, três roteiros nos ajudarão a identificar a sua vogal tônica. Efetivamente, há três regras natas que servem para localizar a vogal tônica de qualquer palavra com mais de uma vogal que não exiba acento gráfico.

O processo identifica as vogais numerando-as da direita para a esquerda. Se a terminação da palavra sem diacrítico for uma das consideradas FRACAS (a, e, o, am, em, ens), a tonicidade estará na vogal 2. Caso a terminação for das FORTES (as demais terminações), a tonicidade estará na vogal 1. Se, eventualmente, por força dos dois itens anteriores, a tonicidade incidir no “i”, ou no “u” com vogal precedente encostada, a tonificação flui para essa vogal anterior encostada. Aí estão os três roteiros para localização da vogal tônica das palavras sem acento gráfico. É a chamada tonicidade natural das palavras lusas que se apresentam sem sinal diacrítico. Dominada esta base, a aplicação da acentuação gráfica oficial, em 99,8 % das nossas palavras, pode ser explicada com uma única regra: “O acento gráfico anula a tonicidade natural das palavras e tonifica outra vogal”. O manual e o CD-ROM da matéria propiciam lúcida e abundante exemplificação sobre esta tonificação natural e desvio da tonicidade regular pelo sinal diacrítico. Aqui faremos desfilar apenas um exemplo para cada caso – camada, parede, menino, controlam, fuligem, viagens; urubu, abacaxi, barril, lençol, nobel, camarim, radar, audaz, feliz, atum, semitom, irmã; fluido, gratuito, flauta, afoito, encaixe, ameixa, possui...

Portanto, dominados os três roteiros para localização da tonicidade natural das palavras sem sinal diacrítico, basta aplicar uma regra simples para utilizar o acento gráfico em 99,8 % das palavras que oficialmente o têm. Portanto, repita-se esta regra única pode ser expressa assim: “O acento gráfico anula a tonicidade natural e tonifica outra vogal”. Veja-se o efeito do acento gráfico que pode também criar outra palavra: sabia – sábia – sabiá; domino – dominó; dai – daí; pia – piá; maio – maiô; inicio – início; magoa – mágoa; ai – aí; exercito – exército; datilografo – datilógrafo; bebe – bebê; seria – séria; publico – público... Esses são diacríticos deslocadores de tonicidade (99,8 %). Há também os sinais diferenciadores (0,2 %), muito bem explicados pelo manual e pelo respectivo CD-ROM.

Percebe-se facilmente que o processo é acessível e objetivo. Basta dominar os três roteiros da tonicidade nata das palavras sem acento gráfico e, depois, utilizar a regra única para marcar as que necessitam de diacrítico tonificador. Ressalte-se que este processo introduz focalização muito importante: propicia a estratégia de proferir, com tonicidade correta, qualquer palavra sem acento gráfico, ainda que nunca lhe tenhamos ouvido a pronúncia. Tal ensino é fundamental e lógico. Nenhuma gramática o focaliza assim. E mais, para ensinar a tonicidade em cursos de “Português para estrangeiros”, tal processo é útil, claro e simples.

 

Referências BIBLIOGRÁFICAS

DEQUI, Francisco. Carta Magna da Língua Portuguesa. Canoas: CES, 2006.

––––––. Interpretação Objetiva. Canoas: CES, 2006.

––––––. Sintagramática – Identificação de determinantes e determinados. 5ª ed. Canoas: EDIPUC, 2001.

––––––. Neopedagogia da Gramática – 18 teses surpreendentes. Canoas: CES, 2006.

––––––. Bases Gramaticais Multilíngües–Português. Canoas: CES, 2004.

––––––. Projeto Pequeno Pesquisador. Canoas: CES, 2006.

––––––. Sintagramática. 6ª ed. Canoas: CES, 2002.

––––––. Redação por Recomposição. 12ª ed. Canoas: CES, 2002.

––––––. Português – Fono-Orto-Morfo. 5ª ed. Canoas: CES, 2002.

––––––. Verbo Diagramado. 7ª ed. Canoas: CES, 2002.


 

[1] O minicurso será ilustrado com inúmeros gráficos animados que mostram toda a dinâmica da tonicidade. Fica impraticável imprimir nestas páginas.