EDIÇÃO CRÍTICA

José Pereira da Silva (UERJ)

 

A edição crítica é o principal objetivo da crítica textual, que nem sempre se realiza, pois é possível fazer crítica textual sem publicar, concretamente, o texto estabelecido.

Como se verá, a edição crítica se realiza em duas etapas. A primeira é o estabelecimento do texto crítico ou crítica textual propriamente dita, e a segunda é a apresentação do texto crítico, que envolve as demais técnicas da ecdótica ou da elaboração do livro.

O estabelecimento do texto ou crítica textual se divide em várias atividades incluídas na recensão e na reconstituição.

A recensão consiste praticamente na reunião e no cotejo das fontes; a estemática estabelece a genealogia dos textos cotejados, possibilitando a eliminação dos testemunhos copiados de outro ainda subsistente em bom estado de conservação e permitindo decidir com segurança qual é a melhor lição.

A reconstituição, emenda ou correção pode ser feita por meio de testemunhos, utilizando-se princípios estabelecidos pela prática milenar dos editores, ou por meio de conjecturas.

A apresentação do texto crítico só se faz depois de concluídas estas atividades, quando se torna possível preparar o texto para a publicação.

Em geral, a edição crítica tem, pelo menos: sumário, introdução metodológica, texto estabelecido criticamente, glossário e referências bibliográficas.

Na introdução, será importante tratar do autor, da obra, da tradição dessa obra (descrevendo-se o seu percurso histórico, os testemunhos, sua genealogia e sua fortuna crítica), enquanto o texto deverá ser pautado pelas normas explicitadas na introdução e deverá ser constituído do texto estabelecido e do aparato crítico, geralmente apresentado em forma de notas de pé de página.

Neste minicurso, trataremos mais especificamente desta última parte, menos teórica e mais prática

 

A base bibliográfica para a organização desse minicurso é o livro de Introdução à Crítica Textual do Professor César Nardelli Cambraia (2005), da Universidade Federal de Minas Gerais, principalmente em seus capítulos 4, 5, 6 e 7.

 

TIPOS FUNDAMENTAIS DE EDIÇÃO

César Nardelli (p. 90) lembra que

A escolha de um dos tipos fundamentais de edição para ser aplicado a um texto exige especial reflexão do crítico textual, pois cada tipo tem características muito próprias e distintas. Por isso, dois aspectos, em especial, devem ser necessariamente observados: o público-alvo almejado e a existência de edições anteriores.

Em relação ao primeiro caso, é importante lembrar que o interesse de um lingüista ou de um filólogo por um texto medieval costuma estar muito ligado a sua forma gráfica e a detalhes que não interessaria a um jovem estudante, mais interessado no conteúdo do texto do que na sua forma gramatical ou gráfica.

Também não se deve esquecer de que a publicação de um livro com características idênticas às de outra edição disponível no comércio seria, no mínimo, financeiramente prejudicada, além de poder ser considerada uma competição desonesta.

A edição de um texto poderá ser baseada em um só ou em mais de um testemunho, pelo que costumam ser denominadas edições monotestemunhais e edições politestemunhais.

 

Edições monotestemunhais

Apesar de não tratarmos aqui da edição fac-similar, da edição diplomática, e da edição paleográfica, não podemos deixar de lembrar que são elas do tipo monotestemunhais, assim como a edição interpretativa.


 

Edição Interpretativa

Até bem recentemente, esta forma de edição não era considerada diferente da edição crítica, apesar de lhe faltar algumas das etapas necessárias naquela, como se pode ver nas chamadas edições críticas da Demanda do Santo Graal (Magne, 1944 e 1955-19700, por exemplo, preparadas pelo Pe. Augusto Magne, ou das Questoens Apologeticas, que apresentamos como dissertação de mestrado na UFRJ (Silva, 1987).

Transcrevo abaixo longa citação do Prof. César Nardelli que nos ajudará a entender bem as qualidades de uma edição interpretativa, no tópico 4.2.1.4 de seu livro (Cambraia, 2005: 97-98):

...na edição interpretativa, a que se pode atribuir o grau máximo de mediação admissível. Assim como na paleográfica, fazem-se operações como desenvolvimento de abreviaturas e conjecturas, mas, além disso, o texto passa por um forte processo de uniformização gráfica e as conjecturas vão além de falhas óbvias, compreendendo intervenções que aproximem o texto do que teria sido sua forma genuína. Esses procedimentos permitem, em primeiro lugar, apresentar o texto em uma forma acessível a um público amplo (já que dificuldades gráficas desaparecem com a uniformização); ademais, oferecem ao público um texto mais apurado, na medida em que os elementos estranhos à sua presumível forma genuína vêm claramente assinalados.

Não se pode deixar de esclarecer que, neste tipo de edição, a uniformização é essencialmente gráfica: não se uniformizam variantes fonológicas, morfológicas, sintáticas [nem] lexicais (o que geralmente ocorre na chamada edição modernizada). É evidente, porém, que certas uniformizações (de pontuação, paragrafação etc.) acabam por fixar apenas uma das leituras possíveis do testemunho, razão pela qual esse tipo recebe justamente o nome de interpretativa. Como se vê, sua maior qualidade – a acessibilidade – determina igualmente seu maior defeito – a subjetividade.

Embora não raramente se utilize o termo crítica para nomear est tipo de edição (isto é, baseada apenas em um testemunho), tal prática merece ser revista, pois o método aplicado e os resultados obtidos neste caso são radicalmente distintos dos relativos a uma edição baseada no confronto de testemunhos [...]: não há, portanto, nenhum benefício em se utilizar um mesmo termo, tão importante na área, para nomear produtos tão diferentes.

Via de regra, faz-se uma edição interpretativa de textos preservados em testemunho único (lat. codex unicus), como é o caso, nas letras lusófonas, da Demanda do Santo Graal (Cf. Magne, 1944, 1955-1970), da Gramática de Linguagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira (Oliveira, 1975) e de vários outros textos. Eventualmente, faz-se também edição interpretativa de um texto que possui diversos testemunhos com os quais o crítico textual não quis ou não pôde trabalhar por razões diversas: nesse caso, o crítico textual edita interpretativamente apenas um testemunho, algo que se justifica para se tornar disponível no mercado uma edição de um texto, geralmente inédito – tal edição, porém, perde valor tão logo uma edição crítica (baseada em todos os testemunhos existentes) seja realizada, pois, na edição crítica, a possibilidade de diferenciar formas genuínas de não-genuínas é maior, em função do contraste entre os testemunhos, possibilidade esta restrita à conjectura (muito subjetiva) no caso de uma edição interpretativa.

 

Edições politestemunhais

As edições politestemunhais podem ser crítica ou genética. Esta tem como objetivo identificar a evolução criativa do autor no processo de produção de sua obra.

Mas é da edição crítica que trataremos aqui, e esta se caracteriza “pelo confronto de mais de um testemunho, geralmente apógrafos, no processo de estabelecimento do texto, com o objetivo de se reconstituir a última forma que seu autor lhe havia dado”. (Cambraia, 2005: 104).

É através da comparação dos erros encontrados nesses diversos testemunhos que se consegue chegar à forma genuína ou à mais próxima possível da última vontade do autor. Isto é possível porque dois copistas não cometem o mesmo erro no mesmo ponto de um texto independentemente. As formas genuínas de um texto geralmente se mantêm intactas, apesar de adulteradas em um ou outro ponto das diversas cópias ou edições.

Nesse aspecto, uma edição crítica é muito superior a uma edição interpretativa, pois nesta só se pode recorrer à conjectura (suposição baseada no juízo do crítico textual) como instrumento de restituição da forma genuína do texto, ou seja, toda intervenção fundamenta-se apenas em uma decisão subjetiva do crítico. (Cambraia, 2005: 104)

 

NORMAS DE EDIÇÃO PARA UMA EDIÇÃO CRÍTICA

Apesar de não haver consenso em relação aos detalhes quanto às normas para uma edição crítica, devem ser considerados os seguintes itens, com as variações opcionais que os editores deverão deixar claramente explicitadas na introdução metodológica do trabalho:

O texto deve ser transcrito em caracteres romanos redondos, uniformizando-se e atualizando o sistema ortográfico; devem ser desenvolvidas as abreviaturas; os sinais diacríticos devem ser atualizados, respeitando-se as oscilações do original quanto à marca de nasalidade; os sinais de pontuação devem ser atualizados de acordo com as respectivas funções no sistema atual, com as supressões e inserções necessárias.

Os caracteres de leitura duvidosa devem ser informados em nota, e, no caso de caracteres de leitura impossível, deve ser informado também o seu número estimativo.

Os caracteres riscados ou apagados não devem ser transcritos e, no caso de serem modificados, deve-se transcrever a forma modificada.

Os caracteres que fizerem parte do texto, seja nas entrelinhas, seja nas margens, devem ser transcritos no lugar adequado, assim como devem ser inseridas as conjecturas do editor e suprimidos os erros evidentes, informando-se ou justificando-se as razões para esta intervenção. Enfim, todas as particularidades do texto deverão ser informadas em nota para que o leitor possa refazer sua leitura de outro ponto de vista diferente do que foi proposto pelo editor crítico.

 

EDIÇÃO CRÍTICA

Citando a nossa fonte principal, já lembramos que a edição crítica se caracteriza “pelo confronto de mais de um testemunho, geralmente apógrafos, no processo de estabelecimento do texto, com o objetivo de se reconstituir a última forma que seu autor lhe havia dado”. (Cambraia, 2005: 104).

Na concretização de uma edição critica, segundo o mesmo autor, o trabalho se divide em duas etapas: “a do estabelecimento do texto crítico e a de sua apresentação” (op. cit., p. 13).

Com a limitação de tempo espaço de que dispomos, trataremos principalmente da segunda parte, fazendo uma rápida síntese da primeira.

 

Estabelecimento do texto crítico

O estabelecimento do texto, dividido em recensão e reconstituição do texto, constitui a crítica textual propriamente dita, a parte filológica dessa atividade.

Esta parte da edição crítica pode ser dividida em recensão e reconstituição, que correspondem, respectivamente, ao estudo das fontes e à análise de toda a tradição do texto (e não somente à emenda ou correção).

 

Recensão

César Nardelli reúne sob a legenda de recensão todo o estudo das fontes com o objetivo de compreender a tradição de um texto: 1) a localização e coleta das fontes, a colação, a estemática e a eliminação dos testemunhos descritos.

Neste caso, considera-se não somente a tradição direta, constituída pelo registro literal de um texto manuscrito ou impresso, como também pela tradição indireta, constituída por traduções, paráfrases, citações etc.

Graças à facilidade de comunicação de hoje, comparada com a de séculos passados, a localização e coleta das fontes se tornou extremamente facilitada, já que podemos receber em nossa mesa de trabalho, por fax, e-mail etc. cópias bastante fiéis de manuscritos ou edições que se encontram nos mais diversos e distantes arquivos ou bibliotecas.

A colação das fontes consiste na localização dos lugares-críticos[1] dos manuscritos ou edições do texto, que são os pontos em que houver divergências entre elas.

Cada diferença existente entre uma e outra fonte constituirá uma lição ou leitura, sendo chamadas de variantes todas essas lições divergentes em relação ao testemunho de colação.[2]

A estemática, com o objetivo de estabelecer uma genealogia dos testemunhos, é feita a partir dos lugares-críticos estabelecidos na colação, com a identificação dos erros significativos[3], que podem ser conjuntivos ou separativos.

Todas as variantes significativas encontradas nas diversas cópias e edições da tradição de um texto deverão ser registradas no aparato crítico porque uma edição crítica não é uma atividade que produza resultados irrefutáveis.[4]

Feito o estema (o estabelecimento da genealogia dos testemunhos), pode-se efetuar a eliminação daqueles que foram cópias de outros subsistentes, desde que não tragam contribuições importantes. Neste caso, costumam ocorrer casos em que a fonte tenha sofrido algum dano que só pode ser restaurado com auxílio da referida cópia, caso em que esta não poderá ser descartada.

Casos há em que variantes significativas não-genuínas de uma tradição que teve alguma circulação entre o público-leitor, possam ser registradas no aparato crítico, constituindo-se uma edição crítica heterodoxa, pois ortodoxamente só se consideram as variantes genuínas.[5]

 

Reconstituição

A reconstituição (ou emendatio) se pauta pela análise de toda a tradição de um texto, que se realiza “por meio dos testemunhos subsistentes [op codicum] e/ou por meio de conjectura [op conjecturae]”.

Na reconstituição por testemunhos, a reconstituição se faz através da escolha de uma das variantes presentes em um ou mais testemunhos, segundo os princípios, regras ou cânones tradicionais da crítica textual, entre os quais destacamos os seguintes, segundo as quais a lição preferível é a do maior número de testemunhos (lectio plurium codicum potior), a mais antiga (lectio antiquior potior), a do melhor testemunho (lectio melioris codicis potior), a mais difícil (lectio difficilior potior), a mais breve (lectio brevior potior), a que explica a origem de outra (lectio quae alterius originem explicat potior), a métrica (res metrica), o estilo (usus scribendi) e o contexto (conformatio textus) (Cf. Cambraia, 2005: 149-159).

Quando todos os testemunhos de um texto apresentam lacuna numa passagem, a reconstituição se faz por conjectura, assim como nas situações em que nenhuma das variantes pareça ser genuína. Também pode ocorrer de haver esta situação quando todas as tradições encontradas sejam diferentes e nenhuma se justifica pelos princípios da crítica textual.

 

Apresentação do texto crítico

Feita a fixação do texto crítico, organiza-se o material de acordo com algum critério estabelecido pelo editor, para o qual jamais houve consenso, apesar de haver partes consideradas indispensáveis, como as que apresenta o autor aqui seguido, com pequenas adaptações (Cf. Cambraia, 2005: 162):

 

 

 

 

Modelo Básico
de apresentação do Texto Crítico

Sumário .......................................................... 5

Apresentação ............................................. 7

I. Introdução ............................................. 15

    I.1. Autor ..................................................... 17

    I.2. Obra ....................................................... 19

    I.3. Tradição da obra .................................. 21

        I.3.1. Percurso histórico .......................... 23

        I.3.2. Testemunhos .................................. 25

        I.3.3. Estema ............................................ 27

        I.3.4. Fortuna editorial ............................ 29

II. Texto ......................................................... 31

    II.1. Siglas dos testemunhos ....................... 33

    II.2. Normas de edição ................................ 35

    II.3. Texto e aparato crítico ........................ 39

III. Glossário ............................................. 151

IV, Referências Bibliográficas ....... 157

Sumário é a lista com os títulos de cada uma das partes constitutivas do livro, acompanhado do número da página em que começa cada capítulo, subcapítulo ou tópico relacionado

Apresentação de um livro é uma síntese do conteúdo de seu conteúdo e de algumas informações importantes para a sua contextualização para os leitores, tais como título da obra editada, autor, data de redação e/ou primeira publicação, testemunhos em que a edição crítica se baseia, editor responsável pelo estabelecimento do texto etc.

Além disso, também é lugar apropriado para uma breve justificativa para a edição, valorizando-a, portanto. Salientar explicitamente a importância de cada obra contribui para estimular os leitores potenciais a diversificarem e aprofundarem sua leitura: trata-se não apenas de uma questão de publicidade, mas, sobretudo, de estímulo a um permanente diálogo cultural entre texto e leitor. (Cambraia, 2005: 163)

Introdução é parte da obra em que se tratará de contextualizar a obra, tais como dados biobibliográficos do autor, a história da obra e sua tradição, incluindo-se neste também o percurso histórico e localização de todos os testemunhos, mesmo os que não puderem ser consultados, assim como o estabelecimento do estema e os estudos relativos às edições anteriores da obra.

O texto deve vir precedido das siglas dos testemunhos (códices e edições) do texto, seguidas de um capítulo em que se explicitam detalhadamente as normas de edição seguidas. Só depois disso é que se publica o texto propriamente dito, seguido do aparato crítico, que pode vir (e quase sempre vem) em forma de notas de pé de página ou de notas marginais, onde se registram as variantes e os comentários cabíveis, tais como as justificativas conjeturais, por exemplo.

Glossário é uma parte quase sempre indispensável na edição crítica, visto que praticamente não se justifica uma edição de obra completamente integrada na cultura dos seus pretensos leitores. Este pode conter uma terminologia técnica existente na obra, assim como os vocábulos que não são freqüentes no léxico atual e aqueles termos que já não têm o mesmo sentido utilizado pelo autor, seja por características estilísticas, seja por distanciamento cronológico ou por quaisquer outros motivos.

Referências bibliográficas são elementos indispensáveis numa edição crítica, não somente para que os leitores sejam orientados para outras possibilidades de leitura da obra, como para entender o contexto em que foi produzida e se difundiu, assim como para entender os motivos que levaram o editor por uma ou outra decisão em relação a possíveis passos polêmicos ou ambíguos no estabelecimento do texto e de sua tradição.

Tais referências bibliográficas devem seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) relativas a publicações, podendo ser seguida de uma bibliografia básica do autor e sobre o autor e sua obra.

 

CRÍTICA TEXTUAL E INFORMÁTICA

Por fim, não poderíamos deixar de chamar rapidamente a atenção dos presentes para as vantagens e mesmo para a indispensabilidade do uso da informática nas atividades atuais do crítico textual e editor de textos, não somente na elaboração final de seu trabalho, como no seu desenvolvimento, conforme registramos ao tratar da fase de recensão ou busca e consecução dos testemunhos conhecidos.

Não vai escrita neste texto uma lista de instruções para a utilização dos bons editores de textos e de imagens, como são o Word da Microsoft e o CorelDRAW, por exemplo, nem recomendações sobre a utilização da Internet na comunicação, tanto para a transmissão quanto para a busca de informações virtualmente.

Mas desejamos deixar claro que não se pode prescindir da informática, hoje e daqui em diante, tanto para a transmissão de textos quanto para sua edição e editoração, e muito particularmente pela facilidade e pela rapidez e eficiência com que a informática nos serve tanto na fase de estabelecimento do texto quanto na sua apresentação e divulgação.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMBRAIA, César Nardelli. Introdução à crítica textual. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

MAGNE, Augusto (ed.). A demanda do Santo Graal. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1944, 3 vols. [2ª ed. 1955-1970, 2 vols.].

SILVA, José Pereira da. Questoens apologeticas: edição crítica. Dissertação de mestrado defendida na Faculdade de Letras da UFRJ, 1987.

 

 


 


[1] “Esses elementos podem diferir pela sua ausência em um testemunho e pela presença em outro; pela sua ordenação diferenciada entre os testemunhos; pela sua equivalência a outro elemento em outros testemunhos, etc.” (Cambraia, 2005: 135)

[2] “A escolha do testemunho de colação geralmente baseia-se na sua qualidade: escolhe-se o mais completo e em melhores condições” (Idem, ibidem, p. 136).

[3] “Para que o método seja aplicado com segurança é necessário, primeiramente, que se tenha certeza sobre qual das variantes existentes em cada lugar-crítico é um erro, ou seja, uma forma não-genuína. Em segundo lugar, é preciso que esse erro seja tão particular e idiossincrático que não possa ter sido cometido simultânea e independentemente por dois copistas; além disso, sua condição de erro não pode ser óbvia, pois, em sendo, os copistas poderiam intervir conjecturalmente e, dependendo da obviedade do erro, poderiam acabar por fazer modificações que resultassem no restabelecimento da própria forma genuína, sem a terem visto.” (Idem, ibidem, p. 136)

[4] “O registro de variantes no aparato crítico serve a rigor para que o leitor saiba quais eram as opções em termos de variantes e qual foi a decisão tomada pelo editor: de qualquer maneira, tradicionalmente só se levam em conta as variantes que efetivamente poderiam ser genuínas” (Cambraia, 2005: 147).

[5] “Nessa perspectiva, a edição crítica não tem apenas a função de informar ao leitor quais são as variantes possivelmente genuínas, mas também aquelas que, mesmo sabidamente não-genuínas, foram lidas e tiveram impacto sobre a cultura. Não se trata mais apenas de restituir a forma genuína de um texto, mas também de historiar sua tradição.” (Cambraia, 2005: 148)