Advérbios como especificadores
de
projeções funcionais

Mauro Simões de Santana (UFRJ)

 

Este trabalho apresenta uma nova proposta de análise dos sintagmas adverbiais – AdvPs- do português, segundo a qual eles são inseridos na hierarquia sintática ocupando posição de especificador. Tradicionalmente, a teoria lingüística procura explicar a geral opcionalidade e localização variável dos advérbios na estrutura sintática considerando-os como adjuntos. Adjunção é um processo irrestrito e não condicionado por qualquer tipo de parâmetro de direcionalidade, uma vez que não se associa diretamente a um núcleo funcional ou lexical, esperando-se, portanto, que os AdvPs sejam adjungidos a qualquer projeção intermediária, tanto à esquerda como à direita independente de suas propriedades semânticas. A ausência de simetria, no entanto, pode ser facilmente detectada no português.   Há exemplos, também, que confirmam a mudança de leitura dos AdvPs, caso eles sejam inseridos em uma ou outra posição sintática. Outro fenômeno sintático que também não é explicado pela Hipótese da Adjunção é o fato de que quando ocorre mais de um AdvP na derivação sintática, uma ordem relativa entre eles deve ser respeitada para garantir a gramaticalidade da sentença. Procurando explicar essas propriedades dos AdvPs não capturadas pela hipótese da adjunção, principalmente com dados do italiano e do francês, Cinque (1999) prefere adotar a Hipótese do Especificador Segundo essa Hipótese os AdvPs são projeções de núcleos funcionais, sendo seu arranjo na sentença determinado pela ordem desses núcleos. O status semântico do AdvP estabelece-se através da relação especificador/núcleo. Além da ausência de simetria e da relação entre posição do advérbio e sua interpretação, a observação no português de ordenamentos fixos de AdvPs  levou-nos a considerar mais vantajoso analisar os AdvPs  de acordo com a Hipótese do Especificador.