Com a barra do seu tempo
por sobre seus ombros
gonzaguinha e a política do silêncio

Leila Medeiros de Menezes (UERJ)

 

Tomando como estudo de caso a produção musical do poeta-compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior – o Gonzaguinha-, no período compreendido entre 1968 e 1978, os chamados “anos de chumbo”, de tão triste memória na história brasileira recente, buscaremos analisar os “escapes” de linguagem, por ele utilizados, para se contrapor ao silenciamento imposto pelos pretensos “profissionais da leitura” – os censores – que se colocaram na posição de vigilantes da cultura e da moral, verdadeiros “fiscais das idéias”, assumindo como tarefa principal a de definir as fronteiras entre o lícito e o ilícito, silenciando, dessa forma, todos aqueles que foram considerados pelos órgãos de repressão potencialmente perigosos, os “malditos”. Discutiremos de que forma a poesia cantada tornou-se um veículo de denúncia e de resistência à Ditadura Civil-Militar, na segunda metade do século XX. No período em questão, a polícia política não poderia admitir vozes dissonantes, implementando, assim, em todo o território nacional, a política do silêncio, responsável pelo apagamento de vozes e eliminação de corpos e mentes.