Diferença, traço e inscrição
Derrida e a escritura cognitiva do mundo

Carlos Alvarez Maia (UERJ)

 

O escopo deste trabalho abarca as áreas de história, epistemologia e linguagem. Exploram-se aqui os conceitos derridianos de “diferença”, “traço”, “inscrição” e “escritura” para compreender como o processo cognitivo sobre o mundo que nos cerca é constituído por uma linguagem-escritura. Diremos, “o mundo é uma escritura”, uma tradução menos prosaica daquela declaração extraída do linguistic turn de que “tudo é texto”.

Contra a compreensão de que o conhecimento decorre de um produto mental apreendido de uma realidade objetiva exterior ao sujeito, um sujeito passivo, apresenta-se uma proposta construtivista na qual o sujeito participa ativamente – sem que com isto entremos em um relativismo solipsista. Aqui, o diferencial dá-se por duas considerações:

1 – o sujeito que conhece é histórico, isto é, o sujeito não está isolado mas encontra-se situado em um universo discursivo através do qual olha, percebe e interage com o mundo; um universo discursivo que o constitui como sujeito em coletivos de pensamento e ação;

2 – os objetos do mundo são igualmente agentes ativos por atuarem sobre os sujeitos através de sensibilizações. A sensibilização de um sujeito é a capacidade desse sujeito de reagir à presença objetal e marca aquilo que Derrida nomeou como affection.

No esquema proposto, sujeito e objeto interagem entre si e, assim, desfazem o clássico modelo epistemológico que considera sujeito e objeto independentes. Especialmente para a disciplina História, tal arranjo responde ao desafio da sua “crise” contemporânea de paradigmas.