É possível censurar a censura?
Um processo de dESsignificação

Angela Corrêa Ferreira Baalbaki (UFF)
Beatriz Caldas (UFF)

 

Este trabalho tem como objetivo analisar, à luz da teoria pecheutiana da AD, uma peça publicitária veiculada nos jornais de grande circulação (“O Globo” / “Globo On-line”), em campanha contra a censura. Nosso corpus empírico é composto por uma peça publicitária da Associação Brasileira de Propaganda.

Como a materialidade lingüística é marcada pelo histórico e ideológico, procuramos investigar de que forma a peça publicitária traz sentidos associados à censura, e metaforicamente os desloca para novas redes de significação. As categorias discursivas assinaladas por Orlandi (2002: 56) “não-sentido” (“irrealizado que ainda pode vir a fazer sentido”) e o “sem-sentido” (“aquilo que fica sem sentido”, “interditado”) são utilizadas ao longo do trabalho. Além dessas, outras categorias teóricas são utilizadas, tais como: memória discursiva, esquecimento, silêncio.

Como recorte condutor, observamos o enunciado “Toda censura é burra”, graficamente marcado por uma faixa de censura por cima da palavra “censura’, numa composição de imagens que sugere: “censuremos a censura”. Nossa questão centra-se, então, sobre a diferenciação entre “a censura que deve ser censurada” e “a censura que é burra”. Na procura dos efeitos de sentido desse enunciado e de suas paráfrases, encontramos toda uma gama de “novos” sentidos que permeia esta peça publicitária, re-significados por novas formações discursivas que apagam e interditam “velhos” sentidos.