Línguas indígenas no Brasil
a responsabilidade social dos lingüistas

Yonne Leite
(CNPq, Museu Nacional/UFRJ, UGF

 

Os desafios das ciências no século XXI residem principalmente na dupla tarefa que os cientistas têm de executar. De um lado continuar as pesquisas que visam ao avanço das ciências em todos os seus campos ao que se soma a responsabilidade social de salvar e preservar a diversidade biológica, cultural e lingüística. Entre os lingüistas brasileiros esta tarefa é grande: a de não só registrar a variedade dialetológica do português falado no Brasil, mas cabe-lhes também a responsabilidade de documentar as línguas indígenas brasileiras cuja população hoje é cerca de 450 mil pessoas, 206 etnias e 180 línguas, das quais a grande maioria se encontra na região amazônica, para uma população que se distribui em 41 famílias, dois troncos, uma dezena de línguas isoladas. Calcula-se que às vésperas da conquista, eram faladas 1 273 línguas.Em 500 anos, uma perda de cerca de 85%. É dessa história de perdas e danos e da virada ocorrida na segunda metade do século passado, quando lingüistas, graças à ação de mestres como José de Oiticica, Joaquim Mattoso Câmara Jr. e Aryon Dall’Igna Rodrigues, assumiram a responsabilidade de devolver às populações indígenas um pouco do muito que lhes tiramos. que tratarei nesta conferência.