Mais ou menos Marias
alguns comportamentos femininos exaltados
em Os Lusíadas

Eloísa Porto Corrêa (UERJ / UFRJ)

 

A função social prioritária dos personagens masculinos portugueses de Os Lusíadas estava intimamente relacionada com o serviço na empreitada marítima expansionista, em torno da qual gira a obra e a sociedade lusitana refletida (ou simulada) no épico.

Enquanto isso, as funções sociais exaltadas nas mulheres lusitanas resumem-se (ou resumem-nas), preferencialmente, a filhas, mães, esposas, donas-de-casa, católicas..., já que elas não faziam – ou não deveriam fazer – parte do universo trabalhista formal. Para tanto, desempenhavam – ou deveriam desempenhar – papéis secundários na cena social, econômica e política da obra, mas não menos modelados (ou modelares) do que os dos personagens masculinos do épico.

O universo feminino é regido por paradigmas, ideologias e padrões de comportamento que norteiam sua postura, ditados essencialmente pelo cristianismo: Maria é o padrão a ser seguido. O maior ou o menor distanciamento que a mulher apresente em relação ao pilar feminino católico determinará se o julgamento do Poeta – e da sociedade simulada no épico – será mais ou menos favorável a esta ou àquela figura feminina humana.

Assim, quanto mais o comportamento da mulher ficcional (simulação da “de carne e osso”) se aproxime do padrão marial, mais essa mulher será exaltada e divinizada. Por outro lado, quanto mais este comportamento se identifique com o da deusa da Beleza e do Amor, afastando-se do da Virgem, mais ela será condenada.