Memórias da Divina Comédia

Cristina Monteiro de Castro Pereira (UFRJ)

 

Abriremos aqui dois caminhos temporais diferentes para ler a Comédia: um voltado para o passado e o outro para as possibilidades do futuro. Na visão de mundo cristã-medieval, Deus é Memória e o caminho para a conversão é a rememoração do homem de que “é em Deus”. A conversão seria então um movimento voltado para o passado, um “resgate” da memória. Partindo das teorias de Harald Weinrich, investigamos até que ponto essas duas variantes da memória, a humana e a divina, se complementam e são capazes de erguer a “catedral” dantesca a partir de sua combinação.  Em um segundo momento, com a ajuda de um ensaio de Luiz Costa Lima, iluminaremos um outro modo de atuação da memória, recalcado no texto por sua semântica cristã, extremamente importante na configuração da obra. Aqui, ao invés de télos, a memória é o agente deflagrador da mímesis. Não temos mais um processo de rememoração, mas de criação. Comparando um e outro percurso, procuramos ressaltar e discutir a comtemporaneidade da obra proporcionada por este paradoxo.