Nomear/Qualificar:
substantivos e adjetivos
em perspectiva discursiva

Rosane S. M. Monnerat (UFF)

 

Neste trabalho, focalizaremos o “substantivo” e o “adjetivo”, sob uma perspectiva semântico-discursiva, não sendo nossa intenção a análise puramente gramatical dessas classes de palavras. Interessa-nos, sobretudo, observar as estratégias reveladoras da seleção lexical dessas formas lingüísticas, já que as entidades selecionadas podem orientar a caracterização das faces e do ethos discursivo na construção das identidades sociais dos protagonistas, nos textos selecionados. Nomear e qualificar correspondem, respectivamente, às operações de identificação e qualificação, do processo de transformação - o qual juntamente com o de transação - opera a semiotização do mundo: passagem do mundo a significar ao mundo significado, segundo Charaudeau (1995, 2005). Na identificação, é necessário nomear os seres do mundo para que sejam transformados em “identidades nominais” (substantivos). Paralelamente, na qualificação os seres do mundo são transformados em “identidades descritivas”, em função das propriedades e características que os especificam (adjetivos). Nessa operação de identificação, o substantivo, além de se apresentar como elemento lexical neutro, imparcial, restrito ao seu papel nomeador, pode, ainda, ultrapassar essa simples função de designação e gerar, em combinação com outros, significações implícitas, responsáveis pela construção do sentido global do texto – aquele que relaciona sentido de língua a sentido de discurso, no processo de compreensão / interpretação. Em relação aos adjetivos, a seleção lexical parece ser ainda mais evidente, pois ao escolher este ou aquele adjetivo, o sujeito comunicante deixa, no texto, marcas de sua subjetividade, o que ratifica a afirmação de Charaudeau (1992, p. 663) de que “qualificar é tomar partido”.