Paisagens naturais, elementos ficcionais

Carlinda Fragale Pate Nuñez (UERJ)

 

Este trabalho propõe uma leitura teórico-crítica acerca da paisagem natural mais recorrentemente retomada em textualizações estéticas (pinturas e frases poéticas) e nos ambientes públicos ou privados, os jardins.

Valer-nos-emos de uma noção de paisagem em que se combinam elementos da teoria da literatura e da geografia cultural, para experimentar uma epistemologia do texto estético que comprove sua rentabilidade, aplicada à investigação de paisagens concebidas pela imaginação. Paisagens imaginadas – potencialmente criadoras de mitos ou a eles associadas – não são exclusivas dos textos ficcionais. Não se restringem à visibilidade panorâmica, podendo reportar-se a figurações da sensibilidade e de concepções científicas, filosóficas, religiosas e psíquicas.  Textos paisagísticos, o mais das vezes, são estetizados e ficcionalizados, quando não sofrem processos de mitificação. Exploraremos as múltiplas concepções inscritas na representação figural do jardim, através da parte central do tríptico O Jardim das delícias terreais, de Hyeronimus Bosch (1450-1516).  Os conteúdos com que o artista lidou propiciam a análise crítica da tradição em que se insere, bem como a ultrapassagem da noção de paisagem como mero registro panorâmico, abrindo cogitações sobre o imaginário paisagístico.  A partir daí serão comentados elementos ficcionais e estéticos do tema, decorrentes da tradução intersemiótica da paisagem em questão.