Tradição e Vanguarda na Lingüística
de Mattoso Câmara Júnior

Ricardo Stavola Cavaliere (UFF e ABRAFIL)

 

Os que se detêm na análise mais acurada da obra de Joaquim Mattoso Câmara Júnior percebem, dentre os traços marcantes de sua extensa e qualificada produção intelectual, um que raramente se encontra no meio acadêmico: a harmônica coalizão entre tradição e vanguarda. Pesquisador formado na geração legatária do período científico de nossos estudos lingüísticos, Mattoso jamais elidiu, no conjunto de suas preocupações em matéria de linguagem, a variante diacrônica tão característica da Filologia brasileira nos primeiros decênios do século passado, caminho pelo qual se buscava entender a gênese da linguagem humana e encontrar o berço das línguas naturais. A estrada aberta para essa viagem ao passado era pavimentada pelo texto escrito em língua literária, matéria-prima da investigação filológica. Por outro lado, também está nas bases da formação científica de Mattoso a profícua incursão nas searas do formalismo estruturalista, por sinal modelo de descrição que ele próprio ocupou-se de divulgar entre os brasileiros após seu retorno da temporada de cursos nos Estados Unidos da América. Aqui, emerge o Mattoso afinado com a vanguarda da Lingüística novecentista que soube mergulhar fundo no sistema das línguas e descrever seu funcionamento. Busca-se neste trabalho dar conta das duas faces de Mattoso Câmara no cenário lingüístico do Brasil e de seu contributo para o desenvolvimento do saber sobre a linguagem humana.