BIOBIBLIOGRAFIA DE OTHON MOACYR GARCIA[1]

Eduardo Amorim Garcia

 

1. O homem e o mestre

 

Agradeço ao Professor Evanildo Bechara o convite que me fez para elaborar uma biobibliografia de meu pai, Othon Moacyr Garcia. É muito grata a oportunidade de poder relembrar a trajetória desse homem que foi para seus familiares, amigos e alunos um grande mestre e um amigo incomparável. Mesmo querendo respeitar as mais elegantes recomendações da modéstia, não poderei, talvez, me furtar a descrever em elogiosas – mas sinceras – palavras aspectos de sua personalidade e da sua produção intelectual.

Como atesta sua obra, e reconhecem todos que com ele conviveram, meu pai era pessoa de vasta cultura e aguçada inteligência, que sabia ser, também, um excelente interlocutor. Na mais corriqueira troca de idéias, podia transmitir sabias lições, passar ensinamentos sem impor princípios, regras ou conceitos, convencendo pelo argumento claro e pela cordialidade. Primava por ouvir e ponderar sempre, e por demonstrar natural e salutar curiosidade por todo e qualquer assunto que lhe fosse proposto numa conversação, mesmo quando já se encontrava bastante prejudicado pela surdez que o acossou por mais de cinqüenta anos.

Intelectual de espírito moderno, sem moralismos nem preconceitos, buscava estar constantemente atualizado nas diversas áreas do conhecimento, da política à ciência, da filosofia à psicanálise, nutrindo pelos escritores contemporâneos o mesmo interesse que alimentava pelos clássicos. Leitor cuidadoso de originais que lhe eram enviados para avaliação, a todos comentava, por correspondência, expressando a honesta opinião de quem lê os iniciantes com a devida atenção e benevolência, mas não louva sem que encontre razão justa para isso. Falsas louvações não sabia fazer, nem na vida profissional nem na social. Seus alunos, sobretudo aqueles que com ele se prepararam para o concurso à carreira diplomática, sempre tiveram no “Othon” (como a maioria o chamava amigavelmente) um crítico rigoroso de seus textos (ficaram famosas as folhas de papel almaço que saíam das aulas riscadas e rabiscadas à exaustão pela sua implacável caneta vermelha). Mas não houve um só que com ele se melindrasse, porque, à medida que a caneta vermelha corria o papel, a necessária explicação surgia em voz doce e clara.

Othon mantinha-se sempre atento às novas correntes dos estudos literários e da lingüística, e delas participava pioneiramente, sem qualquer ranço de modismo, com o objetivo maior de experimentar novas possibilidades de análise e entendimento do discurso, poético ou não. Porque, no fundo, era um apaixonado analista de texto, de todo texto que pudesse ou merecesse ser destrinchado nos seus elementos significativos. Fosse para perceber níveis mais profundos de elaboração poética – indo do texto para o seu melhor entendimento pela análise literária -, fosse para desvendar os processos de construção da frase e do parágrafo – indo, em sentido inverso, do conhecimento do instrumento lingüístico para a construção do texto lógico -, sua prática cotidiana era mergulhar nas palavras, nessa luta talvez um tanto vã, mas sempre fascinate.

O aprofundado conhecimento que possuía do idioma levava-o a rejeitar – por isso mesmo – a gramática anacrônica, feita apenas de regrinhas coercitivas e puristas, presa nostalgicamente a um tempo pretérito em que a língua teria constituído modelo de perfeição. Praticava e ensinava uma gramática dinâmica, que buscava fornecer ao estudante condições de organizar seu raciocínio, avaliar sua forma de pensar e empregar o léxico de modo conveniente ao objetivo precípuo de transmitir um significado. A missão do professor de português consistia, para ele, em dotar os alunos de um entendimento do sistema lingüístico que se transformasse em proveitoso recurso para melhor compreender as relações lógicas entre conceitos e idéias e melhor elaborar a frase e o texto como um todo. São várias as passagens do seu livro Comunicação em prosa moderna[2] em que ele externa essa opinião. Na página 175, assevera que se torna

 

estulto presumir que basta estudar gramática para saber falar e escrever satisfatoriamente. Nenhum professor ignora isso. Não obstante, quase todos nós, por vício, tradição ou comodismo, achamos mais fácil e mais simples dar e mandar decorar mil e uma regrinhas gramaticais malsinadas e inúteis, que vão muito além do mínimo indispensável ao manejo correto da língua. O que acontece é que não sobra tempo para o resto – e infelizmente é nesse resto que está o essencial.

 

Aliás, o livro todo é um esforço para pôr em prática esse conceito[3].

Um justo perfil de Othon não poderia deixar de registrar outro aspecto marcante de sua personalidade: o bom humor. Sua veia espirituosa constituía, muitas vezes, uma forma de sobrepor-se a tantas adversidades que a vida lhe impôs, de brincar com o que era trágico[4]. Mas não somente isso: era também um dom natural, uma forma espontânea e leve de se comunicar. Ele tinha sempre uma pilhéria, um chiste, um gracejo na ponta da língua para aproximar as pesssoas ou para quebar, muitas vezes, a artificialidade de situações formais e enrijecidas. Ficava-se à vontade do seu lado, num convívio cordial e descontraído.

Mas se, de alguma forma, é possível, apontar-lhe uma qualidade que se sobreponha a todas as demais, ao mesmo tempo em que as englobe, essa seria certamente a sua natural e autêntica vocação de professor. Era um mestre nato, apaixonado pelas suas aulas no Colégio Pedro II e no Instituto de Educação a ponto de vencer até as dificuldades que desde muito cedo a surdez lhe veio trazendo no trato com a turma. Ele mesmo dizia: “Minhas aulas devem ser muito barulhentas, mas todo mundo aprende”. Nunca o vi deixar de ir dar uma aula, por qualquer motivo que fosse. Muito menos jamais se ouviu qualquer reclamação de sua parte por ter, durante longos anos, de cumpri uma puxada carga horária, nas escolas e em casa, com seus alunos do Itamarati. Ao contrário, freqüentemente podia-se ouvi-lo glorificar ro dia que escolheu ser professor. Tinha prazer em explicar, esclarecer, ensinar, no sentido mais nobre da palavra.

Não seria faltar com a verdade dizer que esses louvores que faço – com inescapável sentimento filial, mas também com o objetivo de isento reconhecimento de seus méritos – seriam, com toda certeza, amplamente endossados por todos os que o cercavam no cotidiano (o que pode me desculpar um pouco certa imodéstia), seus sobrinhos, seus amigos, seus alunos, que a ele se apegavam de forma irrevogável e passavam a freqüentar a casa em constante e afetuosa presença.

Sem preconceitos de qualquer espécie, sem dogmatismos, sem certezas intransigentes, Othon era um homem liberal no sentido mais autêntico da palavra. Nunca teve inimigos ou adversários, nem sequer desafetos. Assim se refere ele a essa característica de sua personalidade em relato jocoso[5] que fez de aspectos de sua vida: “O herói é tolerante como... como o diabo (que não o é, mas serve sempre como reforço comparativo), tanto que às vezes dá a impressão de falta de caráter, ou de firmeza do dito: aceita todas as crenças, políticas ou religiosas. Só não aceita a hipocrisia e a intolerância”.

Defeitos, é claro que também os tinha. Ele mesmo reconhecia, por exemplo, que a forma como, às vezes, extravasava um aborrecimento, numa explosão de vitupérios dirigidos ao destino, ao fado, ou ao que chamava de “coincidências perversas” da vida, constituía um comportamento que precisava ser corrigido. Mas ele dava seus gritos e logo se acalmava. A não ser que fosse no tráfego: aí podia haver uma berraria maior com algum motorista barbeiro. Mas em geral, logo vinha o arrependimento: “Que diabo, eu preciso saber me conter!”.

Não é muito fácil distinguir o generoso ser humano que era Othon Moacyr Garcia do grande intelectual que ele foi. A conjugação dessas duas características fez dele um ser tão completo quanto possível, um mestre, no sentido mais amplo da palavra.

 

2. Esboço biográfico

 

Othon Moacyr Garcia nasceu em 19 de junho de 1912, em Martins Costa, atual município de Mendes, no estado do Rio de Janeiro. Filho mais velho de Feliciano Peres Garcia, funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil, e de Júlia Costa Garcia (portuguesa, moradora de Humberto Antunes), foi registrado no Cartório de Paz e Registro Civil do 4º Distrito do Mucicípio de Barra do Piraí por um amigo de seu pai, que se dirigia ao local, a quem Seu Garcia (como era conhecido na região) instruiu que registrasse o garoto com o nome de “Moacyr”. Mas o amigo parece que não gostou muito daquele nome e o substituiu por “Otton” (com dois “tt”). Somente quando precisou do registro para se preparar para o exame de admissão, foi que o Moacyr descobriu que não existia: filho de Feliciano Peres Garcia e Júlia Costa Garcia nascido em 19 de junho de 1912, só havia um: Otton. O “Moacyr” nem sequer consta da certidão. Lá está apenas “Otton”, nem mesmo o “Garcia”. Até o fim da vida, para os conhecidos da região onde passou a infância, Othon foi apenas o Moacyr (Ziziu para os íntimos).

Desse casamento de seu pai, teve mais três irmãs: Hélio, Feliciano e Djalma, sendo este último o único que chegou à idade adulta (hoje, com oitenta e quatro anos, reside em Barra do Piraí e é aposentada da Rede Ferroviária Federal). Helio faleceu de tuberculose quando concluía o curso de Direito no Rio de Janeiro, com vinte e um anos. Feliciano, muito pequeno, morreu de causa ignorada, numa fazendo em Cruzeiro, estado de São Paulo, onde fora morar com um tio. Aos doze anos, Othon perdeu sua mãe, também de tuberculose.

Da segunda união de seupai, com Marieta Rodrigues, o filho mais velho de Seu Garcia teve mais dois irmãos, Celso e Hernane, este muito pequeno acometido de uma paralisia infantil que acabou por arrebatar-lhe a vida aos 4 anos de idade.

Talvez se possa atribuir a essas perdas, sobretudo ao falecimento de D. Júlia quando ele, filho mais velho, ainda mal entrava na adolescência, a causa de algumas traquinagem que andou cometendo na infância. Ele próprio contava que era um moleque muito levado, que deu muito trabalho, sobretudo a sua madrasta Marieta, com quem entrou em freqüentes conflitos, quase sempre para defender o irmão Djalma, submetido por ela a um tratamento excessivamente rigoroso. Conta-se, entre outros entreveros, que um dia, ao encontrar seu irmão de castigo por motivo que lhe pareceu irrisório, Othon empurrou a madrasta sobre um balde cheio d´água, onde ela veio a desabar, com conseqüências drásticas para o moleque tão logo seu pai chegou do trabalho. Marieta era muito jovem, bem mais moça do que Seu Garcia, e mulher de pouca instrução, o que explica, de certo modo, as dificuldades que encontrou para educar os filhos de seu marido. Ao amadurecerem, Othon e Marieta souberam estabelecer relação bastante harmoniosa.

Othon fez os estudos primários em Mendes, com a professora Odette Terra Passos, de quem guardou uma lembrança sempre muito grata e terna. Soube a mestra despertar nele o prazer de estudar e conhecer que o caracterizou vida afora. Falava sempre nela com o respeito que se tem por uma grande mestra.

Mas não foi sem alguns percalços que ele chegou à estabilidade na relação com o estudo. Tento sido internado no Colégio dos Maristas, em Mendes, desentendeu-se com os padres em razão do rigor que estes quiseram impor ao comportamento do guri. Não demorou muito que escrevesse uma carta a seu pai dando-lhe um ultimato: ou ele iria buscá-lo, ou fugiria do colégio. Em trecho de “Biografia de um heroizinho obscuro e sem história” faz um comentário sobre esse episódio: “1924 – O herói quase vira padre, mas rebela-se contra um dito, e a Igreja Católica Apostólica Romana acaba perdendo outro (que talvez não fosse grande coisa, mas de batina não viveria tão preocupado com o vinco das calças)”.

Diante de sua peremptória negativa de voltar para o colégio dos padres, Seu Garcia decidiu contratar o professor José Costa, em Barra do Piraí, para dar-lhe aulas particulares. Mas eis que, um dia, ao cruzar com o professor na rua e lhe perguntar sobre o andamento das lições, Seu Garcia ficou sabendo, para grande espanto seu, que o garoto há muito não comparecia às aulas. Pressionado, o pequeno Moacyr confessou que andava gazetando e aplicando o pagamento do mestre no jogo do bicho. A conseqüência foi que seu pai tomou com ele um trem e veio interná-lo no Rio de Janeiro, no Colégio Arte e Instrução, em Cascadura, dirigido por Hernani Cardoso. Nessa escola, o inquieto Othon finalmente encontrou o ambiente em que iria poder aplicar-se aos estudos. Adaptou-se muito bem, adotou como uma segunda família a família de Hernani Cardoso que, unida, administrava a Escola. Lá fundou e dirigiu os jornais O Progresso e Órion, para as quais escreveu seus primeiros artigos. Aos dezoito anos, em 10 de março de 1930, no mesmo estabelecimento, começa a dar as primeiras aulas a uma turma de 64 alunos da 2ª série primária. Surgia, então, a paixão pelo magistério.

Em 1932, “O herói recebeu outro diplominha (com láurea de melhor aluno da turma durante os cinco anos). Está muito vaidoso. Faz muitos discursos: recebe o apelido de ‘Moleque Tamborim’, personagem de uma peça (Teatro Recreio) que faz discursos por qualquer motivo. O herói funda o Grêmio Castro Alves (que ainda existe) e entra em cena, quer dizer, no palco: o herói é agora artista (canastrão) de teatro.”[6].

Em 1933, torna-se acadêmico de Direito.

Em 1934, ingressa na Faculdade de Odontologia, que abandona em 35, por não se perceber com aptidão para a profissão de dentista. Nesse mesmo ano, torna-se estudante do Curso de Filologia e Literatura Luso-Brasileira da Universidade do Distrito Federal, onde, entre outros grandes mestres, foi aluno de Cecília Meireles, José Oiticica e Sousa da Silveira, por quem nutriria permanente admiração. Presidente do Dieretório Acadêmico da U.D.F. Durante três anos, foi deposto com toda a Diretoria por defender o concurso para ingresso no Ensino Técnico Secundário do então Distrito Federal. Reposto dois meses depois.

Em 1937, forma-se bacharel em Direito. No ano seguinte, obtém licenciatura na primeira turma da U.D.F. e é aprovada em concurso de títulos para lecionar no Colégio Pedro II.

Em 1939, publica o artigo “Machado de Assis e a influência inglesa”. Em setembro parte para os Estados Unidos, onde faria curso de pós-graduação em Literatura e Educação na Universidade da Flórida (Gainesville).

Em 1942, reingressa no Colégio Pedro II e retoma as atividades jornalísticas. Escreve uma série de artigos sobre Literatura Norte-Americana (Poe, Whitman, Emerson, Melville, entre outros) na Revista Brasil-Estados Unidos.

Mas é também nesse ano que começa a sua deficiência auditiva. Tenta, então, deixar o magistério e ingressar na advocacia. Tenta, mas não consegue. Não dá para advogado, e ser professor é mais do que uma necessidade, é uma autêntica vocação. Sua capacidade de comunicar-se com os alunos, sua didática e sua dinâmica superam as dificuldades que a deficiência auditiva lhe impõe, e ele se firma como professor querido e admirado.

Casa-se, em 1945, com Sylvia Cunha de Amorim (depois Sylvia de Amorim Garcia), filha do médico-almirante Arthur Pires de Amorim e de Isabel Cunha de Amorim. Haviam-se conhecido na U.D.F., tinham-se tornado logo muito amigos, mas o casamento só viria a ocorrer alguns anos depois, quando Sylvia também retornava de um curso de pós-graduação nos Estados Unidos. Sylvia e Othon conviveram harmoniosamente por 56 anos, até o falecimento dele, em 1º de junho de 2002. Sylvia faleceu em 28 de agosto de 2004. Tiveram quatro filhos – Cláudia, Eduardo, Guilherme e Ricardo – e 5 netos. Sylvia foi professora de português e latim da rede estadual. Construíram um lar que aglutinava pessoas de variadas procedências: a casa de nº 350 da rua Cosme Velho, onde residiram a partir de 1952, vivia cheia. Era lá que se faziam as festas de Natal de toda a família, lá que se comemoravam animadamente aniversários e casamentos, lá que se reuniam os amigos dos filhos quase cotidianamente para o lanche das quatro e meia da tarde.

Em 1950, Othon é nomeado professor do Ensino Técnico Secundário e passa a lecionar também no Instituto de Educação. No belo e espaçoso prédio onde funcionava (e ainda funciona) a escola, encontra amplas salas de aula rodeadas internamente de quadros-negros, o que lhe possibilita ensinar redação de maneira dinâmica, por meio do exercício vivo de elaboração de parágrafos na lousa, realizado por várias alunas, concomitantemente. Muitas vezes, ele se referiu a essas atividades em sala de aula como uma forma altamente proveitosa de realizar o trabalho didático, já que lhe oferecia condições de comentar e corrigir os textos com a participação de toda a turma, participação esta que ocorria não apenas na detecção dos solecismos e demais imperfeições de construção textual, mas também na reformulação dos trechos defeituosos. “Elas se divertem e aprendem”, dizia ele sempre orgulhoso das suas aulas[7].

Sua estréia em livro ocorre em 1955, com Esfinge Clara – palavra puxa palavra em Carlos Drummond de Andrade, estudo sobre o processo de construção poética do grande poeta brasileiro, a primeira obra de relevo sobre sua poesia.

É nessa época que começa também a dar aulas de preparação para o concurso do Instituto Rio Branco. Eram ministradas, na casa do Cosme Velho, a grupos de três e se caracterizavam por um verdadeiro trabalho de desmontagem e montagem de textos dissertativos, de modo que os alunos pudessem entender como e por que aquilo que lhes parecia bom, claro e objetivo estava, na verdade, deficiente em vários aspectos – mal redigido, obscuro, superficial. E pudessem perceber, no mesmo ensejo, que sua redação podia ser facilmente aprimorada desde que dispusessem de um entendimento básico do processo de elaboração textual. Nesse trabalho, dedicado especificamente ao ensino da redação, Othon foi pondo em prática conceitos didáticos que iriam ser o cerne de Comunicação em prosa moderna, desenvolvendo sua teoria do parágrafo, suas lições sobre planejamento, argumentação etc. Os futuros diplomatas desde logo perceberam que estavam diante de um mestre que muito os podia ajudar, além de um amigo que freqüentemente se tornava conselheiro, e muitas vezes padrinho de casamento.

A vida profissional de Othon Moacyr Garcia foi toda dedicada ao ensino, não só porque essa era sua maior vocação, mas também em virtude do fato de que, desde muito cedo atingido pela surdez, não pôde ele aplicar-se a ocupações que lhe exigissem maior capacidade auditiva. De muitas atividades teve de privar-se: a partir dos trinta e cinco anos, não teve mais condições de assistir a uma peça de teatro ou à televisão, de ir a uma palestra, participar de qualquer debate[8]. Esteve também impedido de exercer qualquer ofício que por ventura exigisse múltiplos diálogos, como as atividades de coordenação ou administrativas. Foi membro da Academia Brasileira de Filologia e da Academia Brasileira de Romanistas, mas pouco pôde participar das reuniões em razão dessa deficiência auditiva. Por dois períodos, deu aulas na Escola Superior de Administração Pública e na FAHUP (Faculdade de Humanidades Pedro II), suas únicas incursões no ensino universitário. Mas vale lembrar que não decorreu daí nenhuma frustação para ele, que estava plenamente realizado com o ensino secundário, onde, aliás, pôde realizar um trabalho mais amplo, que atingia um número maior (Oh! Quantos alunos temos no 2º grau!) e mais diversificado de estudantes.

Em 1963, recebe o Prêmio “Silvio Romero”, da Academia Brasileira de Letras, pelo livro Cobr Norato – o poema e o mito, baseado na obra de Raul Bopp.

Em 1972-74, coordena a tradução e adaptação (editoria) da enciclopédia Nouveau Petit Larousse – en couleurs, que toma o nome de Pequeno Dicionário Enciclopédico Koogan-Larousse.

Terminado esse exaustivo trabalho de conferir, corrigir e refazer milhares de fichas, volta às suas aulas, enquanto prepara novas obras (tinha, entre outros projetos, o de fazer um livro sobre técnica de resumo). Nos fins de semana, em geral, seguia para o sítio de Mendes com a família, onde se dedicava à leitura e à marcenaria, seu passatempo predileto. Era excelente marceneiro bom manejador do serrote, do martelo do alicate e do pincel e bricoleur de primeira. Consertava tudo, desde cano d’água furado até cabo de guarda-chuva quebrado.

Em 1976, recebe a Medalha Oskar Nobiling, da Sociedade Brasileira de Língua e Literatura

Infelizmente, em 1977, ainda com sessenta e cinco anos, lhe ocorre o que chamou de “primeiro acidente oftalmológico”. Estava ele lendo, à noite, na cama, quando sentiu fugir-lhe subitamente a visão do olho esquerdo. A vista foi nublando-se, escurecendo, e logo lhe restaram apenas 5% da visão desse olho. No dia seguinte, correu para o médico, mas a medicina não podia diagnosticar tal sintoma, nem oferecia remédio que lhe desse esperanças de recuperar a antiga capacidade visual. Foi um baque. Nada, no entanto, se podia fazer, era acostumar-se e tocar a vida em frente contando apenas com o olho direito. Mas um mês depois, este também escureceu, na mesma situação e com a mesma rapidez, restando desta vista apenas uma fresta inútil no canto superior direito. Era o “segundo acidente oftalmológico”. Para um homem com alta deficiência auditiva, no mais totalmente saudável, e que se encontrava em plena condição e preparo intelectual, tratava-se de um golpe duríssimo: a interrupção de todo um processo de criação, de toda uma obra que ainda estava por fazer-se, a aposentadoria precoce e injusta. Foi uma fase difícil para ele e para todos os que o amávamos e admirávamos. Os diagnósticos eram contraditórios e disparatados: uns médicos prescreviam altas doses de cortisona; outros receitavam a imediata suspensão do corticóide.

Apesar da tensão emocional em que se encontrava, ele nunca aceitou qualquer acompanhamento psicológico (dizendo que o que lhe faltava era visão e audição, e não psicólogo). E, como não tinha religião, também não pôde aliviar-se com a mística resignação diante da vontate divina.

Teve de abrir mão da continuidade de seu trabalho, suspender novos projetos dispensar centenas de fichas a que não mais podia ter acesso em razão da insuficiência visual. Suportou com dignidade a mudança imposta a sua vida e não se tornou rancoroso, não perdeu sequer o humor. Tentou manter-se vivo e ativo tanto quanto lhe fosse possível.

Não abandonou a carpintaria. Descobriu modos de construir objetos (curiosamente de pequenas dimensões), inventou guias para serrar tabuinhas sem sair do rumo certo, desenvolveu a capacidade de colocar pregos sem esmagar os dedos, achou um jeito de montar e colar partes contando apenas com o tato. Fez coisas que remontavam à sua infância interiorana, como miniaturas de carros de boi, de charretes, de carroças e uma completa composição de trem, com locomotiva maria-fumaça à frente, vagão de carvão e de passageiros a reboque. O trenzinho só não apitava, mas acendia farol, luzes internas dos vagões etc. E havia a estaçãozinha, com bilhetria, postes de luz e demais componentes.

Era a sua luta para enfrentar a cegueira e a surdez, que duraria vinte e cinco anos.

Com aqueles 5% de visão que lhe restaram no olho esquerdo, manteve uma rotina de leitura (muito vagarosa, letra por letra), primeiro contando apenas com uns óculos de lentes grossíssimas, depois também com a ajuda do seu secretário Manoel, que retirava textos e matérias da internet e os ampliava para que ele pudesse ler.

E passou a fazer versos. “Versos” – dizia ele – “não poesia”. Foram milhares de redondilhas (cerca de seis mil) que ele compôs e memorizou, e que podia receitar por horas a fio, com sua voz gutural, numa cadência muito peculiar. Não falhava um só verso, não perdia uma só rima. A não ser em raras exceções, todos os versos eram jocosos, bem humorados, embora muitos cheios de emoções intensas. Foram essas redondilhas um derivativo para um homem cuja mente não podia ficar inerte. Ele precisava entreter-se intelectualmente, encontrar uma forma de manter-se ativo, e também de recordar (os versos eram, em grande medida, relatos de passagens de sua vida, tinham forte dosagem autobiográfica). Mas ele recordava com ironia e humor, sem sentimentalismos dramáticos. A maioria dessas redondilhas foi publicada no livro Farsilira.

Em outubro de 1996 foi homenageado no 1º Encontro Nacional de Filologia da UERJ.

Em janeiro de 1997, a Associação Paulista de Críticos de Artes lhe confere o prêmio de “Melhor Ensaio no Setor Literatura”, por Esfinge clara e outros enigmas, livro que reúne toda a sua obra crítica, publicado em 1996.

Ao terminar o seu relato do “heroizinho obscuro e sem história”, dizia ele: “O herói sai de cena. Cai o pano. Ouvem-se alguns aplausos, muitas vaias e assobios”.

Mal sabia ele que a aclamação foi total, o reconhecimento, as palmas, a ovação.

 

3. A obra

 

Não é extensa a obra de Othon Moacyr Garcia, mas primorosa. Desde o primeiro livro, soube ele cativar a intelectualidade e a imprensa pela originalidade, pelo pioneirismo, pela argúcia e erudição. Manoel Cavalcanti Proença, Eduardo Portella, Evaristo de Moraes Filho, Afrânio Coutinho, Otto Maria Carpeaux, Antônio Houaiss, Paulo Rónai, Massaud Moisés, Wilson Martins, Evanildo Bechara, José Guilherme Merquior, José Paulo Paes, Ivan Junqueira, Dionísio Silva foram alguns dos que manifestaram, pela imprensa, sua aprovação à obra realizada.

Segue abaixo trechos de alguns desses depoimentos:

 

“Othon Moacyr Garcia estréia, parece-me, com um ensaio que ficará entre as melhores coisas escritas sobre a poesia de Carlos Drummond de Andrade. (...)

 

“Mas a freqüencia do processo de associação semântica nos versos de Drummond proporcionou a O.M.G. uma penetração e compreensão do fenômeno, ainda não realizada anteriormente, o que torna o ensaio original e aumenta a importância de sua contribuição a esse gênero de estudos.” – M. Cavalcanti Proença. (Jornal de Letras, fev. – março, 1956).

 

“Uma inteligência e cultura ágeis como a do autor poderia comprazer-se em trabahlos mais audazes e mais genéricos – menos profundos e objetivos contudo” Antônio Houaiss, in “Orelha” de Luz e Fogo no Lirismo de Gonçalves Dias”, Ed. da Livraria São José, 1956.

 

“O livro do Sr. Othon Moacyr Garcia (“Esfinge Clara”) já foi registrado, com inteira justiça, como sinal da renovação dos processos críticos no Brasil.” – Otto Maria Carpeaux. (Correio da Manhã, seção “Livros na Mesa”, 17/11/1956).

 

“A anális e interpretação literária no Brasil, teorizadas umas vezes e outras vezes incompreendidas ou mal servidas, tem agora em Othon Moacyr Garcia um representante seguro, certamente o primeiro. Seguro e penetrante já o mostrara ser em “Esfinge Clara”; penetrante e seguro se confirma agora em “Luz e Fogo no Lirismo de Gonçalves Dias”. (...) Othon Moacyr Garcia vem precisamente retificar juízos, corrigir equívocos, mostrando-nos um Gonçalves Dias sobre o qual ninguém mais terá dúvidas, porque já está desvendado, objetivamente desvendado, em todos os seus segredos e em todos os seus mistérios.” – Eduardo Portella. (Correio da Manhã, seção “Livros na Mesa”, 9-11-1957).

 

“Ninguém até hoje – e Gonçalves Dias tem sido objeto de um sem-número de estudos – penetrou a poesia do autor de “Canção do Exílio” pela análise que dele faz Othon Garcia, através dos seus cacoetes lingüísticos, das suas palavras catalisadoras, da sua vocação de mariposa... Livro de pesquisa, de meditação, fruto de uma atitude serena, eqüidistante do fanatismo e da ojeriza, tornou-se indispensável para qualquer ensaio posterior sobre Gonçalves Dias, pelas veredas que abre, pelas sugestões que apresenta...” Evaristo de Morais Filho. (A Cigarra, seção “O homem e o mundo”, fevereiro, 1957).

 

“Esfinge Clara, de Othon Moacyr Garcia, revela um manipulador seguro das modernas técnicas de análise formal, não só da linguagem simplesmente, mas também dos recursos poéticos e artifícios litrários.” – Afrânio Coutinho. (Diário de Notícias, seção “Correntes Cruzadas”, 15/01/1956).

 

“É talvez o mais sério ensaio literário que se publicou no Brasil em 1955. Seu autor, até então inédito, nada tem a estreante: situa-se claramente na linha da moderna crítica literária...” Waltensir Dutra. (O Jornal, 22/01/1956).

 

“Baseado em exaustivas pesquisas, Othon Moacyr Garcia completa o que foi escrito sobre o problema da comunicação com os resultados da prórpia experiência e meditação, trazendo inúmeras contribuições de grande alcance prático. Talvez a mais importante delas seja a sua teoria do parágrafo, em que vê uma unidade mínima da composição e cujo manejo certo constitui para ele iniciação efetiva na arte de escrever.” Paulo Rónai (“Comunicação planejada”, Jornal do Brasil, seção “Suplemento do livro”, 20/04/1968).

 

“Conhecedor admirável do sistema e das potencialidades expressivas do idioma, Othon Soube aplicar sua fina sensibilidade a dois campos de estudos: a análise literária e a técnica de redação” – Evanildo Bechara (O Mundo Português,  13/06/2002).

 

“Diga-se logo, e sem rebuços: antes de Othon moacyr Garcia – e reconhecemno, entre outros, Otto Maria Carpeaux, Antônio Houaiss, Afrânio Coutinho, Franklin de Oliveira, Eduardo Portella e José Guilherme Merquior – a crítica de poesia entre nós revelava um caráter eminentemente impressionista, muito embora, quando da estréia do autor, em 1955, com o memorável ensaio “Esfinge clara – Palavra-puxa-palavra em CDA”, essa mesma crítica já começasse a dar mostra de certo revigoramento instrumental através da incorporação das novas tendências exegéticas então em voga na Espanha, na Alemanha e nos países de língua inglesa.” – Ivan Junqueira (O globo, 09/11/1996).

 

Claridade

Fogo e luz em Gonçalves Dias

relumeiam à vista arguta

de Othon Moacyr: são magias

dentro da mágica absoluta

Carlos Drummond de Andrade

 

4. Referências

 

4.1. Publicações

 

4.1.1                                                      “Machado de Assis e a influência inglesa”. Revista de Cultura e Técnica (Órgão Oficial da União Universitária Feminina) Vol. III, Nº 3, junho de 1939.

4.1.2                                                      “The Place of Brazil in the American Commonwealth”. Revista interamericana vol. I, nº 2, maio de 1940.

4.1.3                                                      “300 dias numa universidade americana”. Revista do Globo (O recorte não dispõe de data).

4.1.4                                                      “A América se emancipa”. Revista do Instituto Brasil-Estados Unidos, vol. II, nº 1, janeiro de 1944.

4.1.5                                                      “Feições do Romantismo norte-americano”. Revista do Instituto Brasil Estados Unidos, vol. II, nº 5, maio de 1944.

4.1.6                                                      “Quatro novelistas do Romantismo norte-americano”. Revista do Instituto Brasil-Estados Unidos, vol. II, nº 6, setembro de 1944.

4.1.7                                                      “Edgard Poe – anti-romântico” Revista do Instituto Brasil-Estados Unidos, vol. III, nº 7, janeiro de 1945.

4.1.8                                                      “Walt Whitman – bíblico e profético”. Revista do Instituto Brasil-Estados Unidos, vol. III, nº 8, maio de 1945.

4.1.9                                                      “Emerson – anti-romântico”. Revista do Instituto Brasil-Estados Unidos, vol. III, nº 9, setembro de 1945. p. 28.

4.1.10                                                   “Pioneiros e bandeirantes”. Revista do Instituto Brasil-Estados Unidos, vol. III, nº 9, setembro de 1945. p. 92.

4.1.11                                                   “No tempo em que havia guerras...” Boletim do Instituto Brasil-Estados Unidos. Ano IV, nº 31, janeiro de 1946.

4.1.12                                                   “Influência I”. Boletim do Instituto Brasil-Estados Unidos. Ano VII, nº 67, janeiro de 1949.

4.1.13                                                   “Influências II”. Boletim do Instituto Brasil-Estados Unidos. Ano VII, nº 68, fevereiro de 1949.

4.1.14                                                   “Influências III”. Boletim do Instituto Brasil-Estados Unidos. Ano VII, nº 69, março de 1949.

4.1.15                                                   “Influências IV”. Boletim do Instituto Brasil-estados Unidos. Ano VII, nº 70, abril de 1949.

4.1.16                                                   Esfinge Clara – palavra-puxa-palavra em Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro, Livraria São José, 1955.

4.1.17                                                   O socialismo e a educação dos filhos”. Paratodos (seção “O livro científico”), ano I, nº 3, 2ª quinzena de 1956.

4.1.18                                                   Luz e fogo no lirismo de Gonçalves Dias. Rio de Janeiro, Livraria São José, 1956.

4.1.19                                                   De gramática e de compêndios”. Jornal do Comércio, 11/08/1957.

4.1.20                                                   “A janela e a paisagem na obra de Augusto Meyer”. Separata da Revista brasileira de Filologia, Rio de Janeiro, Livraria Acadêmica, 1958, vol. 4, tomos I-II.

4.1.21                                                   “A página branca e o deserto. Luta pela expressão em João Cabral de Melo Neto” Separata da Revista do Livro, do Instituto Nacional do Livro, nº 7, 8, 9 e 10, 1958-1959.

4.1.22                                                   Cobra Norato. O poema e o mito. Rio de Janeiro, Livraria São José, 1962. (Originalmente apresentado como tese ao 1º Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária, realizado em Recife, em agosto de 1960.

4.1.23                                                   Anotações à margem da poesia de Mauro Mota”. Correio da Manhã, 15/08/1964.

4.1.24                                                   Outras anotações à margem da poesia de Mauro Mota”. Correio da Manhã, 05/12/1964.

4.1.25                                                   “Frase caótica e fluxo de consciência”. Correio da Manhã, 06/02/1965.

4.1.26                                                   “João Ternura: herói erótico, mas sem malícia”. Correio da Manhã, 20/03/1965.

4.1.27                                                   Comunicação em prosa moderna – Aprenda a escrever, aprendendo a pensar. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1967. (A obra teve até hoje – de 2006 – 26 edições. Na 3ª edição, o autor corrigiu erros, melhorou e atualizou alguns aspectos. Na 7ª, atualizou e acrescentou novas informações, com a inclusão e/ou reelaboração de vários tópicos e subtópicos).

4.1.28                                                   “Prefácio de Drummond – a estilística da repetição, de Gilberto Mendonça Teles. Livraria José Olympio, Rio de Janeiro, 1970.

4.1.29                                                   “Alguns processos poéticos de Carlos Drummond de Andrade”. In: Carlos Drummond de Andrade. Coleção Fortuna Crítica. Direção de Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1977. p. 202-234.

4.1.30                                                   “Exercício de numerologia poética: paridade numérica e geometria do sonho num poema (“Canção excêntrica”) de Cecília Meireles”. Separata da Revista de Cultura Vozes, ano 72, nº LXXII, outubro de 1978, nº 8.

4.1.31                                                   Esfinge clara e outros enigmas. Rio de Janeiro, Topbooks, 1996. (Reunião dos ensaios estilísticos).

4.1.32                                                   Fasilira: exercícios de rimas em redondilhas joco-sérias, algumas quebradas, outras desastradas, e quase todas com respingos autobiográficos. Rio de Janeiro, Sette Letras, 1997.

 

4.2. Trabalhos inéditos não datados

 

4.2.1                                                      “Sociologismo e imaginação no romance brasileiro”.

4.2.2                                                      “Chove nos campos de Cachoeira” (Resenha crítica do romance de Dalcídio Jurandir).

4.2.3                                                      “Técnicada expressão escrita e oral” (Apostila para o Curso de Aperfeiçoamento de Professores do Encino Primário).

 

4.3. Traduções e adaptações

 

4.3.1                                                      Vick Baum. A árvore que chorao romance da borracha. Rio de Janeiro – Porto Alegre – São Paulo. Edição da Livraria do Globo, 1946.

4.3.2                                                      Charles Morgan. A brisa da manhã. Rio de Janeiro – Porto Alegre – São Paulo. Editora Globo, 1961.

4.3.3                                                      Edmond Privat. A vida de Gandhi. São Paulo, Editora Cultrix, 1961.

4.3.4                                                      Katherine Anne Porter. Árvore florida e outras históirias. São Paulo, Editora Cultrix, 1965. (em colaboração com Geraldo Pires de Amorim).

4.3.5                                                      Pequeno dicionário enciclopédico Koogan-Larousse. Rio de Janeiro, Editora Larousse do Brsil, 1978 (editora da tradução e adaptação do Nouveau Petit Larousse em Couleurs).

 


 

[1] Transcrito da revista Confluência, n° 32 – 2° semestre de 2006. Rio de Janeiro, 2007, p. 11-25.

[2] Utilizamos, para as citações e referências a essa obra, a 18ª. Edição (Rio de Janeiro, Fundação Getúlio vargas, 2000).

[3] Já na “Advertência” à primeira parte do livro, ele enucia esse intuito de fazer uso da gramática como instrumento de trabalho para a construção do texto, e não como um fim em si. Cito apenas mais um trecho, para não ser cansativo: “A análise sintática, praticada como um meio e não como um fim, ajuda o estudante a melhorar sensivelmente a organização da sua frase. Mas, como aproveitá-la sem que os exercícios se tornem, além de inúteis, enfadonhos e áridos, por rotineiros? Supomos que tal seja possível, principalmente no que respeita à subordinação, partindo-se da idéia que se quer expressar para a forma que se procura, isto é, da noção ou impressão para a expressão, e não em sentido inverso, que é o caminho percorrido pela análise sintática segundo o método costumeiro.” (Op. Cit., p. 75)

[4] Seu último livro, Farsilira, que tem como subtítulo “Exercício de rima em redondilhas jocosérias”, escrito num momento de grande aflição pela cegueira que lhe sobrevinha à surdez, é o exemplo maior da sua capacidade de usar o humor para aliviar-se de uma grande tensão. Abaixo, comentamos com mais vagar essa “artimanha” de que fez tão bom uso.

[5] O texto, intitulado “Biografia de um heroizinho obscuro e sem história”, tem oito páginas datilografadas e não está datado.

[6] Trecho extraído de “Biografia de um heroizinho obscuro e sem história”

[7] No final do capítulo “2.7 Definição”, de Comunicação em prosa moderna (p. 244-245), há uma exposição desse método de ensino de redação por meio do quadro-negro, onde se podem transcrever e comentar parágrafos com excelente efeito didático.

[8] “Sendo surdo, o herói dá a impressão de que é sisudo, taciturno, anti-social. Não é; mas não pode parecer diferente. E isso o aflige, o atormenta miseravelmente. Surdo, vive evitando muitas coisas de que gosta (teatro, música, uma conversa longa, displicente, sem rumo, irresponsável, do tipo palavra-puxa-palavra numa mesa de bar, numa roda de chope... Ah! Que saudades!...) [“Biografia de um heroizinho obscuro e sem história”]