A AUTARQUIA EM EPICURO
- UM INSTRUMENTO DE RESISTÊNCIA

Giovane do Nascimento

giovanenascimento@ig.com.br

 

 

O momento vivido no período da desagregação da cidade grega alimentado por guerras entre cidades e a forte pressão da política da Macedônia torna a idéia da Polis, juntamente com seus valores, uma lembrança nostálgica e ingênua. Desse modo, faz-se urgente a independência da ética com relação à política. Na ausência de estabilidade da Polis, o indivíduo procede na busca de um certo "pragmatismo" visando seu bem-estar, não um bem-estar egoístico, mas, antes, com o compromisso ético de preservação de si, o que em última instância representaria uma atitude Universal de preservação da espécie humana. Nesse sentido, a autarquia é o estágio, alcançado através da prudência, de compreensão de que é em si mesmo que se deve buscar a sua regra de conduta e não mais em categorias metafísicas exteriores ao indivíduo. Analogamente, vivemos um momento de bastante desconforto em nossa sociedade, o qual chamamos comumente de "crise de valores", tendo por conseqüência uma "banalidade do mal". Mas, em que consistiria uma ética para o cuidado de si? Reservar-se do mal e preservar-se no mal já estabelecido não seria uma resignação? É possível resistir cuidando do próprio jardim? A crise da racionalidade e dos grandes relatos parece nos impulsionar se não para o descobrimento de novas verdades, ao menos para a redescoberta de velhas verdades.