A expressividade vocálica
em textos de Caetano Veloso
uma abordagem fonoestilística

Alexandre Melo de Sousa
alex-uece@uol.com.br

 

Durante muito tempo, a idéia difundida por Saussure (1995) de que a linguagem era completamente arbitrária ou simbólica foi aceita sem contestações. Hoje, no entanto, é sabido que esta visão é questionável. A linguagem não pode ser inteiramente arbitrária ou inteiramente simbólica, como explicam Callou e Leite (2000), é possível criar uma relação entre sons lingüísticos e os movimentos articulatórios que os produzem, ou seja, há algumas correspondências, neste caso, entre significante e significado. Do ponto de vista da linguagem expressiva, a composição fônica de certas palavras, em alguns casos, pode realçar seu valor em determinado contexto. Assim, como ciência que trata da expressividade da linguagem, diz Câmara Jr. (1996, p. 110), a Estilística dedica-se, entre outras coisas, ao estudo da expressividade dos sons vocais: trata-se da Estilística Fônica ou Fonoestilística. Frente ao exposto, o presente trabalho tem por objetivo precípuo analisar dois textos de Caetano Veloso - Odara e O cu do mundo - sob o enfoque fonoestilístico, buscando destacar de que forma a fisionomia acústica de algumas palavras, ou seja, sua composição fônica, realça seus sentidos. Num sentido amplo, pretendemos mostrar a relação estabelecida entre som e sentido, provando que a linguagem humana não é inteiramente arbitrária ou inteiramente imotivada, como pensava Saussure.