Notas sobre o verbo 'tomar'
como veRbo-suporte no português arcaico

Maria Regina Pante

mrpante@hotmail.com

 

As construções com verbos-suporte têm sido objeto de estudo em várias línguas.  Entretanto não são muitas as pesquisas realizadas em uma perspectiva diacrônica. Chacoto (1997) e Ranchhod (on-line) voltaram-se para corpora medievais distintos, buscando objetivos semelhantes: abordagem de verbos-suporte na fase arcaica da língua portuguesa. Mattos e Silva (2002), em pesquisas com corpora variados, constatou o emprego variável dos verbos ter e haver em estruturas que expressam noção de posse (ter medo/haver medo = temer). Entre os gramáticos da língua portuguesa, esse assunto já era objeto de interesse ou, pelo menos, de destaque. A propósito do verbo haver, João de Barros (1971[1940) faz o seguinte comentário: "Temos mais este verbo [h]ei, [h]ás que é de genero diverso pelo oficio que tem. Quando se ajunta com nome soprimos muitos verbos da língua latina que a nossa não tem: [h]ei vergonha, [h]ei medo, [h]ei frio e outros muitos significados que tem quando ô ajuntamos a nomes substantivos desta calidade." O gramático daria a esses verbos o nome de "verbos neutros". Barreto (1980[1924]), por sua vez, menciona a existência de "verbos conglomerados", ou seja, verbos formados pela junção de um verbo e um acusativo especial. Ranchhod alega que estudos de fases anteriores da língua permitem afirmar que essas construções com verbos-suporte "fazem parte do património sintáctico do português" e, apesar de, em muitos casos, haver diferenças entre o português arcaico e o atual, principalmente no que se refere à ordem dos constituintes (SN anteposto ao verbo-suporte), as construções, via de regra, assemelham-se muito àquelas registradas na fase atual. Esta comunicação apresenta um levantamento parcial de ocorrências do verbo 'tomar' como verbo-suporte em textos arcaicos portugueses.