O que dizem os gramáticos
sobre as [suas] gramáticas e seus impactos
no processo de ensino-aprendizagem de LM

Milene Bazarim
milene_bazarim@yahoo.com.br

 

Um dos riscos que corremos quando nos propomos a estudar a Gramática é o de verificar e apontar o quanto e onde ela se distancia da realidade lingüística dos falantes/escritores ouvintes/leitores de uma dada língua num momento determinado. Além disso, com o advento da Lingüística no século XIX, somos tentados a comparar os conceitos desta com os da Gramática. Guiados por uma noção da ciência como lugar da verdade, acabamos por evidenciar a insuficiência das descrições, instrumentos, métodos e conceitos da Gramática em relação à Lingüística. Percebemos que os estudos sobre a Gramática, geralmente, vinculam-se não ao fenômeno da gramatização, mas a questões relacionadas ao ensino. A polêmica gira em torno do fato de as práticas de ensino gramatical empregadas pela escola serem consideradas coercitivas e pouco contribuírem para o ensino/aprendizagem da língua escrita. Neste trabalho, fomos movidos pelo interesse e desafio de dar voz a alguns  gramáticos da Língua Portuguesa de diferentes épocas. Assim, em vez de tentarmos responder  "O que é Gramática?"; "Qual a importância da Gramática?"; "Qual é o objetivo da Gramática?"; "Por que estudar Gramática?", verificaremos como (e se) os próprios gramáticos respondem tais questionamentos nas introduções/apresentações/cartilhas de suas gramáticas.   Os resultados da nossa análise apontam que os gramáticos, no decorrer do tempo, foram mudando a apresentação de suas obras, explicitando seus objetivos e inserindo as questões de "norma" e "correção". Se está longe um consenso sobre a Gramática entre gramáticos, professores, acadêmicos, o fato é que ela permaneceu, não totalmente sem transformações, como se costuma pensar, e se faz presente na nossa sociedade, influenciando comportamentos não só no contexto escolar.