Raça brasil
editorial, dialogismo e construção de ethos

Roberto Carlos da Silva Borges
borgesrcs@terra.com.br

 

Os discursos têm como característica intrínseca a constituição a partir de outros discursos, sendo, dessa forma,  atravessados pelo discurso do outro. Sob um discurso há outro(s) discurso(s), outro (s) ponto(s) de vista social (sociais). Assim, parte-se do princípio que para constituir sua concepção sobre um dado tema, o enunciador leva sempre em conta a concepção de outro. Quando se está, por exemplo, diante de um discurso feminista, anti-racista ou que defenda qualquer tipo de inclusão, crê-se que aquele discurso só tem razão de ser, de existir, de se construir porque existe um discurso que caminha em sentido oposto ao seu. Esses tipos de posicionamentos, embora sejam sociais, constituem-se como divergentes numa dada sociedade. O discurso pode materializar-se, então, como uma arena em que lutam os pontos de vista em oposição, gerando relações polêmicas uns com os outros.

Por este viés, pretende-se, neste trabalho, refletir, ainda que de forma breve, a respeito dos aspectos persuasivos do gênero editorial, da constituição do dialogismo, resultado do embate das muitas vozes sociais, e da construção do ethos (identidade discursiva projetada através do discurso, com o fim de persuadir o enunciatário e transmitir-lhe credibilidade) que se constrói no editorial da Revista Raça Brasil, que tem como enunciatário principal os afro-brasileiros.