Urdidura liquefeita:
um olhar sobre "O vendedor de passados"

Kellen Dias de Barros
kellendiasb@yahoo.com.br

 

Como a fluidez de um rio. Água que vinha, passa, retém-se em pedra, segue o fluxo e vai adiante, mistura-se, torna-se a outra, reinventa-se a todo tempo. O vendedor de passados, brilhante romance de José Eduardo Agualusa, toma forma d'água, liquefaz-se, segue a tendência pós-moderna de instabilidade e mudança. O livro é líquido, tal qual a modernidade é líquida, como metaforizou Zygmunt Bauman. E não seriam outros passos a seguir na análise desse livro líquido senão a tese líquida do sociólogo polonês.

De acordo com Bauman, "'Líquido-moderna' é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir". A sociedade "líquido-moderna" tem uma necessidade tal de mudança que poderia apresentar não somente a necessidade de renovação do futuro, mas do passado também. E é essa necessidade, talvez sonhada por alguns indivíduos líquidos nesse aquário em que vivemos, que explora Agualusa em O vendedor de passados e que exploraremos nessa comunicação.