Emprego de baixo calão:
uma questão de gênero?

Erika de Freitas Coachman
erikacoachman@hotmail.com

 

Os estudos acerca de polidez se debruçam tradicionalmente sobre as convenções que regulam os intercâmbios humanos de modo a promover a harmonia interacional (Brown & Levinson, 1987). Apesar de constituir um âmbito do saber intensamente investigado, as teorias sobre polidez apresentam pontos ainda não-explorados. Segundo Culpeper (1996), pouco se sabe acerca das estratégias que visam à quebra da harmonia interacional e ao confronto.  Tendo em vista tais pressupostos teóricos, a presente pesquisa procura verificar a reação de leitores ao emprego de baixão calão. Este estudo foi realizado em três países: Alemanha, Brasil e Japão. Além de verificar uma possível influência cultural na reação dos respondentes ao emprego de vulgarismos, esta investigação se propôs a observar se o gênero do enunciador de palavrórios constitui um fator relevante.  Sendo assim, foram feitas duas versões distintas de um texto contendo diversos vulgarismos. Um grupo leu uma versão do texto na qual a personagem do sexo feminino enunciava os palavrórios. Já o segundo grupo leu outra versão do texto, na qual a personagem que utilizava linguagem vulgar era do sexo masculino. Após a leitura do texto, solicitou-se aos participantes que respondessem a questões que buscavam verificar a reação dos respondentes ao emprego de baixo calão. Os resultados obtidos a partir da análise estatística dos dados revelam diferenças no que tange à cultura e ao gênero. Dentre as diferenças relacionadas a gênero, observou-se que vulgarismos enunciados pela personagem do sexo feminino provocam um decréscimo na apreciação do texto. Verificou-se um percentual expressivo de respondentes brasileiros atribuiu, de forma equivocada, o emprego de linguagem vulgar à personagem do sexo masculino. Por meio da realização do presente estudo, foi possível detectar que o gênero pode exercer um papel central na construção de reações ao uso de baixo calão.