Novo acordo ortográfico
– soluções, dúvidas e contradições

Manoel Pinto Ribeiro (UERJ, UNISUAM e ABRAFIL)
m.pribeiro@uol.com.br

 

A atual questão ortográfica começou em setembro de 1911, quando foi adotada em Portugal uma ortografia simplificada, baseada na obra Ortografia Nacional, de Gonçalves Viana, de 1904, que substituiu a chamada ortografia pseudo-etimológica que vinha desde a segunda metade do século XVI e se propunha a imitar as escritas grega e latina. Ainda hoje se vêem alguns vestígios dessa ortografia em nomes próprios como Anna, com dois enes, Jornal do Commercio, fundado em 1853, com dois emes, pharmácia com ph, asthma (asma) etc.

Em 1907, a ABL adotou ortografia simplificada para suas publicações, mas só em 1931 entrou em vigor o sistema de Portugal.

Em 1943, novo Acordo com a Academia das Ciências de Lisboa, complementado por uma reunião em Lisboa, em 1945. Portugal ficou com este último, ao passo que o Brasil se decidiu pelo de 1943.

Em 1971 e 1973, no Brasil e em Portugal, suprimiram-se alguns regras de acentuação. Em 1986, no Rio de Janeiro, com a presença de seis países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, ou seja, Brasil, Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe, com ausência de Guiné-Bissau, a reunião resultou em fracasso, em virtude de fortes reações, principalmente em Portugal.

Finalmente, em 1990, em Portugal foi aprovado pelos sete países um novo Acordo. Passados quase dezoito anos, tenta-se novamente colocar em vigor a nova ortografia.

O PVOLP de 1943 e o VOLP de 1981 e 1998 mantiveram alguns absurdos, como a dupla grafia em palavras como xícara ou chícara. O Volp de 81 e o de 98 aumentaram a relação e trazem as grafias duplas em chuchu e xuxu, xixi e chichi, além de outras. O VOLP de 2004 reparou essa falha, mas, talvez, por um lapso, manteve a dupla grafia em xiita/chiita.

O emprego do hífen apresenta inúmeras dificuldades, pois as instruções são omissas, incompletas e por vezes contraditórias. No novo acordo, ocorrerá a exclusão da regra dos prefixos ab, ad,ob, sob e sub.  Como ficarão, por exemplo, as grafias de sub-base, ad-digital, ad-renal, ab-rogar, ob--repção se a regra foi suprimida?

Com a perda do trema, acreditamos que ficará mais difícil distinguir o u como fonema ou não, como em quilo e tranquilo.

Afirma-se que o novo acordo privilegia o critério fonético (pronúncia), que justifica a existência de grafias duplas como António ou Antônio, bebê e bebé, judô e metrô x judo e metro, e a supressão de consoantes mudas ou não articuladas, como em acto.

Enfim, após 65 anos, vamos utilizar nova ortografia que trará muitas dificuldades para professores, alunos e demais usuários.