REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE ADVÉRBIO
COM BASE NA NOÇÃO DE CIRCUNSTÂNCIA
PROPOSTA POR OTHON M. GARCIA

Mário Eduardo Martelotta (UFRJ)

 

O objetivo da apresentação é desenvolver algumas reflexões teóricas, demonstradas por exemplos reais, a partir da noção de circunstância proposta por Othon M. Garcia. Segundo o autor, tem-se a idéia de circunstância. evocando a origem latina do termo (circum, em redor e stare, estar: o que está em redor ou em torno). Essa noção, portanto, pode ser definida como “a condição particular que acompanha o fato, o acidente que o atenua ou agrava”. O autor afirma ainda que, em retórica, entende-se por circunstância a própria ação (o que?), a pessoa (quem?), o lugar (onde?), o tempo (quando?), a causa (por que?), o modo (como?) e os meios (com que?). No âmbito da sintaxe, entretanto, ação e pessoa deixam de constituir circunstâncias, correspondendo respectivamente ao verbo e ao sujeito (ou ao objeto) e se acrescentam àquelas as noções de fim ou conseqüência, oposição, condição, entre outras. Todas, exceto ação e pessoa, assumem formas de elementos adverbiais (simples ou oracionais).

Algumas reflexões podem ser feitas a partir dessa proposta. Em primeiro lugar, são consideradas circunstâncias dados que parecem apresentar um continuum de abstratização, que vai dos elementos que ajudam a formar o cenário em que ocorrem as ações: lugar, tempo, passando por dados como meio e modo, até atingir noções mais abstratas, como causa, conseqüência, fim, oposição, condição, entre outras, que indicam a direção argumentativa que o falante quer dar ao seu enunciado. Além disso, caracterizar circunstância como “a condição particular que acompanha o fato” ou  “o acidente que o atenua ou agrava” coloca igualmente essa noção no âmbito da subjetividade, já que o que atenua ou agrava um fato não está no fato em si, mas na visão dele que os falantes constroem. Ou mais especificamente, no jogo argumentativo que se estabelece, em situações comunicativas específicas, entre falante e ouvinte. Considerando a linguagem como uma atividade essencialmente dinâmica e a fala (e a escrita) como processos de construção de sentido que se dá de maneira localizada e interativa, não fica difícil compreender que essas noções e o modo como eles são apresentadas nas diversas situações de comunicação vão depender do matiz específico que surge no processo de construção do texto.