Ano 12 - No 56 - Rio de Janeiro, abril-maio e junho de 2008. Publicação bimestral.

     

O FILÓLOGO DE PLANTÃO
(Segunda Fase)

(Suplemento ao No. 56)
Um jornal que teima em buscar a verdade na doce ilusão de encontrá-la.
Publicação do CiFEFiL - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos.
Ano 12 – Nos 56. Rio de Janeiro, Abril – Maio e Junho de 2008.

Acabaram-se as férias, o carnaval, e outras festas. Agora toca a estudar. O CiFEFiL não descansou para que vocês ficassem informados. Assim, basta acessar www.filologia.org.br e ali procurar a seção que lhe interessa para informar-se dos próximos eventos na área de Letras.

     

Ornitorrinco. O ornitorrinco é um animal muito estranho. É mamífero, mas a fêmea põe ovos para se reproduzir, não tem mamilos e as crias sugam o leite através de poros existentes em meio da pelagem da barriga. O ornitorrinco tem bico achatado e cauda também achatada. Tem hábitos noturnos. Vive em cursos de água de partes da Austrália e da Tasmânia.

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Atividades do CiFEFiL
VIII Semana Nacional de Língua Portuguesa
Academia Brasileira de Filologia
Em homenagem ao Prof. Evanildo Bechara
17-22 fevereiro 2008
Instituto de Letras da UERJ

http://www.filologia.org.br/viiisnlp

I Simpósio Nacional de Estudos Filológicos e Lingüísticos
3-7 de março de 2008 (Curso de Verão do CiFEFiL)
Faculdade de Formação de Professores da UERJ

Rua Francisco Portela, 794 – Paraíso – São Gonçalo – RJ.
http://www.filologia.org.br/isinefil

 

Outros eventos do CiFEFiL para este ano
VI Jornada Nacional de Filologia
04 de abril de 2008
http://www.filologia.org.br/vijonafil

XII Congresso Nacional de Lingüística e Filologia
25 – 29 de setembro de 2008
http://www.filologia.org.br/xiicnlf

III Jornada Nacional de Lingüística e Filologia da Língua Portuguesa
05 de novembro de 2008
http://www.filologia.org.br/iiijnlflp

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E-mails pessoais que respondem sem demora

Filologia; língua portuguesa; CiFEFiL:
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Amós Coelho: amosc@oi.com.br

Língua alemã:
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Língua espanhola; língua galega:
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Lusofonia; acordo ortográfico:
Margarida Castro: margaridsc@yahoo.com

Provérbios em várias línguas:
Henerik Kocher: kocher@infolink.com.br

Línguas internacionais; esperanto:
Aloísio Sartorato: ludoviko44@ibest.com.br

Língua Tupi:
Roberto Ribeiro: pb1318113@hotmail.com

     

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos

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Diretor-Presidente:
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O FILÓLOGO DE PLANTÃO

Redator:

Alfredo Maceira Rodríguez
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21350-060 – Cascadura – Rio de Janeiro – RJ
Tel.: (21) 2593-1960
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Primeiro Encontro de Línguas Estrangeiras UNIUBE

Universidade de Uberaba - Campus de Uberlândia - MG
 De 14 a 16 de março de 2008
La comunicación acerca los pueblos.
Communication approaches peoples.
Informante de Língua Espanhola: Carolina Afonso
http://www.uniube.br/eventos/eleu/

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Empréstimos do inglês ao português do Brasil

Na vida diária quase não percebemos que vêm sendo incorporados ao português, principalmente no Brasil, numerosos termos originados no inglês.

Palavras como teste (test) flerte (flirt), esnobe (snob), blefe (bluff), coquetel (cocktail), drinque (drink), lanche (lunch[i]), sanduíche (sandwich), estresse (stress), vagão (waggon), estoque (stock), estande (stand), clube (club), esporte (sport), futebol (football), time (team), gol (goal), basquete (basket), turfe (turf), surfe (surf), suspense (suspense), blecaute (black-out), locaute (lockout), nocaute (knock-out), trailer (trailer), estêncil (stencil) xérox (xerox)[ii] e muitos outros. A maneira como estes termos se comportam na língua portuguesa também varia muito. Muitos, como estes, introduzem um novo significado e utilizam fonemas do português para aproximar-se foneticamente à língua original. Posteriormente, ganham foros de naturalidade e acabam incorporados ao léxico português, sendo representados com grafemas da língua receptora. Os empréstimos que se incorporam por este processo trazem, geralmente, para a língua uma designação especializada. Por exemplo, no campo esportivo, ao qual o inglês desde há tempo vem contribuindo com inúmeras designações, devido, em grande parte, à divulgação e importação de diversas modalidades esportivas de países de fala inglesa. Assim, o substantivo basket, que em inglês denota cesto ou cesta, só penetrou no português com o significado especial da modalidade esportiva. O sentido geral do termo inglês não afetou seu correspondente português (cesto, cesta). O mesmo aconteceu com turf (gramado, relva), surf (arrebentação, espuma das ondas), drink (bebida em geral).

     

1.2.  Empréstimos (decalques)

Outro processo de entrada de empréstimos é o dos chamados decalques. Um sintagma, geralmente composto de mais de um elemento lexical, é traduzido literalmente, produzindo um novo sintagma, que, de início, causa estranheza porque possivelmente não se formasse assim na língua, não fosse a imitação do empréstimo. É o caso de sleeper (dormente)[iii], com a acepção de travessa usada nas ferrovias, hot-dog (cachorro-quente), loud-speaker (alto-falante), high technology ou high tech (alta tecnologia), supermarket (supermercado), credit card (cartão de crédito), convenience store (loja de conveniência), data processing (processamento de dados), sex symbol (símbolo sexual), etc.

1.3.  Uso dos empréstimos pela mídia

Na escrita é norma tradicional grifar, geralmente com itálico, os termos que não pertencem à língua. Assim, até um empréstimo ser incorporado, deve ser escrito dessa forma para advertir o leitor de que não está dicionarizado, porém o que se vem observando cada vez mais é muita vacilação e ausência de critérios quanto a seu uso. Muitos empréstimos recentes do inglês estão sendo usados sem grifo pela mídia[iv], especializada ou não: boy, marketing, merchandising, rush, show, stress, surf e muitos outros.

Em alguns casos observa-se duplicidade de critérios: continua-se usando a forma importada, com a grafia original ou adapta-se ao português: franquia ou franchising, surfe ou surf, estêncil ou stencil, sítio ou site, etc., porém também se encontram os que, talvez por dificuldade de adaptação, continuam usando-se na forma original: best-seller, happy end, happy hour, copyright, layout, impeachment, know how, marketing, performance, shopping market ou shopping, show-room, stablishmenmt etc.

2.4. Empréstimos mais recentes em diversas áreas

Estamos assistindo à incorporação de um grande número de empréstimos empregados de acordo com temas de moda nos Estados Unidos. Assim, na área de alimentação e bebidas, além dos já incorporados como sanduíche, drinque, coquetel, e outros, vêm ganhando terreno fast-food, com o sentido de refeição ligeira; no esporte, ginástica e atividades físicas em geral, entre outros, fitness (bom estado físico do corpo), look (aspecto, aparência), personal trainer (treinador individual), windsurf (modalidade de surfe praticado com a ajuda do vento), board surf (prancha para surfe), piercing (apliques de pequenas peças metálicas em diversas partes do corpo), peeling (determinado tratamento de pele), etc.

A economia e a política estão contribuindo com diversos termos, com os que já nos familiarizamos na mídia: pool (acordo entre empresas do mesmo ramo para formar uma caixa única ou um mercado comum para seus produtos), dumping (sistema de economia que lança no mercado internacional produtos abaixo do preço de mercado para eliminar a concorrência), lobby (pressão sobre os representantes do povo para induzi-los a votar projetos de lei favoráveis), staff (grupo qualificado de pessoas que assistem a um chefe de uma importante organização), background (fundo de uma cena, conjunto de fatos, conhecimentos de determinada situação, etc.).

A maior parte dos itens lexicais importados são substantivos ou verbos, porém alguns adjetivos estão firmando-se, apesar de serem muito diferentes gráfica e foneticamente. Entre eles diet, light e sexy

2.5. Na informática

O rápido e surpreendente desenvolvimento que se vem processando no ramo das comunicações e, particularmente, na área da informática, desenvolvimento praticado originariamente, na sua imensa maioria, por falantes do inglês, fez que com a difusão dos novos avanços tecnológicos se exportassem as correspondentes denominações atribuídas na língua de origem a estes avanços. Às vezes, mesmo existindo termo vernáculo para o item importado, preferiu-se substituí-lo pelo lexema inglês, nem sempre com correção. Nas publicações que tratam das novas tecnologias, é tal a quantidade de palavras e expressões específicas que, se o leitor não estiver familiarizado com a área, terá dificuldade na plena compreensão do texto. Alguns desses termos, no entanto, devido a seu uso intenso, já fazem parte do vocabulário do leitor comum e muitas vezes são publicados sem qualquer tipo de grifo. Vejamos alguns desses novos empréstimos e seu comportamento no português do Brasil

a) Alguns substantivos:

backup = arquivo que contém cópia de segurança de outro arquivo

bit bi(nary dig)it [dígito binário] = quantidade mínima de informação que pode ser transmitida por um sistema

boot = operação que inicia o funcionamento

browser = navegador, programa de busca na internet

byte = seqüência de 8 bits, considerada unidade básica

bug = erro ou mau funcionamento de um programa

chip = pastilha, placa minúscula de material de condução elétrica usada em circuitos integrados

drive = unidade de disco

driver = programa que gerencia a entrada e/ou saída de dados

electronic mail ou e-mail = correio eletrônico

game = jogo, particularmente jogo eletrôni

gate = portão, lugar de entrada de dados, etc.

hacker = gênio em computação que consegue penetrar em outros computadores ou sistemas

hard disk = disco rígido, disco duro

hardware = componentes físicos do computador

homepage = espaço reservado na internet

joystick = dispositivo manual para operar alguns jogos eletrônicos

 



[i] lunch = almoço

[ii] Várias palavras como estêncil e xérox têm origem em marcas comerciais.

[iii] Existem também os termos sinônimos formados por aproximação fonética sulipa e chulipa.

[iv] Mídia é também um empréstimo do inglês que, por sua vez, é um plural latino (meios). A expressão mass media (meios de comunicação de massa) simplificou-se em português com a adaptação deste empréstimo.

[v] Literalmente micro em grego equivale a um milhão de vezes menor.

led = luzinha colorida no computador;

line = linha

link = ligação com outras homepages

modem mod(ulation)/dem(odulation) = dispositivo que converte dados eletrônicos nos sentidos de ida e volta

mouse (camundongo) = dispositivo para executar diversas operações com o computador

no-break (não-interrompe) = dispositivo para manter o fluxo de eletricidade

on-line = ligado (o aparelho), estar na linha

off-line = desligado (o aparelho), fora da internet

output = produção, saída (de dados)

path = caminho (itinerário usado no processamento de dados)

site = sítio, espaço reservado na internet

scanner = dispositivo para cópia de documentos

software = programas e dispositivos com os que opera o computador

web = rede, por antonomásia a internet.

b) Alguns verbos:

attach = anexar (documento com dados)

delete = apagar, remover (material escrito em disco)

download = baixar (material da Internet)

reset = reiniciar (o computador)

c) Algumas siglas:

CD (Compact Disk) = disco compacto (contém material sonoro)

CD-ROM (Compact Disk Read Only Memory) = disco que também pode conter material visual (multimídia)

DVD d(igital) v(ideo) d(ish)= Disco digital de vídeo.

CPU (Central Process Unit) = Unidade central de processamento

HD (Hard Disk) = disco rígido, disco duro, whinchester

PC (Personal Computer) = computador pessoal, micro

URL (Universal Resource Locator) = localizador universal de recursos

WWW (World Wide Web) = rede de toda a teia de âmbito mundial, internet.

2.6. Comportamento dos empréstimos

O português do Brasil tem-se mostrado muito receptivo aos empréstimos da tecnologia, parecendo que são aceitos sem qualquer critério ou obediência a alguma norma, embora muitos deles não sejam necessários, como é o caso de attach (anexar), delete (apagar), game (jogo), gate (portão), link (ligação), reset (reiniciar), site (sítio), etc. Nota-se o esforço para pronunciar estes empréstimos da maneira mais próxima possível do original, embora a dificuldade da língua e a interferência do português ocasionem o aparecimento de muitos hibridismos fonéticos. As confusões semânticas e gramaticais também são muito freqüentes. Entre outras muitas impropriedades fonéticas, ouve-se até em programas promocionais de televisão pronunciar a sigla CD-ROM (Compact Disk- Read Only Memory) como [sede‘rum], pela confusão da sigla ROM com o substantivo inglês room (sala, quarto, espaço, etc.). No entanto, se na pronúncia há alguma preocupação com o termo original, o mesmo não acontece com a morfologia e com o comportamento gramatical do empréstimo na língua de origem, fato que parece ser totalmente ignorado. Assim, palavras como software e hardware, que não possuem plural em inglês, adotam normalmente o morfema –s do plural do português: hardwares e softwares. Algo parecido ocorre com os verbos. O infinitivo dos verbos ingleses caracteriza-se pela anteposição do morfema to, indicador do infinitivo (to delete, to reset, to attach), mas no português informático esses verbos evoluem para deletar, atachar, resetar, etc., pelo modelo do português.

O substantivo mouse (camundongo) só possui em inglês o plural irregular mice (camundongos), mas no português ganha um plural regular (mouses), mantendo o mesmo esquema fonético. Algo parecido ocorre com o chamado genitivo saxônico do inglês, representado nessa língua com o morfema –s: Bob’s, Fred’s, etc., mas que por aqui o vemos muitas vezes confundido com o plural, principalmente quando se trata de siglas: CD’s, HD’s, DVD’s, entre outros.

2.7. Influência do léxico da informática

Na mídia não especializada estão sendo incorporados diariamente itens lexicais provenientes da informática. Assim, já formam parte do léxico do cotidiano termos como micro, digitar, digitalizar, acessar, chat, clicar, deletar, documento, escanear, formatar, e-mail, monitor, disquete, drive, upgrade, e muitos outros. Embora muitos destes termos não sejam totalmente desconhecidos no português, por serem de origem grega ou latina, o significado que adquiriram na informática é novo e foi popularizado através do inglês. Assim temos micro, prefixo grego que entra em muitas composições do português para indicar pequenez[v] termo que, de início, se aplicou a computador pequeno, mas logo passou, por abreviação, a sinônimo de computador. O próprio termo computador, do latim computatore (aquele que faz cálculos), entrou na informática através do inglês computer, porém apenas com o significado de máquina que faz cálculos. O verbo digitar ou digitalizar, do latim digitus (dedo), vêm sendo amplamente usado, até em substituição a datilografar. O substantivo acesso já pertencia ao português, o que não se conhecia, porém era o verbo acessar, que foi moldado no inglês to access. O substantivo documento ampliou sua significação na informática, passando a denotar qualquer texto produzido no computador e conservado no disco rígido.